"Toc, toc."
A ponto de engolir o bocado de frango e arroz que acabara de colocar na boca, Josh Levenson empurra rapidamente a cadeira para trás e dirige-se para a porta. Relanceaando um olhar à esposa que corta um pedaço de comida para o filho mais novo, ele pára por um momento e diz em tom sério: "Crianças, comam seu brócoli."
"Din don."
Josh gritou: "Um momento. Quem está aí?" enquanto caminha em direção à porta. Seus filhos ainda não tocaram nos vegetais, permanecem sentados diante de seus pratos de frango grelhado, arroz integral e brócoli cozido no vapor. Confrontados com a ordem de ingerir talos do hediondo vegetal, eles agarram-se à interrupção do jantar como uma oportunidade de evitarem a desagradável perspectiva. Garfos e bocas se mantêm imóveis e todos os olhos se voltam na direção da porta, curiosos para saber quem poderia ter chegado. Mas Josh sabia quem era antes mesmo de olhar no visor da porta. Apenas um tipo de visitante aparecia na hora do jantar – angariadores de tsedacá.
Os judeus sempre apoiaram estas necessidades juntamente com as várias outras causas comunitárias. Como tributo à filantropia judaica, Rambam registra: "Jamais ouvimos falar de uma comunidade judaica que não tivesse uma kupá (uma agência para fornecer meios aos pobres para suas necessidades básicas)" (Leis de Doações aos Pobres, capítulo 7). Mas o povo judeu se destaca ainda mais em sua atitude quanto à doação. Ao ordenar aos Filhos de Israel que doem para tsedacá, D’us suplica-nos na porção desta semana da Torá: "… não endureçam seus corações ou fechem suas mãos contra seus irmãos menos afortunados" (Devarim 15:7). O Ibn Ezra comenta: "Deves confortar seus corações com palavras amáveis."
A tarefa de angariar dinheiro pode ser bem desagradável. Além de receber olhares antipáticos e às vezes frases de duplo sentido, a pessoa encarregada de levantar fundos para si mesma ou uma instituição deve enfrentar todo tipo de clima, indo de casa em casa, esperando conseguir aquilo a que se propôs.
Freqüentemente deve passar pelo desapontamento de não atingir seus objetivos. Estas circunstâncias freqüentemente fazem-no sensível a qualquer tipo de recepção não calorosa. O Ibn Ezra se pronuncia a respeito disso: ser agradável com a pessoa que recolhe doações e alegrar seu espírito é parte da mitsvá de doar para caridade. E ao treinarmo-nos para ser agradáveis, aperfeiçoamos nosso propósito como criaturas 'à imagem de D’us ," porque D’us possui a suprema empatia – para qualquer pessoa que O invoca sinceramente.
Josh virou a maçaneta. "Queira entrar, por favor. Desculpe se demorei para atender. Estava ocupado com as crianças." Os filhos observam atentamente o homem com uma maleta gasta que entra na sala de estar.
Interrupções à hora do jantar não são sempre apreciadas. Mas quando olhadas em perspectiva, a hora do jantar parece ser a mais apropriada para se encontrar coletores de caridade. Com seus olhos, ouvidos e garfos focalizados no homem que entra, as crianças Levenson têm uma chance de digerir muito mais que o brócoli. Prestando atenção na atitude do pai, podem absorver a experiência de como tratar aqueles em necessidade – com dignidade e compreensão. E que nutriente fornecido pelo brócoli poderia ser mais essencial ao seu desenvolvimento?
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