Na Porção desta semana da Torá, Shofetim, lemos sobre as cidades de refúgio, às quais um homem que tivesse matado involuntariamente poderia fugir, encontrar abrigo e expiar por suas falhas.

Acabamos de entrar em Elul, o mês no qual esta porção é sempre lida. Elul é no "tempo" aquilo que as cidades de refúgio eram no "espaço". É um mês de refúgio e arrependimento, uma época protegida na qual a pessoa pode afastar-se das falhas de seu passado e dedicar-se a um futuro novo e santificado.

Embora todas as cidades de refúgio devessem estar na Terra de Israel, não estavam todas no mesmo território. Havia três em Israel propriamente dito – a Terra Santa. Havia três na Transjordânia, onde, segundo o Talmud, "o assassinato involuntário era comum." E, na Era Vindoura, "o Eterno teu D'us ampliará tuas fronteiras", três mais serão providenciadas, na terra recém-ocupada.

Isso significa que todo nível de espiritualidade tem seu próprio refúgio, desde a Transjordânia relativamente sem lei até a Terra Santa, e mesmo na Era Vindoura. E isso é verdadeiro, tanto espiritual como geograficamente. A cada estágio da vida religiosa de um homem existe a possibilidade de alguma falta pela qual deve haver refúgio e expiação. Mesmo que ele nunca desobedeça à vontade de D'us, talvez ele ainda não tenha feito tudo ao seu alcance para aproximar-se de D'us. Esta é a tarefa de Elul. É um tempo de auto-exame, quando cada pessoa deve perguntar-se se aquilo que realizou foi tudo o que poderia ter realizado. E caso contrário, deve se arrepender, e esforçar-se tendo em vista um futuro de maiores realizações. Seja um homem de negócios ou um erudito, aquele que viveu no mundo e que passou seus dias sob a canópia da Torá – ambos devem fazer de Elul um tempo de auto-exame e refúgio.

Esta é a maneira de o mundo ocidental fazer Elul – o mês do alto verão – um tempo de afastamento do estudo. O caso deveria ser o oposto. Está acima o tempo todo para auto-exame, um tempo de mudar a própria vida. E o lugar para isso é a cidade de refúgio, na Terra Santa, o que para nós significa, em um lugar da Torá. Cada judeu deveria guardar Elul, ou pelo menos a partir do 18º dia em diante (os últimos 12 dias, um dia para cada mês do ano), ou de qualquer modo os dias em que são recitadas as selichot, e fazer seu refúgio num local da Torá.

Um refúgio é um lugar para o qual alguém foge; ou seja, onde alguém deixa de lado seu passado e constrói um novo lar. Elul é o funeral do passado em benefício de um futuro melhor. E é a preparação necessária para as bênçãos de Rosh Hashaná, as promessas de plenitude e realização no ano vindouro.


De "Estudos da Torá", por Rabi Jonathan Sacks, adaptado das obras do Lubavitcher Rebe