O Báal Shem Tov tinha um jovem discípulo, Mordechai, que tinha um desejo ardente de estudar bruxaria. Obviamente, Mordechai sabia que segundo os ensinamentos judaicos, a prática e estudo de qualquer tipo de feitiço ou bruxaria é totalmente proibido. Porém a má inclinação de Mordechai levou a melhor, e ele ficou convencido de que deveria deixar o ambiente sagrado do Báal Shem Tov e começar uma nova vida.

Mordechai tinha planejado passar um último Shabat com seu mestre, o Báal Shem Tov, antes de deixar a ele e seus companheiros chassidim para sempre.

Naquela sexta-feira à noite Mordechai rezou, cantou, comeu e ouviu as palavras da Torá que brotavam dos santos lábios do Báal Shem Tov. Porém a mente de Mordechai estava totalmente longe dali. Ele já estava muito distante, com o grupo de feiticeiros que tinha contactado e combinado encontrar na manhã seguinte.

De repente, Mordechai sentiu muito calor. Removeu seu chapéu de peles, mas ainda se sentia desconfortável. Desabotoou o colarinho da camisa e tirou o longo sobretudo preto que usava. Ainda assim, estava transpirando profusamente. Mordechai olhou pela janela e viu que o vento gelado do inverno soprava uivando no meio das árvores, e um tapete espesso de neve cobria o chão lá fora. Mas aqui dentro, ele estava suando e sentia como se estivesse a ponto de desmaiar.
"Creio que devo ficar um pouco lá fora" – disse ele ao Báal Shem Tov. "Preciso de ar fresco."

"Fique só um minuto, não mais" – respondeu o Báal Shem Tov – "pois está perigosamente frio lá fora."

Já estava ficando difícil para Mordechai respirar; ele abriu a porta e saiu. "Mais um minuto e eu certamente teria desmaiado" – pensou Mordechai consigo mesmo. De repente, sentiu calor outra vez. Começou a correr e o vento cortante o refrescava. Correu e correu como um louco pelo meio da floresta. As árvores, as estrelas, a lua estavam correndo e rodopiando com ele. E então, de súbito, tudo ficou negro.

Ele acordou num local estranho. Um velho fazendeiro e sua esposa estavam se debruçando sobre ele. "Pensamos que estivesse morto quando o encontramos caído na neve" – disse ele. "Você dormiu por mais de uma semana. Sente-se bem? Gostaria de um pouco de sopa quente? De onde veio?"

Mordechai de nada se lembrava, mas aceitou a sopa. Em poucos dias, já sabia como manejar o arado. Aos poucos, a fazenda começou a mudar; novos trabalhadores foram contratados, novos campos adquiridos e cultivados, e cinco anos depois a fazenda simples estava transformada numa imensa propriedade.

Certo dia, o velho fazendeiro voltou de uma viagem à cidade e mostrou ao jovem um cartaz que pegara no correio. "Estão procurando novos oficiais para o exército" – disse ele – "e creio que você deveria se candidatar; é a sua chance de ser alguém realmente importante. Olhe só para os milagres que fez aqui. Não desperdice sua vida nesta fazenda; está na hora de seguir em frente."
O jovem adaptou-se ao exército como um peixe na água. Passou brilhantemente nos exames de admissão, e após dois anos de treino como oficial, quando irrompeu a guerra entre seu país e a Polônia, ele tornou-se capitão da Cavalaria Real.

Seriam necessários muitos capítulos para descrever as ferozes batalhas e os corajosos feitos de nosso herói, seus inumeráveis encontros com a morte, seu espírito destemido, as decisões tomadas no último instante, e as impressionantes vitórias contra todas as dificuldades. Cinco anos mais tarde, ele já tinha sido promovido à patente de General, e estava sentado sobre seu belo cavalo, passando em revista os dez mil lanceiros montados sob seu comando, quando subitamente, do nada, ele se lembrou… daquela noite, há doze anos, quando deixara a mesa do Báal Shem Tov!

Parou durante alguns minutos, imerso em pensamentos, recordando cada fato com riqueza de detalhes, e todas as emoções que na época tinham passado por sua mente. Voltou a si de repente, e anunciou: "Desmontem! Voltem para suas tendas e se preparem para viajar. Em uma hora daremos início a uma marcha de três dias!"

Três dias depois, já era tarde da noite quando o exército chegou à floresta que circundava a pequena sinagoga do Báal Shem Tov. O General voltou-se para os soldados e gritou:
"Acendam suas tochas!"
A floresta inteira foi inundada com uma luz feérica e bruxuleante. "Desembainhar espadas!" O tinir das espadas e o brilho das lâminas estavam em toda parte.

O General desmontou, aproximou-se da pequena sinagoga, segurou a espada e começou a bater com ela na porta fechada. "Abra em nome do Rei! Veja o que acontece com um chassid que abandona o sagrado Mestre!"

Ninguém respondeu, mas ele ouviu alguém falando dentro da casa, e ficou furioso. Enfiou a espada no chão e irado, começou a bater na porta com os dois punhos, gritando: "Abra! Abra para um General do exército do Rei!"

Lentamente, a porta se abriu, o Báal Shem Tov colocou a cabeça para fora e disse: "Mordechai, você ficou fora por quase cinco minutos! Quer ficar doente? Entre agora mesmo!"

"Cinco minutos?" esbravejou o General. "Olhe para minhas tropas e me fale sobre cinco minutos!" Voltou-se e… não havia ninguém ali. Até seu cavalo tinha desaparecido! O vento uivava por entre as árvores e uma camada alta de neve cobria a floresta silenciosa. Até seu uniforme e a espada tinham sumido! Ele vestia as mesmas roupas que usara há doze anos… fora tudo uma ilusão.
Mordechai reentrou humildemente na sinagoga e no mundo do Báal Shem Tov, percebendo que nenhuma mágica ou bruxaria era tão forte como os poderes do Báal Shem Tov, que derivava da santidade.