Um micve geralmente serve para restaurar a pessoa a um estado de pureza ritual. Para a maior parte, isso não é relevante nos tempos pós-Templo quando não podemos nos tornar inteiramente puros e atualmente há poucos motivos para isso.

Mulheres casadas imergem no micve mensalmente como parte das leis da Pureza Familiar, que são relevantes hoje como sempre foram. O micve também faz parte do processo de conversão ao Judaísmo, tanto para homens quanto para mulheres.

Mas e quanto aos homens imergindo regularmente num micve?
Há dois motivos básicos por que, mesmo atualmente, muitos homens imergem.

Ordem de Ezra

No início do período do segundo Templo, Ezra o Escriba decretou que um homem que se torna impuro devido a emissão seminal não deveria estudar Torá antes de imergir num micve. Isso é referido como takanat Ezra, “a prescrição de Ezra.” Sábios subsequentes acrescentaram que ele nem deveria rezar antes de imergir. Esta imersão é chamada tevilat Ezra, “a imersão de Ezra”.

Esta ordem nunca foi aceita pela maior parte do povo judeu. Numa época posterior, foi anulada porque levava à cessação do estudo de Torá (por aqueles que tinham ficado impuros e não tiveram uma chance de imergir) e/ou a negligência da mitsvá de procriar (por aqueles que escolheram não ter intimidade com suas esposas, por não ter como imergir.1)

A maior parte das autoridades haláchicas entendem que a ordem inteira foi considerada nula, e isso se tornou a lei, halachá, aceita. No entanto, Rabi Hai Gaon e outros são da opinião de que o decreto posterior de não rezar antes da imersão continua válido.2

Em deferência a essa opinião da minoria, muitos têm o costume de imergir em um micve antes de rezar. Além disso, todos concordariam que é virtuoso seguir essa prática e que a prece da pessoa é “mais aceita” após a imersão no micve.3

Na verdade, Maimônides 4 atesta que era costume no norte da África e na Espanha não rezar após uma emissão seminal até se purificar 5 na água, baseado no versículo: “Prepare-se para encontrar teu D'us, ó Israel.”6

Além disso, numa carta fascinante, ele confidencia que ele pessoalmente seguia a prescrição e nunca perdeu uma só imersão (exceto quando estava muito doente); apesar disso, ele não poderia num estado de plena  consciência declarar que isso é exigido pela letra da lei.7
As seguintes razões explicam por que muitos imergem numa base diária, independentemente de emissões seminais.

Como um Sacerdote

Quando despertamos preparados para servir a D'us, somos comparados a um Cohen (sacerdote) se preparando para servir no Templo Sagrado. Assim como um sacerdote imergia antes de servir no Templo (mesmo se já estivesse puro),8 é adequado imergir antes de começar a rezar e servir a D'us.9

Submergindo o Ego

O primeiro Rebe Chabad, Rabi Shneur Zalman de Liadi, escreve que se a mente de alguém se torna grosseira e tola a tal ponto que não pode mais se inspirar durante a prece, há três coisas que ele deveria fazer antes de rezar: (a) doar para caridade; (b) imergir no micve; e (c) aprender ética da Torá e chassidismo.10

Que efeito tem o micve sobre a habilidade de alguém para rezar?

Dissertando sobre o versículo “Mas uma fonte ou uma cisterna, uma reunião de água permanece pura.”11 Os mestres chassídicos explicam que quando alguém está submergido no micve, na verdade ele está submerso num estado de pureza muito mais elevado. Quando ele sai, porém, não está mais no mesmo estado. Esse processo de humildade provoca a anulação do ego da pessoa. A palavra hebraica para “imersão” é um anagrama para a palavra “humildade”; imergir anula o ego da pessoa e traz humildade.12

Falando sobre a frase iídiche que diz Men darf tunken zich in mikvah, “Você precisa imergir no micve,” Rabi Shalom Dov Ber de Lubavitch dizia que a pessoa deve imergir (e perder) seu ser (ego) no micve.13

Santidade Extra

Mesmo que alguém já esteja puro, a imersão traz uma medida adicional de santidade. Isso é exemplificado pelo Sumo Sacerdote, que imergia cinco vezes durante o seu serviço em Yom Kipur – embora ele já tivesse imergido antes de começar seu serviço era uma ofensa capital fazer até o serviço regular num estado de impureza.14

Este é um dos motivos pelos quais alguém que não imerge numa base diária pode ser específico num dia em que a Torá é lida, ou antes do Shabat ou feriados (imergir antes de Yom Kipur possui outros motivos).

Fortalecer a Fé e Entender o Místico

Além disso, os místicos explicam que imergir num micve fortalece a fé de uma pessoa e sua capacidade para entender as partes interiores, místicas da Torá.15 Na verdade, a tradição declara que o Baal Shem Tov merecia tais revelações elevadas devido à sua imersão regular no micve.16