Minha família e eu ingressamos numa nova fase de nosso judaísmo: começamos a cumprir as leis de Cashrut. Isto não foi uma decisão rápida ou fácil. Para dizer a verdade, não o foi até que se tornou claro para mim que, como mulher judia, eu não poderia mais viver de nenhuma outra maneira; só então assumimos o compromisso.

Eu alcançara o ponto em que não podia conciliar certas contradições em nosso estilo de vida. Meu marido e eu já fazíamos questão de chamar nossa filha por seu nome hebraico, jejuávamos no Yom Kipur e comíamos matsá em Pêssach. Mas, a meu ver, esta manifestação de nossa identidade judaica parecia vazia sem a integração do judaísmo em nossas vidas cotidianas que a Cashrut proporciona.

Agora, após anos observando Cashrut, ainda não posso formular em palavras quão precioso o modo de vida casher tornou-se para mim. Ademais, deduzo um grande senso de realização e satisfação pessoal de saber que a Cashrut faz parte da minha vida. O senso de controle que adquiri ao observá-la difundiu-se por todas as áreas da minha vida. Como família, fomos mais aproximados um do outro em aspectos indefiníveis - em detalhes que só posso atribuir ao papel desempenhado pela Cashrut em nossas vidas.

A esta altura, embora minha família e eu não possamos sequer imaginar comer alimentos que foram componentes básicos de nossa dieta alguns anos atrás, a transição ainda parece nova. E, de certa maneira, a mudança ainda não acabou, pois estamos sempre aprendendo e evoluindo. Como uma relativa recém-chegada à Cashrut, posso me identificar com outros recém-chegados ao mundo da vida casher. A alegria, os temores e a confusão estão todos frescos em minha mente. Gostaria de compartilhar alguns conselhos e soluções de uma maneira que, espero, possa encorajar e auxiliar a outros que desejam desenvolver este aspecto de seu judaísmo mais plenamente.

Não há como negar que, de uma maneira ou de outra, a Cashrut mantém um status importante na alma de cada judeu, embora os obstáculos imensos para observá-la sejam notáveis desde o seu início. No meu caso, a aparente miríade de leis intrincadas e diferenças de costumes, o tradicional estereótipo da comida casher como enjoativa e limitada, as pressões sociais dos negócios, da família e dos amigos - todos associados para criar barreiras colossais, apesar da urgência da minha necessidade de observar a Cashrut pareciam infindáveis.

Com meu marido e minha jovem filha, enfrentei e superei estes temores. Lemos livros, fizemos reuniões familiares e nos encorajamos um ao outro até que os empecilhos que nos separavam da vida Casher foram caindo, um por um. Juntos, penetramos em um mundo no qual encontramos tanta variedade em experiência culinária e oportunidade social quanto desfrutávamos previamente, em certos casos, criando novas ocasiões não apenas para nossas práticas culinárias como também para nossos encontros com amigos.

O começo

Observar Cashrut é uma mudança de estilo de vida. No entanto, é uma alteração positiva, que não deve acontecer de um dia para o outro. Assim como uma mulher que está esperando seu primeiro filho pode ter dificuldades em imaginar-se cuidando da criança quando tiver dez anos de idade, um recém-chegado à Cashrut pode sentir-se pasmado ao deparar com uma pessoa que mantém Cashrut durante toda a vida.

Como podemos transmitir um processo do dia-a-dia através de troca de idéias, quando a única maneira de entender um estilo de vida é vivê-lo?

Portanto, a melhor forma de um recém-chegado à Cashrut poder integrá-la à sua vida é introduzi-la lentamente. Uma boa idéia é "treinar" ser casher por algum tempo, antes de realmente casherizar sua casa. Doe todos os alimentos não-casher (por favor, ofereça-os a amigos não-judeus, que não tem por obrigação cumprir este mandamento, ou você acabará sentindo-se como uma hipócrita!) e pratique comendo em pratos descartáveis.

Mantenha os alimentos de carne e leite separados. Durante este período de experiência, você poderá optar por experimentar diversos níveis de Cashrut- comprando somente carne Casher ou comendo comida vegetariana, familiarizando-se com os diversos tipos de supervisão rabínica. Uma vez que você esteja pronta para começar a casherizar a sua casa, a transformação no estilo de vida já terá sido, em grande parte, alcançada. O ato final de casherizar os utensílios e de fazer as aquisições apropriadas irá, a esta altura, ser o auge dos seus esforços. Uma mudança significativa no estilo de vida terá sido conquistada lenta e sensatamente.

Ao fazer a transição de uma dieta não-casher para a casher, você ficará satisfeita em saber da disponibilidade de uma ampla variedade de alimentos e da flexibilidade que é possível dentro da estrutura da Cashrut. Como uma família, acho que o nosso maior medo quanto a cumprir as leis de Cashrut era o de perder nossa identidade culinária. No entanto, a Cashrut, ao invés de limitar minhas habilidades culinárias, expandiu-as.

O primeiro e mais óbvio desafio que a Cashrut apresentou foi como continuar a cozinhar os velhos pratos favoritos, mantendo-os casher. Através de experiências, substituições e dicas de amigas, descobri que havia muito pouco sacrifício envolvido, se é que havia algum, em usar novas versões dos meus pratos prediletos. E graças à "fase vegetariana" pela qual passei antes de meu casamento, eu tinha uma grande quantidade de receitas vegetarianas que exigiam pouca ou nenhuma adaptação para cumprir os requisitos da Cashrut. A viabilidade sempre crescente de alimentos com a supervisão apropriada de Cashrut me encorajou a cozinhar uma multiplicidade de pratos que variam desde uma comida simples até uma iguaria sofisticada.

Na realidade, manter a Cashrut, por sua própria estrutura, facilita o planejamento das refeições. Falando honestamente, quantas vezes em nosso dia-a-dia somos contumazes no intuito de preparar uma refeição sofisticada? Na maioria das vezes, quando a hora do jantar está se aproximando, você está normalmente muito cansada e com fome demais para passar duas a três horas criando uma experiência gastronômica inesquecível. A maior parte de nós recorre a um repertório estabelecido de velhos pratos padrões: segunda-feira, guisado de legumes; terça-feira, peixe grelhado; quarta-feira, frango ensopado, etc.

Ao observar a Cashrut, embora você provavelmente ainda não queira despender esforços extraordinários ao cozinhar na maior parte dos dias, o caráter da refeição é realçado pela simples decisão de servir carne, leite ou alimentos pareve. Um jantar se torna algo mais que omeletes de queijo - ele é de laticínios, com uma multiplicidade de possibilidades de pratos complementares e sobremesas. E quando comer carne, você ficará surpresa com a quantidade de guarnições e sobrepastos que você poderá fazer sem usar derivados de leite. Em vez de apelar para uma batata assada com manteiga para acompanhar um jantar com bifes, você poderá optar por macarrão de espinafre com molho de tofu e gergelim, arroz à grega ou abobrinha cozida no vapor.

Conselhos

Quanto a lidar com outros aspectos da vida que podem criar dificuldades quando se inicia um estilo de vida casher; eu recomendaria uma relação judaica venerável: a do Mashpia, um conselheiro. Em outras palavras, encontre alguém que já observa Cashrut e com quem você se sinta à vontade, que possa orientá-la. Um Mashpia pode aconselhá-la sobre como facilitar os ajustes familiares e sociais; como determinar um padrão razoável de Cashrut que se adapte ao seu modo de vida particular e ao seu meio ambiente; maneiras construtivas de lidar com os problemas específicos de Cashrut quanto à educação das crianças (como festas de aniversário de colegas de classe), etc.

Um Mashpia é mais do que apenas o rabino ortodoxo em quem você confia para lhe dizer o que fazer com a colher que você pôs na panela errada. Ele ou ela deve ser alguém que a entende e que compreende o fato de que estes ajustes podem ser difíceis se não forem encarados da maneira correta.

A medida que o nosso conhecimento de Cashrut evolui e nós nos tornamos conscientes de mais detalhes, poderemos gradualmente aceitar um nível mais estrito de observância. A cada estágio, critérios claros devem ser determinados.

Finalmente, os ingredientes mais importantes para suavizar os caminhos durante este tempo de transição, especialmente quando defrontando com conflitos familiares, amigos ou colegas - são a comunicação associada com a diplomacia. Relembrando meus próprios equívocos, recomendo que você se certifique de ser tão ou mais diplomática com os membros de sua família, quanto você seria com amigos ou estranhos. Freqüentemente, as situações mais difíceis surgem nas casas de outras pessoas que observam Cashrut, mas que podem não ter assumido os mesmos costumes e precauções que você. Entretanto, cada relacionamento é singular e, com algumas pessoas, você pode manter um diálogo aberto de que existem coisas que você simplesmente não come. Com o tempo, essas diferenças vão gerando menos conflito - afinal, você continua sendo você; e os outros chegarão a conclusão de que uma pessoa que se apega tão fortemente ao seu compromisso com a Cashrut, geralmente está determinada a manter outros compromissos pessoais com a mesma profundidade.

Desejo que a Cashrut se torne para você uma experiência tão fortalecedora e positiva quanto foi para minha família. Lembre-se apenas de que você não está só. Existem milhares de famílias e indivíduos que alteraram seus estilos de vida. Cada vez que você vê alguém procurando um artigo com o devido "selinho" rabínico, comprando matsá para Pêssach ou pedindo conselhos num açougue casher, a consciência do vínculo entre você e todos os outros judeus se tornará cada vez mais potente e valiosa. Portanto, relaxe, e siga seu caminho gradualmente; certamente você alcançará suas metas com sucesso.

Por Leah Lederman - Escritora e redatora Independente, recebeu seu titulo de Mestrado em inglês e Redação Criativa na Universidade de New York.