Quando eu era criança passava as noites de Pêssach no Brooklyn com meus avós maternos e muitos primos de idade próxima a minha. Era muita folia, olhávamos as Hagadot com desenhos e inventávamos um monte de brincadeiras, enquanto os adultos liam o texto do Sêder e seguiam a ordem dos rituais da festa.

Tenho poucas lembranças da comida, (certamente não era uma grande comilona), mas o que me marcou muito era a hora da visita de Eliyahu HaNavi. Nesta hora nós crianças nos aglomerávamos em volta da mesa, pois, conforme nosso Zeide dizia, o anjo deixaria presentes para nós, e ninguém queria ficar de fora. Lembro a emoção, a excitação, segurávamos o nosso fôlego em antecipação.

Alguém abria a porta, todos se levantavam e de repente choviam nozes em cima do piso de parquet e atrás delas iam uma dúzia ou mais de crianças andando aos empurrões para juntar o maior número desta preciosa comodidade ‘celestial’. Esta ‘ferramenta educativa’ do meu Zeide serviu para conscientizar-nos da sublimidade deste momento e ajudou para que ao longo de nosso crescimento tentássemos cada vez mais entender e apreciar a grandeza espiritual do momento de abrir a porta para Eliyahu H HaNavi.

Nossos sábios declaram: “O que D’us Próprio faz, Ele comanda os judeus a fazerem.” O costume de abrirmos as portas na noite de Pêssach indica que nos Céus também, todas as portas se abrem. Cada judeu, indiferente de sua conduta durante o ano, tem o potencial para alcançar os níveis mais elevados. Ele pode saltar - o significado da palavra ‘Pêssach’ é pular e saltar - a alturas totalmente além do seu presente grau espiritual.

Uma vez o quinto Rebe de Chabad, Rabino Sholom Ber instruiu ao seu filho Yossef Yitschac (que mais tarde se tornaria o sexto Rebe da dinastia Chabad): “Yossef Yitschac, durante o Sêder e em particular quando abrimos as portas para Eliyahu HaNavi, temos que pensar em ser um mentch, e D’us ajudará. Não peça por coisas materiais; peça por coisas espirituais.”

Que seu filho cresça para ser um mentsch, literalmente gente, uma pessoa boa e íntegra, é o desejo mais ardente de cada pai judeu. Minha Bubby [avó] dizia, fulano é um mentsch, tsu G-t un tsu leit, aquele é gente fina, mantém um bom relacionamento com D’us e com seus semelhantes.

Judaísmo é completo. É um guia Divino para uma vida refinada e responsável. Orienta-nos sobre nossas responsabilidades para com o nosso Criador e para com as Suas criações. Ensina-nos valores éticos e morais, e acima de tudo nos coloca em contato com o caminho da verdade tornando-nos dignos a baixar literalmente ‘os céus para a terra’.

Pensemos nisto quando formos abrir a porta para Eliyahu HaNavi. Abramos uma janelinha a mais na nossa vida para D’us e Sua Vontade. Ele certamente abrirá um portal de bênção e felicidade para nós e para toda a humanidade e nos agraciará com a maior de todas as dádivas, a concretização da promessa Messiânica e a tão aguardada era de paz e harmonia para todas as nações.