Era Rosh Hashaná na sinagoga do Báal Shem Tov. Em meio às preces, uma caixa de rapé caiu acidentalmente do bolso de um dos chassidim. Ele curvou-se para apanhá-la e, sem pensar, tirou uma pitada de rapé e aspirou. O homem sentado perto dele viu o episódio e um pensamento acusador passou-lhe pela mente: “Como ele pôde fazer algo tão mundano aqui na sinagoga do Báal Shem Tov, num dia tão sagrado?”

Por meio de sua sagrada intuição, o Báal Shem Tov percebeu o que ele pensava, e entendeu as repercussões que este pensamento teria no Alto para o homem que tinha cheirado rapé. Durante todo o restante de Rosh Hashaná o Báal Shem Tov tentou anular os efeitos do pensamento, mas em vão, O homem ficou de pé perante a Corte Celestial durante todo o mês sagrado de Tishrei.

Finalmente, durante as preces noturnas do último dia de Sucot – Hoshana Raba – o Báal Shem Tov conseguiu assegurar um acordo para o acusado. Se o próprio acusador conseguisse encontrar algum mérito no cheirador de rapé, este seria perdoado. O único problema seria que isso não deveria ser revelado a nenhum dos dois homens.

Quando o Báal Shem Tov entrou na sinagoga naquela noite, percebeu que o chassid do pensamento crítico estava se preparando para rezar, mas parecia incapaz de concentrar seus pensamentos, e caminhava de um lado para outro. Ele estava pensando: “Pergunto-me por que o tabaco, algo que as pessoas gostam de fumar e inalar, foi apresentado ao mundo. Imagino que seja porque existe algum benefício a ser tirado dele.” Assim que esse raciocínio entrou em sua mente, teve uma sensação de culpa e tristeza por ter julgado tão criticamente as ações do seu amigo em Rosh Hashaná.

Em Rosh Hashaná era costume o Báal Shem Tov ficar à disposição dos chassidim e responder suas perguntas, que eles preparavam com antecedência. Naquela noite, o chassid acusador lhe perguntou: “Existe algum benefício proporcionado por cheirar tabaco?”

O Báal Shem Tov respondeu com uma pergunta: “Quais são seus pensamentos sobre o assunto?” O chassid contou ao Rebe o que tinha pensado na noite anterior, que deveria haver algum benefício nestas substâncias.

“Tenho uma sensação de que há mais do que você está me dizendo,” respondeu o Báal Shem Tov. “Diga-me o que mais está pensando.”

O chassid relatou todo o incidente do rapé que tinha ocorrido em Rosh Hashaná. “Quando vi meu amigo extrair tanto prazer da pitada de rapé num dia tão sagrado, imediatamente o condenei, pensando que deveria ser um sujeito muito rude. Mas quando, na noite passada, comecei a pensar que deveria haver alguma boa qualidade naquela cheirada, comecei a me arrepender dos pensamentos negativos.”

O Báal Shem Tov então estava livre para contar-lhe qual reação seus pensamentos acusadores haviam causado no Céu. “Seus pensamentos despertaram um tumulto Acima, e uma séria acusação foi feita sobre seu companheiro. Felizmente, sua mudança de atitude reverteu aquele decreto, mas você deve resolver cuidar mais dos seus pensamentos no futuro.”