Quando entramos no novo mês lunar de Elul – o mês do amor e compaixão – é um pouco difícil para alguns sentir beleza e esperança.
Sem dúvida , há muita beleza no mundo. Os seres humanos continuam a demonstrar nobres atos de galanteio. Em muitos cantos do mundo heróis desconhecidos brilham e iluminam seus arredores.
Mas coletivamente estamos vivendo tempos difíceis. A economia é apenas o último dos desafios a nós todos. Muitas pessoas ficaram sem trabalho, muitas estão sofrendo profundas perdas financeiras. Até mesmo aqueles com empregos e dinheiro foram profundamente afetados. O clima é de medo sobre um futuro incerto.
No cenário internacional, uma nuvem profunda paira sobre o globo – não somente para milhões de pessoas no Oriente Médio, mas para populações em praticamente todo hemisfério. O ar tóxico pode acender um novo ataque a qualquer momento, em qualquer lugar. Ninguém sabe quando e onde a próxima crise vai surgir. O Oriente Médio em particular, com a crescente revolta no Irã, permanece como um vulcão prestes a explodir.
Acrescente à equação as ansiedades pessoais e emocionais que as pessoas enfrentam diariamente, as forças psicológicas que nos sugam, e temos, digamos, um “fardo” (em yidish, um “pecale”) para lidar. Muita, muita bagagem, com tanto peso que nos derruba.
O poder compassivo de Elul parece muito distante.
Mas o que mais é novo? Elul nunca foi um processo fácil. A fonte da história e poder desse mês remonta a 3.321 anos, e nos conta a história inteira:
Moshê sobe ao Monte Sinai para receber a Torá. Após 40 dias retorna, somente para descobrir que o povo judeu desafiou a D'us construindo o Bezerro de Ouro. Moshê quebra as tabuas e retorna ao Sinai para rezar para que D'us perdoe o povo pela sua grave traição. Ele passa mais 40 dias no Sinai e seus esforços são em vão. Mas Moshê não desiste. Determinado, ele sobe a montanha pela terceira vez e implora por mais 40 dias. Dessa vez é bem sucedido. Moshê pede não apenas o perdão Divino, mas uma nova profundidade, uma dimensão mais intensa no relacionamento entre D'us e o povo.
Para alegria de Moshê, D'us responde com um presente inusitado. Ele revela os Treze Atributos da Compaixão – treze segredos da “personalidade” de D'us que carregam os mistérios da vida e o poder de consertar tudo que estiver quebrado. Esse terceiro período de 40 dias começou no primeiro dia do mês de Elul e terminou em Yom Kipur. Elul é portanto um mês potente repleto com o poder da esperança, amor e reconciliação. Os místicos nos dizem que os Treze Atributos Divinos da Compaixão irradiam durante o mês de Elul, quando revivemos a experiência de Moshê.
Por analogia, o Alter Rebe explica, no mês de Elul “o Rei está no campo.” O rei tinha viajado; ele tinha deixado seu palácio e ido para uma terra distante fora do seu reino. E agora ele está a caminho de casa. Está para entrar no seu palácio (em Rosh Hashaná e Yom Kipur) e fica fora no campo saudando seu povo. Quando o rei está no campo toda pessoa tem a oportunidade, sem pedir uma audiência, de saudá-lo e pedir tudo que precisa. O rei está sorridente, informal, e está predisposto a conceder todos os pedidos.
Durante o ano inteiro há muitas camadas que ocultam a presença Divina, que escondem sua própria essência de você mesmo; há uma divisão entre seu ser interior e o seu ser exterior – quem você realmente é e o que faz, seu espírito e suas atividades. Em Elul muitas dessas camadas são desfeitas. Você pode acessar, se quiser, seu verdadeiro ser, pois é parte da realidade mais elevada e a essência de toda a existência chamada D'us.
Elul não é um mês simples. É um complexo período no tempo quando temos o poder de encontrar esperança mesmo após a perda, de descobrir amor mesmo após a traição e reconstruir até mesmo depois de termos destruído. Todas as pessoas cometem erros. A questão é se os repetimos ou se os consertamos. Um relacionamento amoroso e de confiança é construído não sobre a perfeição, mas sobre confiança. Em Elul podemos corrigir nossos erros e exigir nosso verdadeiro legado.
A mensagem de Elul é relevante hoje mais do que nunca. Como um mundo assustado, temeroso de um futuro difícil, entra no compassivo mês de Elul, há alguma mensagem mais apropriada? Há muito a temer. Muitos erros foram cometidos. O futuro parece incerto. Mas Moshê desenhou um novo caminho – a estrada para a esperança. Moshê pavimentou novos caminhos, desenhou novas estradas, abriu novas portas, criou novas possibilidades. Tudo para quem? Para nós…
O mês de Elu – e os 40 dias seguintes concluindo com Yom Kipur – nos dá o poder de começar de novo, aprender com o passado, mergulhar mais profundamente e emergir com novas reservas de clareza e força.
Elul desperta nossa fé interior, esperança e crença num futuro melhor. Podemos não ter uma estratégia exata, mas se adotarmos uma atitude resignada, perderemos antes até de começarmos.Todo desafio, todo adversário deve começar com total fortaleza e crença na vitória. Fé que iremos prevalecer. Assim foi há 3.321 anos, e muitas vezes depois, e assim será.
As alegrias de Elul têm o poder de conter os ventos da incerteza. Portanto abra sua janela, respire o ar fresco, sinta o perfume das flores e a brisa de esperança que passa pela sua vida. Não há época melhor do que agora para abraçar essa jornada que nos ajuda a encontrar conforto em tempos incertos, força em meio à adversidade e fortaleza e direção para seguir em frente.
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