A primeiro de Nissan de 2449, último dia da Inauguração do Tabernáculo, D'us revelou a Moshê as leis referentes a pessoas impuras que são enviadas para fora do Acampamento, e também as leis de pureza dos cohanim.
D'us ensinou-o como atingir a purificação dos diversos tipos de impurezas (quer através de imersão no micvê ou numa fonte de água corrente, e assim por diante), bem como os sacrifícios que finalizam o processo de purificação.
Quando D'us ensinou a Moshê que um judeu se torna impuro (tamê) se tocar num corpo sem vida, Moshê questionou: "Como se purifica a si mesmo da impureza?"
O Todo Poderoso não respondeu imediatamente. Na verdade, D'us adiou a resposta como um ato de bondade para Aharon. Da primeira vez que D'us dirigiu-se a Moshê, Aharon não estava presente. Por isso, Ele esperou até que Aharon também estivesse presente, então proferiu as leis da vaca vermelha a ambos (Bamidbar 19:1). Isto tornava público o fato de que Ele perdoara Aharon por ter participado do pecado do bezerro de ouro.
D'us retomou o assunto mais tarde naquele dia, explicando a Moshê e Aharon: "Se alguém se tornar impuro através do contato com um corpo, deve-se aspergir sobre esse uma mistura especial de água com as cinzas da vaca vermelha."
De acordo com uma visão dos sábios (Guitin 60a), as leis da vaca vermelha foram transmitidas a Moshê no dia primeiro de Nissan. Então porque a Torá coloca este assunto somente nesta parashá?
Uma vez que Côrach ridicularizou o processo de purificação dos leviyim (ver parashá passada), depois de terminar o relato da rebelião de Côrach e suas conseqüências, a Torá explica o fundamento da mitsvá, de que a purificação é alcançada através das cinzas da vaca vermelha.
O Todo Poderoso instruiu-os nos detalhes da lei da vaca vermelha:
- A vaca vermelha é adquirida com recursos do tesouro do Templo Sagrado, de um fundo que contém as doações anuais de meio-shekel dos indivíduos judeus.
- Para uma vaca vermelha ser qualificada como tal, deve ter pelo menos três anos de idade (idade suficiente para dar cria).
- Sua cor deve ser completamente vermelha; até mesmo dois pelos de cor diferente desclassificam-na.
- O animal também é desqualificado se alguma vez foi atado a um jugo, mesmo se não realizou trabalho algum.
Emissários foram enviados com o fito de adquiri-la.
O proprietário disse: "Estou disposto a vender o animal por um bom preço. Dêem-me quatrocentas peças de ouro."
"Você as terá," prometeram-lhe os sábios. "Retornaremos com o dinheiro."
Saíram, a fim de obter os fundos necessários do San'hedrin. Enquanto isso, o não-judeu contou a seus amigos sobre a venda em perspectiva, e descobriu quão raro e precioso era esse animal.
Quando os delegados voltaram com a soma combinada, o gentio lhes disse: "Mudei de idéia; não venderei minha vaca."
"Estamos dispostos a pagar um alto preço," replicaram os sábios. "Quer mais cinco peças de ouro?"
"Não a venderei," insistiu o não-judeu.
"Pegue mais dez peças de ouro," ofereceram.
"Vocês não a terão," repetiu.
"Pagaremos vinte peças extras de ouro," disseram.
"Fora de questão," replicou.
Os membros do San'hedrin aumentaram a oferta até que o homem finalmente concordou com a venda por uma quantia de cem peças de ouro adicionais. (Algumas opiniões dos sábios dizem que por mais mil.)
Os sábios disseram-lhe que voltariam com a quantia total e apanhariam o animal no dia seguinte.
Após partirem, o gentio disse a seu vizinho, rindo: "Sabe porquê esses judeus insistiram em adquirir esta vaca em especial? Necessitam dela para seus ritos religiosos, pois jamais foi atrelada a um jugo. Todavia, eu lhes aplicarei um pequeno truque."
Naquela noite, o perverso pegou sua vaca vermelha, atrelou-a ao jugo e arou com ela.
Os sábios voltaram na manhã seguinte. Antes de pagarem, examinaram o animal. Sabiam que uma vaca que jamais fora atrelada a um jugo pode ser reconhecida através de dois critérios: 1. Dois determinados pelos do pescoço ficam eretos enquanto intocados pelo jugo, porém dobram-se assim que se coloca o jugo sobre o animal. 2. Os olhos de um animal que jamais carregou um jugo são firmes. Depois de subjugada, seus olhos piscam, pois o animal olha de soslaio para ver o jugo.
Perceberam imediatamente que essa vaca apresentava os sinais de uma vaca que já portou o jugo.
"Fique com a vaca," disseram ao gentio. "Não precisamos dela."
Até a boca deste perverso blasfemo reconheceu: "Abençoado seja Aquele que escolheu esta nação."
- O cohen abate a vaca "fora do Acampamento". Durante os anos no deserto, era abatida fora dos três Acampamentos; e na época do Templo Sagrado, no Monte das Oliveiras, uma vez que esta montanha era considerada "fora de Jerusalém."
- O cohen colhe um pouco de sangue da vaca em sua mão esquerda, mergulha nesse seu indicador direito, e asperge o sangue em direção à entrada do interior do Templo (Hechal), o qual consegue enxergar da montanha.
- Acende-se um fogo, e o cohen supervisa a queima da vaca.
- Com um cordão de lã vermelha, o cohen amarra um galhinho de cedro unindo-o a um pouco de hissopo (ezov) e pergunta a todos os presentes:
"Sim," respondem.
"Isto é um galho de cedro?" - pergunta pela segunda e terceira vez.
Recebe respostas afirmativas às três perguntas. Também pergunta três vezes: "Isto é uma lã vermelha?" - ao que lhe respondem afirmativamente três vezes.
Por que esta cerimônia?
Nem todos os tipos de hissopo, cedro e tinta vermelha são casher para este ritual. A não ser que todas as espécies utilizadas preencham os requisitos haláchicos (das leis), a mitsvá inteira é inválida. Desta forma, o cohen enfatiza que estão todas de acordo com os mandamentos da Torá.
- Enquanto a vaca está queimando, o feixe de cedro e hissopo é atirado à carcaça.
Por que se coloca madeira de cedro e a grama ezov sobre o fogo? O cedro é a mais alta das árvores, e a grama ezov, o mais baixo dos arbustos. Isso lembra a quem se purifica que a pessoa precisa de humildade para fazer teshuvá. É preferível sentir-se humilde como a grama ezov que orgulhoso como o cedro.
- As cinzas da vaca são divididas em três partes: uma é colocada numa determinada seção do pátio do Templo Sagrado, onde é preservada a fim de cumprir a mitsvá de que as cinzas da vaca vermelha devem ser guardadas para todas as gerações. A segunda parte é dividida entre os grupos de cohanim que servem no Santuário, para ficar à disposição para purificar um cohen que tornou-se impuro. A terceira parte é colocada num local no Monte das Oliveiras, para a purificação do povo judeu antes de sua entrada no Templo.
- Quem quer que esteja envolvido na preparação das cinzas - por exemplo, a pessoa que queima a vaca, quem atira o feixe ao fogo, quem recolhe lenha, quem toca ou transporta as cinzas - torna-se impuro.
- As cinzas da vaca são misturadas à água fresca de uma fonte num recipiente.
- As águas com cinzas da vaca vermelha são aspergidas sobre o judeu (que está se purificando) por alguém que está puro de impureza advinda da morte. Ele asperge quem está se purificando no terceiro e sétimo dias da purificação individual. Além disso, durante o sétimo dia, a pessoa que está sendo purificada deve imergir numa micvê, a fim de consumar a purificação.
Até hoje nove Vacas Vermelhas foram queimadas.
A primeira foi preparada por Elazar filho de Aharon sob a supervisão de Moshê, no segundo dia de Nissan, de 2449. (Moshê dirigiu os pensamentos apropriados à mitsvá, pois Elazar não compreendia suas razões.)
Uma bênção pairava sobre a porção das cinzas que Moshê separou para purificação: elas duraram até a época de Ezra. Sob a supervisão de Ezra, uma Segunda Vaca Vermelha foi queimada; uma terceira e quarta sob orientação de Shimon Hatsadic; e mais duas na época de Yochanan, o Sumo-sacerdote. Desde então até a destruição do Segundo Templo Sagrado mais três vacas foram queimadas. A décima será preparada por Mashiach, possa ele vir em breve.
Clique aqui para comentar este artigo