Moshê continuou seu discurso de reprovação: "Embora vocês tenham enfurecido D’us repetidamente, Ele os perdoará – se ao menos retornarem a Ele e cumprirem Suas mitsvot.

"O que D’us pede de vocês? Apenas que O temam. Se O temerem, conseqüentemente procurarão seguir Seus caminhos bons e misericordiosos; vocês O amarão; O servirão de todo coração; e cumprirão Seus mandamentos."

Por que Moshê descreveu o temor a D’us como algo fácil de adquirir: "O que D’us pede de vocês é apenas que O temam!" O temor a D’us não requer um esforço mental considerável?
O episódio que se segue ilustra que, na verdade, temer D’us não é fácil.

Quando R. Yochanan ben Zakai jazia em seu leito de morte, seus alunos entraram e lhe pediram: "Rebe, abençoe-nos!"

Ele os abençoou: "Que seu temor a D’us seja sempre tão grande como seu temor ao próximo!"

"Mas professor," protestaram eles, "não deveria nosso temor a D’us ser superior ao temor ao próximo?"

Replicou ele: "Quisera que temessem a Ele tanto quanto temem os seres humanos! Quando alguém comete um pecado, preocupa-se que alguém possa estar observando seu ato, mas não teme que D’us testemunhe sua transgressão."

Qual o Significado de "Temor a D’us?"

De acordo com Chinuch (130), somos ordenados a estar conscientes de que D’us pune o ser humano por todos e cada um de seus pecados. Quando uma pessoa está prestes a pecar, inicia-se uma batalha contra a tentação, visualizando os castigos de D’us.

Um nível mais elevado de "temor a D’us," a que a pessoa deveria aspirar, é sentir reverência na presença de D’us, evocada ao se contemplar a grandeza de D’us e a própria insignificância. O respeito à vontade de D’us faz com que a pessoa tenha medo de pecar (Mesilas Yesharim, Charaidim).

Entretanto, mesmo a pessoa que conseguiu o mais elevado grau de respeito pode às vezes ser forçada a utilizar este "medo da punição" – em situações em que suas más inclinações o atacam fortemente. Moshê atingiu o nível de: "Sempre visualizo D’us perante mim."

Esta é uma conquista superior, pois enquanto o medo do perigo é um instinto natural de sobrevivência, o temor a D’us – que não é tangível nem visível – é essencialmente estranho à psicologia humana. As mitsvot da Torá auxiliam um judeu a usar seu intelecto a se impregnar de temor a D’us. Se o conseguir, atingiu o verdadeiro objetivo da vida.

Apesar disso, Moshê mostrou temor de D’us como algo fácil porque ele próprio atingira tamanho grau de auto-controle que o temor a D’us lhe era natural e não requeria esforço. Na verdade, D’us sabe quanta força de vontade e esforço são necessários para que se atinja o temor a D’us. Não há nada que Ele considere mais que um ser humano temente a Ele.

Um embaixador estrangeiro viajou ao oriente, para transmitir a um certo ministro as saudações amigáveis de seu governo. Em sua valise, levava valiosos presentes – enormes pedras consideradas preciosas em seu país.

Ficou espantado quando o ministro, ao receber as jóias, nem sequer lhes dirigiu um olhar! Passado algum tempo, o embaixador percebeu seu engano: o país era repleto com as tais pedras a ponto de poderem ser compradas em cada esquina a preço de banana!

Refletindo seriamente sobre qual presente o ministro apreciaria, o embaixador decidiu enviar-lhe uma écharpe bordada à mão, cujos pontos finos e precisos, além do desenho intricado, requeriam um grau de habilidade dominada apenas por um seleto grupo de artesãos em seu país. Quando ofereceu este presente, o ministro ficou encantado, e agradeceu profusamente ao visitante. Assegurou ao embaixador o quanto valorizava aquele veste sem par, que pretendia usar apenas em ocasiões especiais.

Da mesma forma, de todas as coisas que a pessoa adquire ao longo da vida, D’us aprecia muito a quem o teme.

Por que D’us não se impressiona com as conquistas materiais da pessoa – como sua fortuna ou sucesso na carreira?

A resposta é que aquelas "conquistas" não são na verdade frutos do homem, mas frutos de D’us. Apenas D’us pode conceder ao homem a capacidade para ser bem-sucedido, e decreta se a pessoa irá ou não ter realmente sucesso.

Há apenas uma área na qual o homem ao utilizar seu livre arbítrio, seu esforço é reconhecido por D’us: se vai ou não temê-Lo. Por isso, D’us armazena todas as decisões corretas que a pessoa toma sobre si.