Alimentos de Rosh Hashaná 2

Há grande importância nos “Simanim” (símbolos) que fazemos em Rosh Hashaná. Por isso, na hora de comê-los, costuma-se acrescentar uma oração curta de pedido, por meio da qual devemos despertar para uma Teshuvá (arrependimento e conserto) plena e aumentar as bênçãos de abundância para o ano todo. Há diferentes costumes quanto a mergulhar a chalá (pão) no mel, em Rosh Hashaná. Há quem mergulhe apenas no mel até Simchat Torá e há quem mergulhe no mel e também no sal, como se costuma no restante do ano. E cada um deve seguir o seu costume ou de sua família.

Para se aludir somente a “bons sinais” (siman tov) para o ano todo, costuma-se evitar o consumo de alimentos azedos, amargos ou salgados em Rosh Hashaná, para que prevaleçam símbolos de doçura para o ano que se inicia. Quanto a alimentos picantes, há muitos que costumam comê-los, embora haja, entre os ashkenazim aqueles que evitam também os tais condimentados. Os ashkenazim também evitam comer nozes (egozim) em Rosh Hashaná, pois a guemátria (somatória do valor numérico das letras em hebraico) de “egoz” (noz) é a mesma da palavra “chêt” (pecado) e, como se costuma tomar cuidado neste dia com o assunto dos símbolos, a ideia é evitar qualquer relação com o pecado.

Os toques do Shofar

Os toques do shofar dividem-se em dois momentos, nos dois dias de Rosh Hashaná. O primeiro momento chama-se “Tequiot Demeiushav” (“toques sentados”) e o segundo chama-se “Tequiot Demeumad” (“toques de pé”). No primeiro momento, ocorrem os toques antes da oração de Mussaf, e os sábios permitiram que o público ouvisse estes toques sentados, demonstrando e enfatizando que as Tequiot Demeumad – os toques que são feitos durante a oração de Mussaf – são os principais, tendo que ser ouvidos obrigatoriamente de pé, todo o tempo, como o próprio nome indica, tanto na oração em silêncio, quanto na repetição do Chazan. O costume dos sefaradim é de fato permanecer sentados durante o primeiro momento dos toques, já os ashkenazim, apesar do nome "Demeiushav" (sentados), costumam ficar de pé mesmo nesta primeira fase.

Como a berachá (bênção) recitada sobre os toques do shofar é feita antes das Tequiot Demeiushav – antes da oração de Mussaf – e ela vale para as Tequiot Demeumad que ocorrerão durante a oração de Mussaf, é proibido interromper todo este processo com fala, desde a bênção até o final dos toques, porque todo este ritual é considerado um único preceito longo.

Para evitar o enfraquecimento corporal, há aqueles que preferem fazer Kidush para comer e beber um pouco antes do início dos toques do shofar, já que até o fim da oração de Mussaf não só passará muito tempo como certamente se passará também do meio dia mantendo o público sem comer ou beber nada. Pela Halachá, é permitido fazer Kidush antes dos toques, devendo-se, no entanto, comer não mais do que 45 gramas de Mezonot (biscoitos e massas). Frutas é permitido comer mais do que esta quantidade.

Se alegrar em Rosh Hashaná

Embora Rosh Hashaná seja “Yom Hadin” – o Dia do Juízo Celestial –, é também chamado de “Mikrá Kodesh” (“Convocação Sagrada”), sendo mitsvá se alegrar por meio de refeições especiais com carne e vinho, bem como por meio de vestimentas especiais de festa. No entanto, deve-se tomar o cuidado de não se exceder com a comida e o vinho para que não se venha a ter qualquer tipo de pensamento ou atuação impróprios.

A Halachá determina que se vista roupas especiais em honra a Rosh Hashaná, porém estas não devem ser (tanto para o homem quanto para a mulher) as roupas mais lindas e suntuosas que a pessoa possui, pois isto pode demonstrar certa altivez e causar uma alegria demasiada, que, por sua vez, podem desviar a atenção circunspecta da pessoa à essência do dia, isto é, o grande julgamento do mundo e de todas as criaturas pelo Todo-Poderoso neste dia.

Shofar

É uma mitsvá da Torá ouvir o toque do shofar em Rosh Hashaná. E há vários tipos de toque. O primeiro deles é a Tequiá – um toque simples e contínuo, que representa alegria e conexão. Por isso, quando se queria reunir o povo de Israel no êxodo pelo deserto, na saída do Egito, faziam as trombetas tocarem uma Tequiá simples. A Teruá – um toque fragmentado – por sua vez, alude ao sofrimento, ao choro, à desagregação e ao receio. De fato, ao sair para as guerras, sem saber como seria o desfecho da batalha, as trombetas ressoavam a Teruá.

Esta dualidade contida na Teruá permeia Rosh Hashaná. Por um lado, há um grande sofrimento pelo ano que se foi e a constatação de que este tempo não se pode recuperar jamais. Daí a enorme importância de não desperdiçar este bem precioso e curto com tolices sem valor significativo – games ou aplicativos variados, por exemplo, com os quais se pode “queimar” um tempo que se acumula em meses, com benefícios mínimos ou nulos. Tempo valioso que não voltará e que poderia ter sido usado para incontáveis objetivos mais produtivos: educação dos filhos, com demonstrações concretas de amor e afeto; orações pelo sustento e o sucesso de si e de sua família; recitação de Salmos para cura, saúde e disposição; estudo de Torá, que proporciona uma recompensa espiritual incalculável para cada instante dedicado ao mesmo. Por outro lado, há o receio e um grande medo do veredito celestial próximo. Por esse motivo, o Todo-Poderoso ordenou que se tocasse a Teruá com o shofar e, ao recebermos sobre nós o jugo do reinado divino universal, adocemos esse veredito e sejamos carimbados para uma vida maravilhosa.

Símbolos de Rosh Hashaná

Como vimos, em Rosh Hashaná, o primeiro dia do ano, o Todo-Poderoso Se senta para julgar todo o mundo, e toda ação ou pensamento que ocorrem neste dia especial podem ter influência crucial em todo o ano que se inicia. Por isso, consta no tratado de Careitot que há grandes significados por trás dos “Simanim” (símbolos) de Rosh Hashaná, pois todo símbolo de berachá (bênção) manifestado no início do ano pode se estender em bênção por todo o ano.

Costuma-se, portanto, em todas as comunidades de Israel, comer alimentos especiais em Rosh Hashaná, sendo cada um deles um símbolo de berachá que almejamos que se estenda pelo ano inteiro. Esse é o motivo de se comer maçã com mel – para que tenhamos um ano bom e doce. Romã – para que nossos méritos multipliquem-se como as sementes da romã. Peixes – para que frutifiquemos e cresçamos em número como os peixes. Beterraba (selek) – para que sejam banidos (ystalku) os que nos odeiam. Tâmaras – para que cessem (ytamu) nossos inimigos e pecados, etc. Todos podem acrescentar alimentos de sua preferência e que seus nomes aludam à abundância e à bênção, que se estendam pelo ano todo.

Tashlich

Um costume conhecido de todos é recitar o Tashlich no primeiro dia de Rosh Hashaná, que consiste em andar até um manancial de água – mar, rio ou fonte – onde se recitam versículos e orações que falam sobre abandonar os pecados e lançá-los às profundezes dos mares.

O significado do costume é pedir a D’us que anule (“lançando-os às profundezas dos mares”) os promotores espirituais originados pelas transgressões e pecados cometidos. Daí o costume de se esvaziar os bolsos e bordas das roupas durante a cerimônia de Tashlich, simbolizando o lançamento de tais promotores às águas. Outro motivo para este costume consta nos livros sagrados: lembrar-nos do mérito de Avraham Avinu e Yitschac, seu filho, que, conforme contam os Midrashim, no caminho para o mais difícil teste divino de suas vidas – Akedat Yitschac, o sacrifício de Isaac – outras provações surgiram para tentar dissuadi-los de continuar. Uma destas foi o surgimento de um grande rio de águas profundas, que bloqueou a passagem dos dois. Apesar da enorme dificuldade, eles conseguiram atravessá-lo.


Há Poskim (rabinos legisladores) que isentam as mulheres da cerimônia de Tashlich, recomendando inclusive que não participem da mesma, para evitar junções e misturas inadequadas entre homens e mulheres em Rosh Hashaná, embora isto seja permitido, caso uma ou mais mulheres queiram muito participar. De qualquer forma, deve-se tomar muito cuidado para que as pessoas não desçam de degraus espirituais elevados, galgados durante as Tefilot de Rosh Hashaná, por causa de conversas fúteis ou maledicências, no caminho para o cumprimento de um costume antigo e sagrado.

Cuidado maior ainda se deve ter em guardar os olhos, já que a santidade do dia é muito grande e o yétzer hará (instinto negativo) faz de tudo para que as pessoas não evoluam ou consigam fazer uma Teshuvá (arrependimento e conserto) plena.

Em locais nos quais é difícil – por qualquer motivo – ir até o mar ou o rio, é possível fazer Tashlich num poço d’água ou mikve.