Ao caminhar pelo moderno shopping center próximo à rodoviária do centro em Be'ersheva, Israel, você se sente quase em casa. Dezenas de lojas modernas parecem totalmente americanas; nota-se a visão familiar de pessoas subindo escadas rolantes, subindo e descendo o saguão repleto de lojas da parte central do shopping; e pode dar um profundo suspiro de alívio ao encher os pulmões com o ar condicionado fresco e suave deste maravilhoso centro de compras.

A experiência em si de comprar pode não ser tão excitante - afinal, a mentalidade de compras no Oriente Médio não é exatamente aquela à qual estamos acostumados, e o cliente nem sempre tem razão - mas o simples fato de que você está abrigado em um ambiente calmo, hospitaleiro e fresco deixa-o mais relaxado. A temperatura externa está em torno de 35º C, e você termina por apreciar o condicionador de ar que lhe fornece temperatura tão agradável.

Graças às inovações modernas como ar condicionado, aquedutos para transportar água por longas distâncias, e o aperfeiçoamento na armazenagem de alimentos, cidades grandes como Be'ersheva começaram a desenvolver-se à margem de desertos. Mas sua existência é tênue e apenas possível nas áreas mais amenas. Em sua essência, o deserto continua desafiadoramente implacável com a habitação humana, de tal forma que faz-nos refletir como os judeus - uma nação com uma população de sete dígitos - sobreviveu vagando no deserto por quarenta anos antes de entrar na Terra de Israel.

Não, os judeus não foram amparados por condicionadores de ar, água encanada, e comida importada. Em vez disso, beneficiaram-se de alguns artefatos bastante miraculosos fornecidos por D'us. Nuvens especiais cercaram e cobriram a nação viajante; mantiveram um tipo de supremo controle do clima, refrescando o ar e removendo obstáculos do caminho à frente. Além disso, os judeus não precisavam se preocupar com queimaduras de sol. As nuvens ofereciam também proteção contra predadores. Além disso, o maná descia do céu seis dias por semana. Perfeito alimento substituto, o maná fornecia 100% da nutrição necessária. Na verdade, o maná era tão perfeito que era absorvido integralmente pelo trato digestivo, eliminando a necessidade de aliviar-se. E um poço, jorrando de uma grande rocha, rolava junto com eles para fornecer-lhes água.

Com a maioria de suas necessidades físicas satisfeitas, os judeus tinham bastante tempo para envolver-se no estudo da Torá que haviam recebido no início de sua jornada. Entretanto, os presentes que tornaram o ambiente ideal e protetor não eram gratuitos. Ao contrário, os judeus os receberam pelo mérito dos muitos indivíduos devotos, motivados e justos que habitavam entre eles.

O Talmud (Tratado Ta'anit 9a) relata que Israel teve três grandes líderes - Moshê, Aharon e Miriam - e três maravilhosos presentes foram recebidos por intermédio deles. Pelo mérito de Miriam, um poço jorrava água incessantemente; Aharon foi responsável pelas Nuvens de Glória; e o maná caiu pelo mérito de Moshê.

Embora estas associações - Miriam com o poço, Aharon com as Nuvens, e Moshê com o maná - não sejam explicitamente mencionadas na Torá, cada uma delas pode ser detectada com alguma observação básica e cuidadosa no decorrer do texto.

D'us registra em nossa Porção da Torá que Miriam faleceu e foi enterrada em Cadesh, um local no Deserto de Tsin. A descrição continua: "E não havia água alguma para a congregação, e eles se reuniram [para reclamar] a Moshê e Aharon" (Bamidbar 20:2).

Por que estes eventos aparentemente não relacionados são colocados juntos? A água do poço fluía pelo mérito de Miriam. Era uma mulher justa, que dedicou-se a servir a D'us. Sua presença e envolvimento com os judeus trouxe-lhes uma consideração especial por parte de D'us; sua morte deixou uma grande lacuna para o povo. Como suas qualidades ímpares que haviam merecido o poço estavam ausentes, o poço deixou de funcionar.

As mortes de Aharon e Moshê deixaram vácuos semelhantes, privando os judeus das Nuvens de Glória e do maná. Na verdade, sempre que uma pessoa justa nos deixa - seja para ir para o mundo vindouro ou a outro lugar qualquer nesta terra - sentimos um grande senso de perda. Quando a Torá descreve a viagem de Yaacov de Canaã a Charan (onde vivia seu tio Laban), faz uma adição reveladora: "Yaacov deixou Be'ersheva e foi para Charan" (Bereshit 28:10). Obviamente, o ato de partir é significativo. A este respeito, Rashi cita um Midrash que declara: "A partida de um justo de um lugar deixa uma impressão indelével."

O Yaafe Toar explica que, para onde quer que um tsadic vá, ilumina os arredores (tanto espiritual como fisicamente) com sua sabedoria de Torá. Ele concede um senso de dignidade a todos que estão em sua presença, honrando-os e sendo honrado por eles, e oferece inestimável conselho da perspectiva da Torá. Como um modelo vivo da Torá, o tsadic estabelece um exemplo positivo e influente para aqueles ao seu redor.

Talvez isso possa ajudar a esclarecer a mitsvá de "E a Ele te apegarás" (Devarim 10:20). Não podemos apegar-nos fisicamente a D'us porque Ele não é físico. Nossos rabinos portanto explicam que devemos agarrar toda oportunidade de associar-nos com indivíduos justos e piedosos, judeus que estão imersos na Torá de D'us e cujas próprias ações refletem aquela imersão. Certamente os tsadikim são mortais, mas sua influência penetrante e poderosa pode ajudar-nos a ficar mais próximos de D'us.

Uma lição prática emerge de tudo isso. Toda vez que encontrar uma pessoa assim, a oportunidade está batendo - até mesmo a interação mais básica tem um efeito garantido. Você pode aperfeiçoar seu Judaísmo fazendo negócios, almoçando, ou simplesmente apresentando-se a esta pessoa. Além dos dons que a comunidade recebe pelo mérito de um justo, o próprio tsadic beneficia a comunidade; sua simples presença é um presente em si.