Côrach, com sua língua ferina, persuadiu-os que era injusto que apenas uma tribo realizasse o serviço Divino, enquanto outras eram excluídas deste privilégio. Em comparação a Côrach, que procurou a discórdia por motivos puramente egoístas, esses duzentos e cinqüenta homens acreditavam sinceramente que o povo judeu, como um todo, se beneficiaria se todas as tribos pudessem atingir a grandeza derivada da realização do serviço Divino.

Vestidos em trajes azuis, Côrach, Datan, Aviram e os duzentos e cinqüenta homens apresentaram-se descaradamente perante Moshê e Aharon. Côrach, o porta-voz, dirigiu-se a Moshê como se segue: "Você nos ordenou a atar um fio da cor turquesa às nossas roupas. Fizemos melhor; confeccionamos uma roupa inteiramente turquesa. Diga-nos, tais trajes ainda requerem um fio da cor turquesa ou não?"

O plano de Côrach era o seguinte: Se Moshê respondesse de maneira negativa, rebateria: "Da mesma forma como uma roupa turquesa não requer um fio da cor turquesa, assim os judeus são santos e não necessitam de Aharon e dos cohanim para representá-los perante D'us." (Obviamente, essas palavras eram falsas e fruto de mera provocação. Em realidade, Côrach acreditava que os judeus precisavam ter um Sumo-sacerdote, ou seja, ele mesmo.) Por outro lado, se Moshê respondesse que um traje turquesa requer um fio da cor turquesa, Côrach ridicularizaria esta mitsvá, argumentando que Moshê a inventou.

Moshê replicou à questão de Côrach: "Ouvi de D'us que mesmo se um traje for feito inteiramente da cor turquesa, não obstante ainda requer um fio da cor turquesa."

Neste ponto, Côrach atacou a mitsvá de tsitsit, "decidindo" que roupas turquesas não necessitam de fios extras da cor turquesa. Então, começou a denegrir todas as mitsvot.

"Permita-me formular outra pergunta" - continuou Côrach. "Se numa casa há rolos da Torá, é necessário afixar uma mezuzá na porta?" "Sim, é necessário" - respondeu Moshê.

"Mas os Rolos de Torá são melhores que uma mezuzá!" - replicou Côrach. "Eles não apenas contêm o Shemá, mas também toda a Torá. Então por que é necessário afixar uma mezuzá na porta?"

Por fim, Côrach afirmou: "Não creio que D'us tenha te dado todas as mitsvot. Você as inventou. Ouvimos apenas os Dez Mandamentos no Monte Sinai. Nunca ouvimos de D'us todas essas leis sobre terumá, maasser (dízimo), chalá ou tsitsit. Você, Moshê, as inventou a fim de governar-nos e trazer honra a seu irmão Aharon!

"O que o povo judeu ganhou sob sua liderança, Moshê e Aharon? Vocês tornaram a vida mais difícil do que era no Egito. Pagamos terumá aos cohanim, maasser aos leviyim, e damos vinte e quatro presentes diferentes aos cohanim. Além disso, a cada ano quinze mil de nós perecerão no deserto. Vocês abocanharam altas posições demais. Você, Moshê, usurpou a realeza. Por que também indicou seu irmão como Sumo-sacerdote? Não têm o direito de proclamarem-se cabeças de toda esta comunidade, cujos membros são todos santos, e em cujas mentes reside a Shechiná (Presença Divina)."

Côrach e seus seguidores estavam prontos a apedrejarem Moshê e Aharon.

Moshê prostrou-se sobre sua face. Significava que diminuiu-se, sentindo-se mais humilde de todos, e não afirmava autoridade sobre outros, como reivindicava Côrach. Respondeu dócil e humildemente a Côrach: "Não persigo o poder, tampouco meu irmão Aharon procura ser o Sumo-sacerdote."

Aharon, que estava ao lado, não refutou os vis argumentos de Côrach com uma palavra sequer. Permaneceu em silêncio durante a disputa inteira, como se reconhecesse humildemente que Côrach era realmente mais merecedor a ser o Sumo-sacerdote que ele próprio (e ele apenas ficava no cargo, pois obedecia a D'us).

Moshê respondeu a Côrach e sua assembléia da seguinte maneira: "Vocês reivindicam que eu procuro grandeza, e que indiquei Aharon como o Sumo-sacerdote da nação por ser meu irmão, e que tornei seus filhos cohanim por serem meus sobrinhos. Mais que isso, você alega que escolhi os leviyim para o Serviço no lugar dos primogênitos por motivos pessoais, sem o comando Divino. Finalmente, você afirma que eu mesmo decidi que os leviyim devem ser subservientes a Aharon (em vez de também serem cohanim).

"Deixem-me explicar-lhes, primeiro, que estão cometendo um erro básico. D'us não pediu minha opinião sobre quem deve ser escolhido para cada ofício sagrado. Da mesma forma como Ele separou o dia da noite - assim Ele separou certos judeus para serem santos para Ele, e realizar Seu Serviço. Do mesmo modo como Ele distinguiu o povo judeu das nações, assim Ele distinguiu Aharon entre o povo judeu como 'Santo dos Santos,' e os cohanim mais santos que os não cohanim. Não podemos mudar Seu sistema mais que podemos mudar o dia em noite, ou transformar a noite em dia.

"Sou solidário ao seu desejo de que muitas pessoas de todas as tribos realizassem o Serviço. As nações do mundo, de fato, têm muitos sacerdotes pois idolatram muitas divindades, e cada divindade tem seu próprio templo e sacerdote. Nós, judeus, contudo, somos diferentes. Reconhecemos Um Único D'us, e todos acreditamos em Uma só Torá. D'us ordenou que haja apenas um único Sumo-sacerdote: aquele que Ele escolheu para realizar o Serviço. Ele indicou uma única tribo, a tribo de Levi, para a kehuná e a leviyá. Por conseguinte, é impossível para todos vocês, que estão aqui reunidos, tomarem parte no Serviço do Santuário."