Diretor do Chabad Research Unit, Londres
Uma questão problemática no mundo de hoje é a questão da autoridade. Dentro da comunidade judaica existem desafios frequentes à autoridade dos rabinos e do Beit Din.
Na sociedade em geral há setores da população que rejeitam a autoridade do sistema jurídico. Isso leva à ilegalidade, ao crime organizado, à impunidade e ao caos.
A vinda de Mashiach, por definição, trará uma época em que esta situação será alterada para toda a humanidade. O Povo Judeu cumprirá corretamente as 613 mitsvot, e os não-judeus cumprirão as Sete Leis de Noach1. Todos, em toda parte, serão transformados em cidadãos pacíficos, cumpridores da lei.
Como é que essa transformação será alcançada? Haverá policiais em toda parte certificando-se de que ninguém irá desobeder as leis?
Um comentário do Rebe, de abençoada memória, pode nos ajudar. A leitura da Torá desta semana, Shoftim, começa falando sobre shoftim, "juízes" e shotrim, “polícia". Ela nos ordena a nomear juízes e policiais na Terra de Israel. Na época antes da Era Messiânica não só precisamos de juízes para nos dizer como é a lei, mas nós também precisamos da polícia para tentar se certificar de que ela é aplicada.
Em contrapartida, existe um versículo em Yeshayahu (1:26) que fala sobre a atmosfera da Redenção futura: "Eu retornarei teus juízes, como antes e teus conselheiros, como no início". Este versículo menciona juízes e conselheiros, mas não menciona a polícia. A razão é porque, no tempo do Mashiach, nós não teremos mais policiais para fazer com que a lei seja cumprida. Em vez disso, haverá "conselheiros". Por quê?
Existem dois tipos contrastantes de autoridade: um juiz e um conselheiro, yo'etz. Quando o juiz diz a alguém para fazer alguma coisa, ele ou ela pode sentir que o juiz está preocupado apenas com a Lei, não com o "eu" da pessoa. Daí, as pessoas, muitas vezes se sentem ressentidas contra a autoridade e, por vezes, até se rebelam completamente. Assim, a polícia é necessária para garantir que a lei seja mantida.
Ao contrário, um yo'etz é alguém que nós sentimos ter, em seu coração, interesse em nós mesmos. O conselheiro está preocupado com cada pessoa como indivíduo e seu conselho é algo que sentimos que desejamos seguir, não porque é preciso, mas porque sentimos ser este o melhor para nós mesmos como pessoas.
Na era messiânica, haverá o tipo de liderança expressa pelo conselheiro. As pessoas vão querer seguir o seu conselho porque elas sentirão que, através dele, elas encontrarão a verdadeira realização de suas próprias necessidades pessoais.
Esta liderança personalizada combinará com a do juiz, para que possamos também nos beneficiar da dimensão sublime e transcendente da lei. O conselheiro nos ajudará a perceber que também o juiz se preocupa com cada um de nós como indivíduos.
Qual é a natureza da Redenção futura? Em certo sentido, a descoberta feita por cada um de que ele ou ela está no centro da existência, e que o ensinamento de D'us é dado a ele ou ela como o caminho para a harmonia. Isto transforma o conceito de “má autoridade": ela se torna boa, tanto verdadeiramente em si própria, como também na forma como ela é percebida pelos outros, trazendo paz e satisfação ao mundo2.
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