Uma das linhas mais comoventes das preces do Dia Sagrado é Shema koleinu. Ouve nossa voz, Eterno nosso D'us.

Shema é uma das palavras-chave do Judaísmo, talvez a palavra-chave. É quase impossível de traduzir, porque tem tantas variações. Significa ouvir, escutar, prestar atenção, entender, interiorizar, e responder.

O Judaísmo é supremamente uma religião de palavras. D'us criou o universo natural através de palavras: “E D'us disse: Que haja… e houve.” E nós criamos, ou prejudicamos, ou até destruímos o universo social por palavras. As palavras são como comunicamos nossos sentimentos mais profundos àqueles que amamos; e são também, D'us não o permita, como ferimos aqueles que não amamos.O Judaísmo é uma religião de palavras sagradas: Torá, que é a palavra de D'us para nós, e tefilá, prece, que é nossa palavra para D'us.

E por trás do serviço de Yom Kipur está um drama histórico extraordinário. Eis aqui: Nos tempos bíblicos havia locais sagrados. A terra de Israel era sagrada. Mais sagrada ainda era Jerusalém. Dentro de Jerusalém o local mais sagrado era o Templo. E dentro do Templo havia um local supremamente sagrado, chamado de Santo dos Santos.

E havia hora sagrada. Havia as festas. Mais sagrado ainda era o Shabat. E ainda mais sagrado que aquilo era o único dia no ano conhecido como Shabat Shabaton, o Shabat dos Shabats, Yom Kipur, o Dia da Expiação.

Em terceiro lugar havia pessoas sagradas. Israel era chamado goi Cadosh, uma nação sagrada. Dentro dali a mais sagrada das tribos eram os Leviim, os Levitas. Dentre os Leviim, ainda mais sagrado, estavam os cohanim, os sacerdotes. E entre os sacerdotes havia o mais sagrado que todos os outros, o Cohen Gadol, Sumo Sacerdote. E uma vez ao ano o homem mais sagrado entrava no local mais sagrado no dia mais sagrado e pedia perdão para todo Israel.

Mas então o Templo foi destruído. Jerusalém foi reduzida a ruínas. Não havia mais sacrifícios, e não havia mais Sumos Sacerdotes.

O que restou? Apenas o dia em si mesmo. E nós, o povo judeu. E foi então que nossos ancestrais descobriram que onde quer que rezemos se torna um mikdash me’at, um templo menor. Toda prece dita do coração é como um sacrifício. E quando não há Sumo Sacerdote para levar nossas preces a D'us, D'us escuta a cada um de nós como se fôssemos o Sumo Sacerdote.

Não temos mais o serviço do Templo, mas ainda temos o serviço do coração, e o conhecimento de que D'us escuta toda palavra que dizemos se ela vier do coração. Embora tenhamos perdido tudo o mais, ainda temos as palavras. Shema koleinu. D'us ouve nossa voz. Tenha pena e compaixão de nós.