Versículo 14:1
"Sois filhos para o Senhor, Vosso D’us".
Da minha própria carne eu vejo D’us.
- Iyov
Quinta-feira, 19 de junho, 1902, Serebrinka
Já se passou uma hora desde que voltei da visita ao velho parque abandonado e suas velhíssimas árvores – árvores com enormes, profundos buracos em seus troncos, despertando no coração das pessoas o pavor das cobras e escorpiões que lá habitam. As trilhas entre as fileiras de árvores estão repletas de espinheiros e urtigas, e para onde quer que se vá no parque e na praça – há desolação e abandono.
Não admira que o povoado de Serebrinka, e seu parque em particular, me sejam preciosos, pois muitas são as memórias do verão, quando vivíamos em Serebrinka, ligadas a este lugar, como relatei em meus diários daquele ano. Como era gostoso passear pelos caminhos e trilhas onde caminhávamos, sentar-se nos bancos em que nos sentávamos, pois apenas eles podem evocar os detalhes das conversas que ouvi de papai naquela época – as nuances do coração não podem ser capturadas pela escrita. Então, logo após nossa chegada aqui hoje às seis e meia da tarde, ansiei em visitar o parque.
Por uma hora e meia deliciei-me em passear pelo parque, sentando-me nos bancos, olhando para o céu, mergulhado em memórias – até que ouvi a voz de minha filha de três anos, Chana, chamando-me: "Papai, papai, onde está você…? Papai, papai, responda-me…," repetindo seu apelo duas, três vezes.
Seu chamado interrompeu meus pensamentos no exato momento em que eu pensava sobre o discurso de meu pai no Shabat Nassô anterior, intitulado "D’us desceu sobre o Monte Sinai". Neste discurso, papai fez uma metáfora para explicar a diferença entre o fluxo Divino que vem em resposta ao estudo de Torá e cumprimento de mitsvot de uma pessoa, e a resposta de D’us ao serviço do coração da pessoa; a prece.
O serviço de Torá e mitsvot atrai uma resposta Divina comparável ao prazer de um pai com um filho que ajuda nos negócios do pai a fim de aumentar-lhe a fortuna. Mas a resposta evocada pela prece é como a resposta do pai a seu filho pequeno que anseia por ele e chora: "Pai, pai, responda-me…"
Ouvindo o pranto de minha filha, senti dentro de mim que o chamado de uma criança por "pai, pai", desperta um prazer íntimo incomparavelmente maior que o prazer sentido pelas realizações mais impressionantes do filho mais velho. O apelo continuou: "Pai, pai, onde está você? Pai, responda, venha me abraçar."
Segui sua voz e ela abraçou-me, dizendo que sua avó, o avô e a mãe estavam todos esperando por mim para o jantar. Ela também comeria conosco, declarou com orgulho, mas sua irmã mais nova, Chaya Mushka, já está dormindo – na verdade ela dormiu durante toda a viagem de Lubavitch para cá, e nem ao menos sabe que chegamos. Ela riu deliciada…
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