1 – Em Pêssach, os judeus celebram o Êxodo
O feriado judaico de Pêssach celebra o Êxodo do povo judeu do Egito, no ano 2448 (1313 AEC). Todo ano, os judeus se reúnem à mesa de jantar – se possível, com a família e amigos – para um Seder. Não é difícil: você segue as instruções num pequeno livro chamado Hagadá, que inclui contar a história do Êxodo, beber quatro copos de vinho, e comer matsá, ervas amargas, e uma refeição festiva.
2 – O Exílio Egípcio Durou 210 Anos
Embora fosse falado a Avraham “Seus descendentes serão estranhos numa terra estranha durante quatrocentos anos,”1 quando a Torá conta a história do Êxodo, somos informados que os filhos de Israel habitaram no Egito durante 430 anos.2
Apesar disso, o pedigree de gerações fornecido em Shemot 6:16-20 torna impossível que eles estivessem no Egito por todo aquele tempo. Como é possível? Porque a opressão era tão dura, que D'us reduziu o exílio deles para 210 anos.
Apesar disso, o número 400 ainda se aplica, pois eles deixaram o Egito exatamente 400 anos após o nascimento do filho de Avraham, Yitschac. Como chegamos ao número 430? Com Yitschac que nasceu 30 anos após a profecia de Avraham. Todos esses 430 anos, eles foram hóspedes temporários que ainda não possuíam um país.3
3 – Os judeus foram escravos no Egito durante 116 anos
Os israelitas foram escravizados pelos egípcios pouco depois que o último dos filhos de Yaacov – Levi, que viveu por 137 anos – morreu.4 Levi tinha 43 anos quando seu pai levou sua família inteira ao Egito para escapar de Canaan assolada pela fome. Isso forma 116 anos de escravidão antes que eles fossem libertados após um total de 210 anos no Egito.
4 – Moshê Foi o Herói Que Fez Tudo Acontecer
Moshê era filho de Amram, um importante líder judeu. Como o faraó tinha ordenado matar todos os meninos judeus, a mãe de Moshê o colocou num cesto que navegou sobre o Nilo. A filha do faraó o encontrou e o adotou, criando-o no palácio.
Muitos anos depois, aos 80 anos, Moshê foi instruído por D'us a procurar o faraó e exigir a imediata libertação do povo judeu.
5 – Ocorreram Dez Pragas Até o Faraó Libertar os Israelitas
Quando Moshê disse ao faraó “Deixe meu povo ir”, o faraó recusou. Na verdade, ele até aumentou a carga de trabalho deles. Moshê advertiu o faraó que se ele continuasse a se recusar, D'us enviaria pragas sobre ele e seu povo (que era cúmplice em seus crimes). Houve 10 pragas no total:
- Sangue
- Sapos
- Insetos
- Feras
- Pestilência no gado
- Furúnculos
- Granizo
- Gafanhotos
- Trevas
- Morte dos primogênitos egípcios
6 – Durante a Décima Praga, o faraó foi procurar por Moshê
O Midrash nos diz que na noite em que D'us começou a atingir os primogênitos egípcios, o faraó acordou assustado, pois, além da morte dos seus cidadãos, seu próprio primogênito tinha morrido.
O Midrash descreve o faraó correndo pela parte judaica do Egito clamando: “Onde mora Moshê? Onde ele está?!” Quando o encontrou, ele disse: “Levanta e sai do Egito!”5 praticamente implorando a ele para deixar a terra que o tinha escravizado durante tanto tempo.6 Essa imagem inspirou uma famosa canção infantil chamada “O Faraó de Pijama no Meio da Noite!”
7 – O Êxodo aconteceu no 15º dia de Nissan no ano 2448 do calendário judaico (1313 AEC)
Nissan cai na primavera. D'us quis que o Êxodo ocorresse no clima mais ideal para viajar: nem tão quente, nem tão frio. Pode chamar de estação de ouro, se quiser.7
8 – Pêssach é celebrado todo ano no 15º dia de Nissan
Pêssach começa no 15º dia do mês hebraico de Nissan e tem duração de 8 dias;8 Geralmente cai no início da primavera (outono no hemisfério sul) durante abril ou final de março.
9 – Na Diáspora, Temos Dois Sedarim
Quando o Templo estava de pé em Jerusalém, o primeiro dia do mês hebraico era estabelecido pela Suprema Corte judaica (Sanhedrin) baseado em quando a lua nova era avistada.
No 30º dia do mês hebraico, a suprema corte judaica em Jerusalém esperava para ver se alguém ia atestar que tinha visto a lua. Se as testemunhas chegassem e sua declaração fosse verdadeira, aquele dia era considerado o primeiro do novo mês. Caso contrário, aquele dia era considerado dia 30, e o próximo dia seria o primeiro do novo mês. Comunidades fora de Israel com frequência não eram informadas da decisão da corte (não havia twitter então!) e consideravam o 30º e o 31º) como possíveis primeiros dias do mês. Isso influencia a observância do feriado porque dois dias separados poderiam ter sido o 15 de Nissan, por exemplo.
Atualmente, quando o calendário hebraico é imutável, e sabemos exatamente quando é o primeiro dia do mês, a lei judaica ainda ordena que as comunidades na Diáspora celebrem dois dias de importantes feriados judaicos por outras razões práticas. Assim como o primeiro dia é celebrado duas vezes, também o sétimo (último) dia de Pêssach se estendeu até o oitavo dia na Diáspora.
10 – O calendário Judaico é Ajustado Para Assegurar que Pêssach Sempre Caia Durante a Primavera
O fato de Pêssach ser celebrado na primavera não é arbitrário. Segundo a Torá, o feriado deve ser observado durante “o mês da primavera” em Israel.9 Isso é tão importante que o calendário judaico é ajustado para assegurar que isso aconteça.
Como o ciclo lunar (sobre o qual os meses hebraicos são baseados) é 11 dias mais curto que o ciclo solar (que determina as estações do ano), um mês extra é adicionado ao calendário hebraico sete vezes em cada ciclo de 19 anos, permitindo que o calendário lunar combine com o solar. O mês extra é sempre um segundo Adar (o mês logo depois de Pêssach).
11 – Pêssach é comemorado com Alimentos Simbólicos
No Seder de Pêssach, comemos alimentos específicos para nos lembrar da escravidão e da liberdade. O mais importante é a matsá, um pão não fermentado feito de trigo, espelta ou aveia,10 ingerido para comemorar o fato de que o Êxodo ocorreu tão rapidamente que a massa sobre as costas dos israelitas não teve tempo suficiente para crescer. Comemos também maror, uma erva amarga – tradicionalmente rábano e alface romana – para nos lembrar do sofrimento da escravidão.
Celebramos nossa liberdade nos reclinando sobre travesseiros como aristocratas e bebendo quatro copos de vinho (ou suco de uva).
Comemos também charosset, uma pasta feita de maçãs, nozes e vinho, para simbolizar a argamassa que os israelitas tinham de misturar para formar tijolos, bem como um ovo cozido para simbolizar o luto após a destruição do Templo Sagrado.11
12 – Muitos Egípcios Deixaram o Egito com os Israelitas
A Torá diz “Uma multidão mista (erev rav) foi com eles [para fora do Egito].”12 Os comentaristas explicam que esses eram convertidos que ficaram impressionados pelos milagres de D'us e desejaram adotar o judaísmo.
Moshê ficou feliz em aceitá-los, mas D'us o advertiu que eles poderiam causar problemas. Moshê insistiu em permitir-lhes ficar, e infelizmente a “multidão misturada” foi responsável pelo pecado do bezerro de ouro.
Ao falar a Moshê que os israelitas tinham criado o bezerro, D'us disse: “Corra, pois seu povo, que você tirou da terra do Egito, agiu corruptamente.”13 Por que Ele os chamou de “seu povo”? Porque foi Moshê que insistiu em levar a “multidão misturada” para fora do Egito contra o conselho de D'us, e eles foram responsáveis pela sua construção.
13 – O Shabat Também Comemora o Êxodo
Quando os israelitas eram escravos no Egito, eles não podiam deixar de trabalhar nem sequer por um instante. Sobre seu êxodo, D'us ordenou a eles que se abstivessem do trabalho um dia por semana para lembrar-lhes da sua liberdade. No kidush da sexta-feira à noite, mencionamos esse elemento do Shabat. “[O Shabat] é o primeiro a ser chamado sagrado e uma comemoração do Êxodo do Egito (zecher l’yetziat mitzrayim).”
14 – Os Israelitas Foram Ordenados a Comer Matsá Antes do Êxodo Acontecer
Todos sabemos o motivo pelo qual comemos matsá em Pêssach – porque os israelitas não tiveram tempo suficiente para deixar a massa crescer e ela assou sobre suas costas quando deixavam o Egito – certo?
Embora isso seja correto, é interessante destacar que D'us ordenou aos israelitas assarem a matsá na noite anterior ao Êxodo para comer com sua oferenda Pascal!
Alguns comentaristas explicam que D'us lhes ordenou fazer isso em antecipação do episódio vindouro de assar nas costas.14 Outros explicam que a matsá na verdade comemora tanto a escravidão quanto a redenção. Nos tempos antigos, os escravos eram alimentados com bolachas (como a matsá) porque demoravam mais para digerir e não tinham de ser administradas com frequência. Além disso, eles nos lembram sobre o pão assado nas costas dos israelitas.
No Egito, explicam os sábios, os israelitas foram ordenados a comer matsá para comemorar o pão do homem pobre com que eram alimentados pelos seus patrões egípcios. O motivo para comermos matsá hoje, porém, é para lembrar o pão assado pelo sol quente do deserto quando saímos as pressas do Egito.15
15 – Os israelitas receberam Total Restituição Antes de Partir
Os israelitas não partiram destituídos, como os escravos são ordenados a fazer. Eles receberam plena restituição pelos anos de trabalho antes de partirem. Tinha sido prometido a Avraham que seus filhos deixariam a terra de seus opressores “com grande riqueza”. A Torá nos diz que os israelitas foram instruídos por Moshê a visitarem seus vizinhos antes de partirem e pedir seu ouro, prata e pedras preciosas, e vestes valiosas. O Talmud descreve o Egito naquele tempo como um silo esvaziado de seus grãos ou a rede de um pescador vazia de peixes.
O Midrash relata que os israelitas chegaram ao ponto de dizer aos seus antigos donos onde em suas casas eles guardavam seus bens. Como eles sabiam?
Durante a praga da escuridão, os israelitas – que podiam ver – foram informados por Moshê para examinar as casas dos egípcios para achar itens preciosos. Se alguém pensar na quantidade de trabalho que os israelitas fizeram durante seu exílio de um século, o ouro que eles receberam dos egípcios pode pelo menos ser considerado como reparações básicas.16
16 – Somos Ordenados a Lembrar do Êxodo Todo Dia
Por causa da sua natureza fundamental na história judaica, há uma obrigação bíblica de mencionar o Êxodo todo dia e toda noite.17 Tradicionalmente, este mandamento é cumprido com a recitação do terceiro parágrafo do Shemá duas vezes ao dia (vayomer).18
17 – O Êxodo Representa Nossa Luta Diária Para Sermos Libertados das Restrições Pessoais
A palavra hebraica para Egito, Mitsrayim, é etimologicamente relacionada com a palavra meitzar que significa “limitação”. O pensamento místico judaico explica que assim como lembramos o histórico Êxodo, devemos deixar nossos próprios Egitos proverbiais.
Não há Nirvana; mas sim, todo dia podemos e deveríamos ficar mais conectados com nossas almas cumprindo mitsvot e estudando Torá. Afinal, é nosso corpo e nossas tendências naturais animalescas que unem nossas neshamot (almas). Ao cumprir os mandamentos de D'us e superar nossas inclinações negativas naturais, libertamos nosso espírito daqueles obstáculos.
É por isso que o versículo declara “Como os dias em que você deixou o Egito”.19 Embora o Êxodo tenha ocorrido uma vez, o Êxodo de ontem é a limitação de hoje da qual devemos nos libertar.20
18 – Benjamin Franklin Queria Usar uma Cena do Êxodo no Carimbo dos Estados Unidos
Estamos familiarizados com o atual selo dos Estados Unidos mostrado na nota de um dólar. Quando os fundadores estavam pensando sobre o que colocar no selo, Benjamin Franklin sugeriu que colocassem “Moshê de pé na praia, estendendo a mão sobre o mar, assim fazendo o mesmo para superar o faraó…” Thomas Jefferson sugeriu uma representação dos Filhos de Israel no deserto, com uma nuvem durante o dia e um pilar de fogo à noite.21
19 – O Êxodo Tem Aparecido Frequentemente na Cultura Americana
Ver que os Estados Unidos foram fundados como uma reação à perseguição religiosa, faria sentido que uma história bíblica tão proeminente desempenhe parte importante em sua cultura.
Por exemplo, os primeiros peregrinos que chegaram à America se viram revivendo o Êxodo, como é expresso em muitos dos seus sermões gravados. Durante a Guerra Civil, os afro-americanos e os brancos do norte usaram a imagem do Êxodo para descrever sua jornada para a libertação. Harriet Tubman, o conhecido “condutor” da Estrada de Ferro subterrânea, era conhecido simplesmente como “Moisés”. Seu código para advertir fugitivos a permanecerem escondidos era cantar “Moshê, fique no Egito ‘até o’ faraó me deixar ir.”22 Os Contrabandos – escravos fugitivos que lutaram pela União – fizeram daquela canção o seu hino, começando com as palavras, “Quando Israel estava na Terra do Egito…”
Em seu famoso discurso, “Estive no Topo da Montanha”, Martin Luther King comparou a preconceituosa sociedade americana ao faraó, e os negros oprimidos aos Filhos de Israel.23 Paradoxalmente, aqueles no poder exploraram a narrativa do Êxodo para justificar suas opiniões, nomeando-se como árbitros da liberdade e o outro como “Faraó.”24
O filme de 1957 “Os Dez Mandamentos” de Cecil B. Demille permanece como o sétimo filme mais assistido de todos os tempo e é baseado na história do Êxodo.
20 - Quando Mashiach Vier, Não Correremos
A Escritura, em sua descrição da Redenção Final, nos diz “Pois tu não partirás com pressa (bechipazon) nem sairá em vôo.”25
A marcha final da Diáspora para a Terra Santa será lenta e deliberada. Este é um flagrante contraste ao Êxodo do Egito onde o versículo, empregando o mesmo advérbio, declara: Pois tu partiste da terra do Egito com pressa (bechipazon).26” Por que a diferença?
O pensamento místico judaico explica que quando os israelitas estavam deixando o Egito, as forças do mal ainda eram fortes, portanto eles tiveram de correr. Quando Mashiach vier, os espíritos negativos terão sido totalmente varridos, permitindo-nos passar lentamente.
Em nosso serviço Divino, devemos superar nossos aspectos menos saudáveis, e servir a D'us cumprindo outra mitsvá, permitindo que a alma voe livremente.27
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