Erev Sucot, 1914. Os efeitos da Primeira Guerra Mundial na Europa se faziam sentir até em locais distantes, como a Terra Santa. Muitas rotas de suprimentos estavam fechadas, e as provisões eram escassas. A antiga colônia judaica sofrera numerosas perdas, não somente pela fome generalizada mas também pelas doenças contagiosas que cobravam seu tributo. Mesmo assim, sempre que havia um Yom Tov a atmosfera ao redor ficava plena de exultação e júbilo.

Naqueles dias, a sucá do famoso Rebe Mottele de Chernobyl era uma grande atração. O tsadic se tornara rapidamente uma das figuras mais queridas em Jerusalém, desde sua chegada da Rússia dez anos antes.

Todos tinham ficado perplexos naquele primeiro ano, quando Rebe Mottele construíra a sucá mais linda e elaborada que já tinham visto. Não somente o tsadic a tinha montado por si mesmo, como também a decorara com talento artístico. A sucá era feita da melhor madeira, com gravuras esculpidas em seus painéis retratando cenas relativas ao feriado.

Reb Mottele tinha trazido os sete pesados painéis com ele da Rússia. Como revelara certa vez, a impressionante sucá tinha sido herdada de seu pai, que herdara o tesouro de família de seu próprio pai. A cada geração que se sucedia, suas paredes de madeira tinham absorvido quantidades adicionais de santidade.

Durante dez anos os judeus de Jerusalém tinham se maravilhado com a suntuosa estrutura, que estava em flagrante contraste com suas próprias cabanas. Multidões se reuniam em reverência ao seu redor. De fato, muitas histórias eram contadas sobre sua poderosa aura espiritual. Chegava-se a comentar que Rabi David de Lelov a tinha considerado "semelhante à sucá celestial no Alto." Naquele ano específico, porém, quando os habitantes de Jerusalém fizeram sua visita anual para admirar a sucá de Reb Mottele, tiveram um grande choque. Não havia mais a edificação imponente, elaboradamente trabalhada; em vez dela, encontraram o tsadic sentado numa cabana minúscula, oscilante. Por respeito a Reb Mottele esconderam sua surpresa e nada disseram. Porém, naturalmente estavam curiosos e não podiam deixar de especular sobre o que tinha acontecido.

Naquela noite, diversas teorias foram propostas. Alguém sugeriu que talvez a terrível escassez tivesse forçado Reb Mottele a vender a sucá, mas esta explicação foi rejeitada. Todos se lembravam como muitos anos antes um famoso filantropo tinha chegado a Jerusalém e oferecido a Reb Mottle uma verdadeira fortuna se ele a vendesse. Reb Mottele recusara firmemente. Não, deveria existir alguma outra explicação. Era simplesmente impossível que Reb Mottele se separasse voluntariamente de sua querida sucá. Mas se fosse esse o caso, o que tinha acontecido?

Durante os meses que se seguiram, o desaparecimento da sucá de Reb Mottele foi o assunto da cidade. Então, certo dia, o mistério foi solucionado, vindo de uma direção completamente inesperada.

Numa noite daquele inverno particularmente gelado, foi feita uma reunião numa sinagoga de Jerusalém comemorando o falecimento de um tsadic de uma geração anterior. Muitas das figuras proeminentes na cidade sagrada compareceram, dentre estas o idoso chassid Rabi Yisrael Meir Gottlieb.

De repente, em meio à refeição comemorativa, o Rabi idoso levantou-se e pediu a palavra. A sala ficou imediatamente em silêncio. "Eu gostaria que esta ocasião servisse também como uma expressão de meus agradecimentos pessoais" – declarou ele. "Teria sido apropriado preparar uma celebração em separado, mas infelizmente, os tempos são tais que isso está acima de minha capacidade financeira.

"Há poucos meses, meu neto ficou muito doente" – começou ele. "Sua saúde piorou muito, até que os médicos disseram que a única maneira de salvar sua vida seria banhá-lo em água quente várias vezes por dia. Vocês todos sabem o que significava isso numa época em que era impossível obter uma gota de querosene ou uma pedra de carvão. Como poderíamos aquecer a água para dar pelo menos um banho por dia ao rapaz?

"Naquela altura, fui procurar Reb Mottele, e expliquei o sofrimento de meu neto. Por um breve momento, Reb Mottele ficou em silêncio. Então levantou-se, segurou meu braço e levou-me a um galpão de armazenamento nos fundos de sua casa. Abrindo a porta, ele disse: 'Pode usar esta madeira.'

"O que posso dizer?" Rabi Yisrael balançou a cabeça em descrença. "Quando vi que ele estava apontando para os painéis de sua sucá, meu corpo inteiro começou a tremer. Certamente eu estava tendo alucinações. Mas Reb Mottele nem sequer permitiu que eu pensasse a respeito. 'Você deve pegar a madeira. Trata-se de salvar uma vida.'

Com o coração partido, segui suas instruções, partindo os painéis sagrados em pedaços pequenos para que pudessem pegar fogo. Meu neto foi banhado segundo as ordens médicas, e graças a D’us, na semana passada foi considerado fora de perigo. Portanto, eu gostaria que esta refeição fosse considerada uma homenagem à sua recuperação.

"Para dizer a verdade, não sei o que me impressiona mais" – concluiu ele – "o milagre da cura de meu neto, ou a devoção de Reb Mottele…"