De acordo com pesquisas, nossos cérebros têm uma necessidade química, física e psicológica de unidade. E isso, acredito, explica muita coisa.
Ajuda a explicar por que certas atividades — mesmo sem prazer físico — são profundamente satisfatórias. Em seu livro, Good Chemistry, a Dra. Julie Holland escreve:
“Como somos farmacologicamente programados para sermos altruístas, não egoístas, as mesmas áreas do cérebro que se acendem quando gostamos de comer também se acendem quando somos altruístas.
A questão principal é esta: doar é bom. É suposto ser. É bom para o nosso corpo, alimenta a nossa alma e nos ajuda a sair da nossa mente e a entrar na experiência de outra pessoa por um tempo. Com a nossa sensação de separação em segundo plano, um sentimento de conexão preenche o vazio. Se nos sentimos pertencentes, o cérebro fica feliz e o corpo acompanha.”
Em outras palavras, cumprir uma mitsvá não é bom apenas porque é a coisa certa a fazer. É bom porque reafirma nosso senso intrínseco de conexão — com os outros, com algo superior, com o próprio universo. Combate a dor da desconexão, do deslocamento e da solidão.
No fundo, nossos cérebros são programados para se sentirem conectados. E quando não nos sentimos, a dissonância é real e muitas vezes dolorosa. Então, buscamos conexão. Real ou não. Saudável ou não.
E essa busca explica uma quantidade enorme de comportamento humano: o apelo das drogas, do álcool, de relacionamentos prejudiciais, de comportamentos obsessivos, até mesmo do uso excessivo das redes sociais — todas tentativas de se sentir parte de algo. De não se sentir sozinho. De se sentir unificado.
Já sabemos disso, mesmo que tenhamos usado palavras diferentes para descrever. Inúmeras fontes da Torá descrevem o anseio da alma por D'us como um anseio inato e irreprimível. “Pois esta é a natureza da alma Divina — ansiar e desejar unir-se à sua raiz e fonte, a Luz do Infinito, com um anseio intenso, como uma chama ansiando por retornar à sua fonte”,1 escreve o Rabino Schneur Zalman, fundador do Chabad.
O que a neurociência identifica como uma “necessidade de unidade”, nossa tradição descreve há milênios: a necessidade da alma por D'us.
Os cientistas enxergam parte do quadro — o impulso do cérebro para se conectar —, mas muitas vezes ignoram a verdade mais profunda: o cérebro precisa de unidade porque a alma precisa de D'us. O anseio do cérebro é apenas uma sombra do anseio mais profundo da alma.
Ainda assim, para mim, essa ênfase na necessidade de unidade do cérebro é útil. Serei honesto: nem sempre sinto que estou "ansioso por D'us". Sei que, no fundo, minha alma anseia, mas nem sempre sinto isso.
O que sinto, no entanto, são os momentos de conexão. Quando caminho na natureza, tenho uma conversa profunda com alguém que amo ou ajudo alguém necessitado, sinto-me alinhado. Sinto-me inteiro. Sinto-me bem. E agora eu sei: esse sentimento não é aleatório. Não é trivial. É um vislumbre, por mais tênue que seja, da minha alma se conectando a D'us.
Posso achar mais fácil me relacionar com minha necessidade de unidade do que com minha necessidade de D'us. Mas tudo bem — contanto que eu me lembre de que a unidade não é o fim, mas o caminho. Reconhecer esse impulso é uma maneira de chegar lá.
Na verdade, essa nova pesquisa sobre a estrutura do cérebro pode até construir emuná. Por quê? Porque a explicação secular para a nossa propensão à unidade parece cada vez mais inadequada. Pesquisadores afirmam que o cérebro desenvolveu esse sistema de recompensa como uma vantagem evolutiva. Como estamos mais seguros em grupos, nossos ancestrais, que se sentiam bem ao se conectar com outros, tinham maior probabilidade de sobreviver e se reproduzir. Então, agora, estamos programados para buscar conexão.
Honestamente, essa parece uma explicação fraca, da mesma forma que alguns cientistas explicam por que os animais se sacrificam para proteger seus filhotes. Eles dizem que o animal é "programado" para preservar a espécie. Mas... por que um animal se importaria com o futuro da espécie? De onde veio esse impulso? Por que ele se sobreporia à sobrevivência pessoal?
O anseio do cérebro é apenas uma sombra do anseio mais profundo da alma.As explicações não fazem sentido — a menos que você olhe um pouco mais a fundo.
Quando reconhecemos a verdade espiritual por trás dos padrões físicos, tudo começa a fazer mais sentido. O universo tem unidade fundamental porque foi criado por D'us, Que é Um. A desunião parece errada porque, no cerne da existência, tudo deve estar unido. A dissonância que sentimos quando estamos desconectados não é uma falha no sistema, é um sinal da nossa alma.
Portanto, seja um animal protegendo sua prole, um humano buscando uma comunidade ou uma mitsvá cumprida por amor, todos refletem a mesma verdade: fomos feitos para nos conectar — e não apenas uns com os outros, mas com Aquele que nos criou.
Chame isso de necessidade de unidade do cérebro ou de anseio da alma por D'us … a conclusão é a mesma: temos um impulso natural para nos unirmos a algo maior do que nós mesmos. E esse impulso, em sua raiz, é um dom Divino.
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