Na Hagadá de Pêssach, dizemos: "Mesmo se formos todos sábios, todos homens de entendimento, e todos conhecermos a Torá, é uma mitsvá (mandamento) para nós narrarmos o Êxodo do Egito."

Esta citação indica que o ponto do Seder não é meramente uma experiência intelectual. Pois afinal, se somos sábios e conhecemos a Torá, então conhecemos também a história do Êxodo.

Em vez disso, a intenção é que o Seder nos permita reviver o Êxodo, perceber – como dizemos mais tarde na Hagadá – que "não somente nossos ancestrais [foram] redimidos do Egito, mas [D’us] também nos redimiu." Todo Seder é uma oportunidade para cada um de nós deixar o Egito.

O que significa para nós deixar o Egito, quando muitos de nós jamais vimos aquela parte do mundo?

Mitzrayim

O nome hebraico para Egito – compartilha uma conexão com o termo metsarim, que significa "fronteiras" ou "limitações". Deixar o Egito significa ir além daquelas forças que nos refreiam e nos impedem de expressar quem realmente somos. A ideia de deixar o Egito nos lembra que, de certo modo, somos todos escravos.

Cada um de nós tem uma alma que é "uma verdadeira parte de D’us". Este é o âmago de nosso ser, nosso verdadeiro "eu". Mas encontramo-nos no Egito, pois há forças, tanto externas quanto internas, que nos impedem de fazer contato com este potencial espiritual e dar-lhe expressão.

A noite do Seder é uma ocasião em que estas forças não têm o poder de nos atrapalhar. Pois Pêssach é a "Estação de Nossa Liberdade". A partir da época do Êxodo – e de fato, desde o início dos tempos – esta noite foi escolhida como uma noite na qual é concedido o potencial de expressar nosso âmago Divino. Todo ano, nesta época, dentro da hierarquia espiritual do mundo, há um "êxodo do Egito." Todas as restrições caem por terra e a Divindade transcendente é revelada.

Este despertar espiritual filtra para dentro de nossa alma, prontificando-nos a expressar nosso ilimitado potencial Divino, e deixar o Egito, i.e., romper toda e qualquer restrição.

Esta experiência não deveria permanecer como um pico espiritual isolado. Em vez disso, Pêssach deveria iniciar um processo de crescimento contínuo, possibilitando-nos romper continuamente quaisquer níveis sutis de limitações e expressar nosso potencial a qualquer tempo.

Este conceito está refletido no costume Lubavitch de não recitar a passagem "Chasal Sidur Pêssach" ("O Seder de Pêssach é concluído") que outros recitam ao final do Seder. A intenção dessa omissão é enfatizar que nossa experiência de Pêssach deveria ser contínua. Durante todo o ano, devemos olhar para o Seder como o início de um padrão de novo crescimento e expressão espiritual.