Ao nível pessoal, teus portões refere-se aos sete portões sensoriais da pequena cidade que é o corpo humano, seus sete pontos de contato com o mundo exterior. Uma pessoa deve apontar juízes e executores da lei mentais sobre seus olhos, ouvidos, narinas e boca, para julgar, ponderar, e filtrar os estímulos desejáveis e construtivos dos negativos e destrutivos.

Rabi Shabtai HaCohen Sobre o Versículo 16:18 do Deuteronômio

Quem é o chefe

Um chassid certa vez procurou Rabi DovBer, o "Maguid" de Mezeritsh. "Rebe," disse ele, "existe algo que não entendo. Quando o Todo Poderoso nos ordena fazer algo ou proíbe um determinado ato, entendo. Não importa quão difícil possa ser, não importa o quanto meu coração deseja fazer a ação proibida, posso fazer o que D’us deseja ou abster-me de cometer aquilo que é contra Sua vontade. Afinal, o ser humano tem livre arbítrio e pela força de vontade pode decidir o que fará e assim fazê-lo, não importa o quê. O mesmo se aplica às palavras. Embora de certa maneira mais difícil de controlar, entendo que está em minhas forças decidir que palavras sairão de minha boca e quais não.

"Mas o quê não entendo são aqueles preceitos que governam os assuntos do coração; por exemplo, quando a Torá nos proíbe de sequer acalentar um pensamento que seja destrutivo ou errado. O que pode fazer a pessoa quando estes pensamentos penetram sua mente por si mesmos? Pode alguém controlar seus pensamentos?"

Ao invés de responder às dúvidas do chassid, Rabi DovBer despachou-o para a aldeia de Zitomir. "Vá visitar meu discípulo, Rabi Zev," disse. "Apenas ele pode responder sua pergunta."

A viagem foi feita no apogeu do inverno. Durante semanas, o chassid seguiu seu caminho pelas estradas que serpenteavam através das florestas cobertas de neve da Ucrânia. Meia-noite há muito tinha passado quando o abatido viajante chegou aos degraus da casa de Rabi Zev. Para sua agradável surpresa, havia luz nas janelas do escritório do erudito. De fato, a janela da casa de Rabi Zev era a única acesa em todo o povoado. Através de uma fresta nas venezianas, o visitante pôde ver Rabi Zev curvado sobre os livros.

Porém sua batida à porta não teve resposta. Esperou um pouco, depois tentou novamente, com mais força. Mais uma vez, foi ignorado por completo. O frio começava a infiltrar-se em seus ossos. A noite passava, e a cena que se via era tão incrível quanto verdadeira: o visitante, com nenhum outro local para ir, continuou batendo na madeira congelada da porta de Rabi Zev; este, a escassos metros dali, continuava a estudar próximo à lareira, aparentemente ignorando os apelos que ecoavam na noite congelante.

Já era quase dia quando Rabi Zev levantou-se da cadeira; abriu a porta e saudou calorosamente o visitante. Acomodou-o perto do fogo, preparou-lhe uma xícara de chá quente, perguntando sobre a saúde do Rebe. Conduziu o hóspede então – mudo ainda pelo frio e a incredulidade – ao melhor quarto da casa para que descansasse os ossos exaustos.

A recepção calorosa não diminuiu na manhã seguinte, nem na próxima. Rabi Zev era o mais solícito dos anfitriões, atendendo às necessidades do hóspede de maneira exemplar. O visitante, por sua vez, era um convidado modelo, respeitoso e cheio de consideração para com o erudito de mais idade. Se alguma apreensão ainda pairava sobre a "recepção" da outra noite, ele a guardava para si mesmo.

Após desfrutar da soberba hospitalidade de Rabi Zev por vários dias, o visitante havia se recobrado o suficiente da jornada e das dúvidas para apresentar suas perguntas. "O objetivo de minha visita," disse ele ao anfitrião certa noite, "é fazer-lhe uma pergunta. Na verdade, o Rebe mandou-me aqui, dizendo que apenas o senhor poderia responder-me satisfatoriamente."

Começou a esboçar seu problema, como o fizera anteriormente ao Maguid. Quando terminou, Reb Zev assim falou: "Diga-me, meu amigo, um homem é menos dono de si mesmo do que é de sua própria casa?

"Veja, dei-lhe a resposta na própria noite de sua chegada aqui. Em minha casa, sou o chefe. Aquele a quem desejo receber, permito que entre; aquele a quem não desejo receber, não permito."