Faz 30 anos que minha família deixou a antiga União Soviética e chegou aos Estados Unidos, deixando um mundo que parecia familiar e um tanto confortável na esperança de um futuro melhor. A experiência foi um marco heróico para mim, para nunca ser esquecido.

À frente da minha família estava uma longa jornada.

Quando ouvi a história do êxodo do povo judeu do Egito, senti uma emoção imediata. Imaginei a água milagrosamente se dividindo à frente deles as emoções que sentiram naquele momento. Eu estava surpresa que mesmo após mais de 3.000 anos, o povo judeu continuava a colocar enorme ênfase na história. Mas assim como meu povo reconhece seu Êxodo nas suas preces diárias, eu também valorizo as lembranças da forma em que minha família foi salva da opressão do comunismo. Meu êxodo pessoal proporcionou uma chance milagrosa de construir uma nova vida e experimentar a liberdade.

Lembro-me do dia em setembro de 1989 quando saí da minha casa em Saratov rumo a um futuro desconhecido.

Sem me afetar pelo tempo e pelo espaço, senti como se estivesse indo atrás daqueles que saíam do Egito, me juntando aos meus pais e carregando nossas duas malas, o permitido para cada pessoa. Isso era tudo que eu tinha: era tudo que possuíamos. Isso é quem nós éramos: sem pátria, determinados e esperançosos.

Eu estava chorando tanto que não conseguia ver o rosto das pessoas. “Por que você está chorando?” perguntou um membro da família que estava nos levando até a estação de trem. “Você vai ter uma vida melhor em outro lugar,” ela me assegurou.

Estou com meus pais, Naum e Olga, e meu irmão Ilya no início de 1991 ao nordeste da Filadélfia onde muitos imigrantes russos se instalaram.
Estou com meus pais, Naum e Olga, e meu irmão Ilya no início de 1991 ao nordeste da Filadélfia onde muitos imigrantes russos se instalaram.

Fiquei surpresa pela sua pergunta. Aos 12 anos, eu estava chorando pelo único lar que havia conhecido. Ainda me pergunto como meu parente, que estava ali atrás, não entendia a profundidade da emoção por trás das minhas lágrimas. Ter um amanhã melhor e fé no plano de D'us não afastava a dor de abandonar o mundo familiar da minha infância. Eu estava repleta de ansiedade sobre entrar num amanhã inimaginável, além de um novo idioma, modo de vida, cultura e costumes. Eu tinha tantas perguntas, tanto medo e confusão. Porém nunca há tempo suficiente para se preparar adequadamente.

Eu perguntava a mim mesma, as crianças também choraram quando estavam saindo do Egito? O Egito estava tão impregnado nelas que não conseguiam imaginar uma vida diferente ou melhor?

Imagino se elas também deixaram a chave em cima da mesa, se choraram, se olharam ao redor para dar uma última olhada em seus quartos vazios?

No Êxodo, também, não havia tempo, e o pão não cresceu. A matsá se tornou um eterno símbolo do compromisso incondicional e da dedicação à liberdade.

Ao deixar nossa casa, eu me vi junto com famílias carregando matsá e senti que não estava sozinha. Imaginei escutar a promessa de D'us, insistindo que estávamos prontos para seguir em frente. Eu mal tinha chegado à adolescência e meu irmão tinha 4 anos. À frente da minha família estava uma longa jornada de campos de refugiados na Áustria e na Itália. Estávamos entrando no âmbito do nosso deserto pessoal.

Chegar a um destino final nem sempre é fácil. Mesmo anos após nossa chegada aos Estados Unidos, nos sentíamos perdidos, trabalhando e aprendendo a abraçar a nova realidade. No entanto, apesar de nos sentirmos exaustos, nosso espírito nunca foi quebrado. Afinal, fomos escolhidos para superar, conquistar, para construir e nos conectar.

Hoje e sempre, estamos juntos com o nosso povo, definidos por nossa disposição de sair de nosso Egito pessoal, para encarar o mundo e proclamar que somos a nação mais corajosa e invencível. Seguimos ao nosso D'us, e não temos medo.