Pessoas gordas teriam de fazer dieta se quisessem consultar o médico, li em uma reportagem no jornal. A proposta sendo lançada era a de que pacientes teriam de assinar contratos com seus médicos, comprometendo-se a perder peso, ou parar de fumar, ou fazer mais exercícios, e aqueles que deixassem de fazê-lo perderiam o direito a tratamento grátis. Xiii… pensei eu, lembrando minha batalha perdida contra alguns kilos a menos. Que idéia maluca – perder os serviços de seu médico quando você mais precisa deles.
Um dos erros mais comuns que cometemos é levar uma vida não saudável e depois culpar D’us quando ficamos doentes.Mas então lembrei-me de Maimônides, o notável rabino da Idade Média, e um dos mais destacados médicos de seu tempo. E o mais fascinante é que ele fez a mesma sugestão há mais de 800 anos. Ele escreveu uma obra pioneira de medicina preventiva – com conselhos fortes e corretos sobre dieta, exercício, higiene e sono. E o estranho é que ele não fez isso como um manual da boa forma, mas como parte de seu clássico código da lei judaica. O corpo é um presente de D’us, e portanto ele afirmava que temos o dever religioso de cuidar dele. Um dos erros mais comuns que cometemos, dizia ele, é levar uma vida não saudável e depois culpar D’us quando ficamos doentes.
Em breve estaremos celebrando a Festa de Shavuot – quando nos lembramos da entrega dos Dez Mandamentos a Moshê e aos judeus, o ponto culminante da jornada de sete semanas do Egito ao Monte Sinai, da escravidão ao grande momento da revelação – a jornada dos direitos às responsabilidades da liberdade. Ao outorgar aos israelitas um conjunto de leis, foi como se D’us estivesse dizendo: “Eu os protegerei, mas vocês precisam fazer sua parte. Eu os ajudarei, mas vocês têm de me ajudar a ajudar vocês.”
A Torá tem um nome para este tipo de parceria. Chama-se pacto, significando que ambas as partes se comprometem mutuamente, cada qual concordando em manter seu lado do acordo. E eu sempre senti que pacto é um modelo não apenas para nosso relacionamento com D’us, mas para os relacionamentos em geral – com nosso parceiro no casamento com quem partilhamos a vida, com os professores que cuidam de nossos filhos, e com os médicos que cuidam de nossa saúde.
Portanto, talvez a idéia de um pacto entre médicos e pacientes não seja tão maluca, afinal. Eles nos ajudam, mas temos de ajudá-los a nos ajudar. Então, apesar do fato de que as Festas Judaicas geralmente envolvem uma boa quantidade de comida, este ano vou optar por um pouco menos de alimento para o corpo e um pouco mais para a alma – na esperança de que meu médico continuará a me atender, ou melhor ainda, de que não precisarei vê-lo.
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