A festa de Shavuot se aproxima e devemos refetir para nos preparar para ela.

Um pré-requisito para Matan Torá (Outorga Divina da Torá) era “Achdut” - a união do povo judeu, que aconteceu quando o povo acampou em frente ao Monte Sinai. A escritura diz: “Vayichan sham Yisrael”, os filhos de Israel ‘acampou’ – no singular e não “vayachanu” e acamparam. (Shemot 19:2)

Rashi, o comentarista clássico da Torá, explica que o verso está no singular, pois naquele momento o povo judeu estava tão engajado na missão e destino que todos eles eram – “como um homem só de um único coração”.

Não há nada que rompe a união do nosso povo e causa conflitos comunitários mais do que a maledicência, conhecida em hebraico como Lashon Hará (literalmente língua má).

Maimônides no seu livro de Leis de Desenvolvimento Pessoal 7:3 determina que falar Lashon Hará é igual a negar a existência de D’us. Pense em como você reagiria se alguém falasse mal de um filho seu. Podemos até suportar que falem mal de nós, mas ai de quem ousar falar mal de nosso filho... Cada vez que falamos mal de alguém estamos falando mal de um filho de D’us, pois está escrito, ”Banim atem laHashem Elokêchem”, “ Vocês são filhos de D’us, Senhor de vocês”, (Devarim 14:1) Tamanha indelicadeza é possível quando esquecemos que D’us é Onipresente e ouve absolutamente tudo!

Na época do Santuário e do Templo Sagrado, quando as pessoas estavam em nível espiritual mais elevado, a sua maledicência podia causar uma reação externa na forma de manchas na sua pele, nas suas roupas ou nas paredes de sua casa. Na Torá esta aflição é chamada de Tsaraat – lepra, e a pessoa afetada é Metsorá – leprosa. Metsorá é uma abreviação de três palavras: Motsi Shem Rá - alguém que difama um outro.

A Torá descreve três tipos de manchas que podiam aparecer na pele precisando ser diagnosticadas e tratadas por um Cohen, caracterizado por seu amor e benevolência. As três manchas são Seet, Sapachat e Baheret com tonalidades brancas respectivas de lã, membrana de ovo e neve. Há uma grande lição inerente nestas três palavras para nossos tempos atuais, mesmo quando carecemos de nível espiritual para receber estes alertas de nosso comportamento através da pele. Estas três palavras aludem aos motivos que induzem uma pessoa a falar Lashon Hará. Seet vem da raiz etimológica “elevar”, Sapachat “juntar” e Baheret “clarear”.

Às vezes falamos mal sobre alguém porque pensamos que desta forma iremos nos engrandecer ou nos elevar. Às vezes fofocamos, pois é uma maneira de juntar pessoas ao nosso redor, enturmar ou nos tornar popular contando historias e fatos sobre a vida dos outros. Ou pode ser uma atitude de que eu estou com a razão, para mim está tudo claro e certo, da minha idoneidade não tem o que duvidar, então me dou o direito de julgar os outros.

Certa vez quando o jovem Shalom Ber (que se tornaria o 5º Rebe de Chabad) e seu irmão mais velho Zalman Aharon estavam brincando. O mais velho cavou uma vala e colocou seu irmão dentro dela. O pai dos garotos, Rebe Shmuel ouviu seu filho chorando e foi ver o que tinha acontecido. Ao tomar conhecimento do ocorrido, o pai chamou a atenção do seu filho mais velho que por sua vez se justificou dizendo:

“Eu sou mais velho então nada mais certo do que ele ficarem uma osição mais baixa e eu mais alto”.

O pai respondeu: “Se você deseja ser mais alto que seu irmão não o faça fazendo o seu irmão ficar menor. De preferência pegue uma pedra ou uma cadeira e fique em cima dela. Quando você se erguer você não precisará diminuir o outro para ficar mais alto que ele”.

Todos nós somos vulneráveis em cometermos deslizes com a nossa faculdade da fala. Por isto rezamos três vezes ao dia, no final da Amidá, “Senhor, guarde minha língua do mal e meus lábios de falar falsidades”.

Antes de falarmos qualquer coisa compete a nós lembrar a orientação do mestre à uma pessoa que veio lhe contar algo sobre um de seus discípulos: “Peneire a informação pelos seguintes três filtros e se for positivo pode me contar: Você tem certeza que é verdade? É algo positivo? Vai beneficiar alguém se eu souber?”

A qualidade superior do ser humano é o dom divino de poder se expressar. Por isso torna-se muito grave quando o utilizamos de forma pejorativa. Do lado positivo, sabemos que a dimensão boa é bem mais poderosa do que sua contrapartida negativa!

Deduzimos então que se Lashon Hará pode causar tanto prejuízo para quem fala, para quem ouve e sobre quem se fala, imagine o quanto podemos reverter nossa fala em uma açnao positiva se através de nossa línguapronunciarmos palavras de bondade, compaixão e sabedoria!

Que possamos todos de forma unida - como uma só pessoa de um só coração - receber a Torá e interiorizar com alegria os Seus ensinamentos.

Que todos possam desfrutar das bênçãos completas de Hashem, de saúde, sustento e paz e podermos levar adiante a nossa missão coletiva de ser uma luz para as nações. Que juntos possamos transformar o mundo em uma moradia digna para D’us habitar para sempre entre nós.

Chag Shavuout Sameach!