A Torá ordena, no início da porção desta semana, que é proibido para um juiz aceitar qualquer suborno, como explica o versículo: "O suborno cegará os olhos do sábio e distorcerá as palavras do justo" (Devarim 16:19).
Rashi comenta ainda que esta injunção aplica-se a todos os casos a qualquer tempo, mesmo se o juiz ainda planeja julgar o caso corretamente. Tal lei, entretanto, parece difícil de entender, pois se uma pessoa tem certeza absoluta de que o suborno que está aceitando não terá efeito adverso algum sobre seu julgamento, então por que não lhe seria permitido aceitar um presente de um litigante? O que está errado em receber algum dinheiro "por fora"?
Para responder a isso, o Talmud (Tratado Ketubot 105b) oferece uma profunda introvisão na psicologia humana. Nossos Sábios ensinam que assim que a pessoa aceita um suborno, sua opinião automaticamente inclina-se a favor do argumento daquele litigante, a tal ponto que torna-se praticamente impossível permanecer emocionalmente isento. Com efeito, o juiz e o litigante tornam-se uma só pessoa, pois seu raciocínio e opiniões estão intrinsecamente ligados. De repente, o juiz fica incapaz de ouvir o outro lado da questão, pois tornou-se pessoalmente envolvido no caso. Como resultado, mesmo se o juiz pretende realmente decidir de forma correta, pois é incapaz de enxergar a si mesmo como culpado, achará muito mais difícil decidir contra a pessoa que pagou-lhe o suborno. O juiz tornou-se cego.
À primeira vista, a pessoa pode pensar que isso tudo é muito interessante mas totalmente desconectado com a vida cotidiana e as decisões comuns tomadas por pessoas normais. Pode-se pensar que apenas juízes e aqueles de grande influência precisam preocupar-se com problemas de nível tão elevado. Entretanto, nada poderia estar mais longe da verdade. Quando tentamos tomar decisões em nossas próprias vidas, enfrentamos preconceitos debilitantes similares, que nos cegam à adoção de novas idéias que poderiam aplicar-se àquilo que estivemos fazendo até agora. Deixamos de considerar se estamos ou não agindo corretamente, pois é sempre mais fácil manter o status quo.
Nesta maneira auto-destrutiva, nosso conforto com a situação já estabelecida nos "suborna" a decidir não fazer quaisquer melhoramentos em nossa personalidade e comportamento, antes mesmo que possamos considerar seriamente esta idéia.
Acabamos de entrar em Elul, o mês hebraico que precede Rosh Hashaná. É um período designado para introspecção e teshuvá, um mês no qual devemos considerar cuidadosamente o que realizamos no ano que passou, e o que esperamos realizar no futuro. É tempo de abrirmos os olhos em busca da verdade, de afastar todos os preconceitos e obstáculos que nos impedem de pensar claramente. Com isso em mente, estaremos adequadamente preparados de começar de novo no ano vindouro, e sermos capazes de empenharmo-nos muito além dos "subornos" que tão drasticamente impedem nosso crescimento espiritual.
Sejamos juízes de nós mesmos.
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