Já que o 9 de Av acontece no mês de Av, nós devemos também olhar para as dimensões esotéricas do próprio mês para termos um entendimento mais profundo desta época.
Como é explicado no Sefer Yetzirá (o mais antigo livro de Cabala que temos e que é atribuído ao próprio Avraham), cada mês do ano judaico tem uma letra que o representa, e cada letra pode ser interpretada de acordo com sua forma, contornos, valor numérico e seu significado.
A letra que representa o mês de Av é Tet, que é a 9ª letra do alfabeto hebraico e sua guematria (valor numérico) também é 9. Como a primeira letra da palavra tov, o Tet representa o conceito do bem oculto que está aguardando ser revelado. Ele também representa o conceito de gravidez, tanto em sua forma (arredondado e introvertido) e valor numérico (aludindo aos nove meses de gestação).
De fato, uma das metáforas clássicas no pensamento judaico é o de que a gravidez representa um estado de constrição, pois é um período quando o bem oculto está escondido e constrito, até que chegue o momento para que ele nasça e seja revelado no mundo. É vital lembrarmos que a gravidez não existe apenas em um nível físico, mas somos todos – homens e mulheres – considerados como estando constantemente em vários estágios da gravidez, seja ela espiritual, emocional ou intelectual. Assim, a mitsvá de pru u'ruvu (“crescer e multiplicar”) não significa apenas ter filhos fisicamente, mas também nos é ordenado a sermos criativos, usando os talentos que nos são dados por D'us para criarmos dentro deste mundo.
O estado de gravidez é, assim, um momento de constrição no qual nós não somos ainda capazes de manifestar plenamente nosso potencial ou o bem latente ou oculto que está dentro dele. Mas, como geralmente descobrimos, é o trabalho que praticamos enquanto escravizados e limitados que nos permite apreciar plenamente nossa liberdade. Somente através da limitação nós podemos entender o que significa não ter limites. E, assim, a chave especial de nossa celebração, nossa redenção, poderá ser encontrada nesta época de constrição.
O 9 de Av é o dia Tet de Av, o dia grávido do mês grávido. Incrivelmente os Sábios ensinam que o Mashiach nascerá no dia 9 de Av (existem diferentes opiniões se isto será seu nascimento físico ou espiritual). Em outras palavras, nosso redentor será revelado e trará nosso mundo a um estado de revelação no exato dia que durante nosso exílio representou terrível destruição. No meio de nossa destruição, nós temos a habilidade do renascimento.
O mesmo é verdade sobre o dia que marca o início de nosso período de luto, o 17º dia de Tamuz, o dia em que as muralhas de Jerusalém foram rompidas, levando à destruição e ao exílio. Entretanto, existe algo de positivo que pode resultar do rompimento das muralhas. Existe algo de “bom” (aludido pelo número 17 = tov = bom) aqui pode estar também a semente de um processo muito positivo. Isto certamente não só é verdade em um nível físico, mas também psicologicamente, emocionalmente e espiritualmente. Estas barreiras são geralmente mais difíceis de serem quebradas do que até mesmo a maior e mais forte muralha física.
Uma parede é algo que mantém os outros de fora, que protege e esconde o que é guardado por trás dela. Paredes são necessárias, especialmente em um mundo imperfeito. Entretanto, há momentos que precisamos derrubar nossas paredes para podermos experimentar, sentir e crescer de verdade. Se nossas paredes estiverem sempre de pé, então ninguém poderá entrar e nós não poderemos sair; em vez de mera proteção, elas se tornam uma forma de fuga, de separação, uma barreira que se torna uma prisão.
Este é o verdadeiro trabalho que nós devemos fazer, tanto individualmente quanto globalmente. Nós devemos olhar para dentro de nós mesmos e começar a quebrar nossas muralhas. As muralhas do medo, desconfiança, ignorância e ódio. Devemos destruí-las totalmente. Então, quando estivermos no meio das ruínas, quando pudermos finalmente enxergar uns aos outros novamente e quando nada estiver nos bloqueando, nós poderemos começar o processo novamente, tijolo por tijolo. Mas, desta vez, em vez de construirmos uma parede, construiremos uma casa, uma casa que possa ser usada por todos e onde todos sejam bem-vindos.
Com isto, seremos finalmente capazes de revelar a bondade que se manteve oculta por tanto tempo, trazendo significado à confusão e propósito ao caos aparente. Então, não mais experimentaremos aqueles dias de luto, mas de celebração e alegria, pois seremos verdadeiramente redimidos.
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