Ao iniciarmos a leitura do quarto dos cinco Livros de Moshê, Bamidbar, devemos prestar atenção num fenômeno muito interessante do calendário. O feriado de Shavuot nunca ocorre antes que seja lida a porção de Bamidbar da Torá. Por que? Tosafos afirma (no Tratado do Talmud Megilah 31b) que isso não é mera coincidência. Foi um arranjo instituído por nossos sábios para assegurar que o feriado de Shavuot, um dia no qual a vitalidade das árvores frutíferas é julgada nas cortes celestiais, não deveria ficar justaposta à ultima porção no Livro de Levítico, que relata as horríveis maldições que poderiam sobrecair no povo judeu.
Rabi Moshe Feinstein sugere outra razão que também serve para ajudar-nos a relacionar melhor e avaliar a essência do feriado de Shavuot. Ele enfatiza que Shavuot, que assinala o aniversário da Revelação de D’us e Sua Torá ao povo judeu no Monte Sinai, pode ser bastante impressionante para alguém com limitada capacidade de compreender ou estudar Torá. Afinal, quando uma pessoa assim fica sabendo do espantoso alcance da Torá e sente que, não importa o quanto tente, consegue apenas arranhar a superfície em seu entendimento pessoal dos textos clássicos, não é natural que esta pessoa pergunte-se que conexão tem realmente com este grande momento histórico no Sinai? Pode uma pessoa assim, sentir, mesmo que minimamente, o êxtase espiritual de ser um membro da nação à qual D’us concedeu Sua Torá? Seria errado ou impróprio para este indivíduo perguntar-se se a inspiração a ser extraída do feriado de Shavuot está reservada ao erudito, enquanto os menos instruídos e iniciantes deveriam apenas assistir com curiosidade e respeito, do lado de fora?
A resposta, afirma Rabi Feinstein, é expressa quando lemos a porção Bamidbar da Torá, como precursora de Shavuot. Na Parashat Bamidbar, Moshê é encarregado de contar o povo judeu, e o propósito deste censo é trazer à luz a idéia de que os judeus agora são uma força espiritual unificada e coesa, cuja missão coletiva é cumprir a palavra de D’us. Todos na idade certa são contados. Todos ficam perante D’us igualmente, cada qual com seus talentos e habilidades específicos. A vida de cada judeu tem um propósito precioso aos olhos de D’us se ele ou ela emprega a Torá como seu plano de vida.
O Talmud (Tratado Baba Batra 10b) relata um incrível incidente. Rabi Yossef, filho de Rabi Yehoshua, caiu gravemente enfermo e ficou em coma profundo. Por fim, Rabi Yossef acordou do coma e seu pai, sentindo que ele tinha passado por alguma experiência fora deste mundo, perguntou-lhe o que rahavia sentido. Rabi Yossef respondeu: "Vi que as pessoas importantes recebem cargos mais baixos no Mundo Vindouro e as pessoas menos significantes receberam posições de destaque."
Rabi Yisrael Salanter explica que neste mundo, consideramos nossos rabinos, eruditos e autores de obras da Torá como pessoas especiais e de grande valor, ao passo que o judeu simples é relegado a um papel mais insignificante na formação do destino da comunidade judaica. Mas no próximo mundo, o Mundo da Verdade, tem início uma realidade esmagadora e assombrosa. Somos julgados não com base em nossas realizações, mas sim de acordo com nossa capacidade. Se alguém que desfruta de uma posição proeminente neste mundo deixou de usar toda a capacidade que D’us lhe deu, então ele, de certa forma, falhou, e não gozará da mesma posição de proeminência que o simples judeu iletrado que esforçou-se ao máximo para entender até mesmo uma página do Talmud.
Ao celebrarmos o lindo dia de Shavuot, podemos todos nos rejubilar perante D’us, com a percepção de que, servindo-O fielmente e sendo verdadeiros com nosso chamado histórico não significa tornar-se um super-herói. Ao contrário, requer apenas que usemos a capacidade e o potencial com que D’us nos abençoou.
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