O quarto dos juízes que governaram o povo judeu após a morte de Yehoshua, não foi um homem, mas sim uma mulher, uma das mais famosas de todos os tempos, a Profetisa Devora. Antes dela estavam Otniel, Echud e Shangar, este último apenas por um curto período de tempo.
Após a morte de Echud, os judeus abandonaram os caminhos da Torá e adotaram muitos dos ídolos do povo ao seu redor. Como consequência, D'us os entregou nas mãos do rei de Canaan, Jabin, cuja residência real era a cidade de Hazor. Seu cruel general Sísera oprimiu os judeus durante vinte anos. Sísera possuía um exército de cavalaria bem treinado. Ele também tinha carruagens de ferro que eram os “tanques” daquela época. Os judeus sofreram terrivelmente sob o governo cruel de Sísera, e em grande desespero clamaram a D’us.
Foi então que D'us lhes enviou Devora, a Profetisa. Ela foi uma das sete profetisas cujas profecias estão registradas na Torá.
Devora morava nas montanhas de Efraim, entre Ramá e Bethel. Em meio ao pecado e à idolatria, Devora permaneceu fiel a D'us e à Sua Torá. Ela era sábia e temente a D’us, e as pessoas a procuravam em busca de conselhos e ajuda.
Devora aconselhava as pessoas ao ar livre, sob a sombra de uma palmeira. Lá, onde todos pudessem ouvi-la, ela alertou o povo judeu e os exortou a abandonarem o mau caminhos e retornarem a D'us. Toda a nação judaica respeitava esta grande profetisa.
Devora era esposa de um homem cujo nome era Lapidot, que significa “tochas”. Nossos sábios nos contam que, a conselho de sua esposa, ele forneceu grandes pavios e óleo para as luzes do santuário de Shiló, que queimavam como tochas. Assim, dizem nossos Sábios, foi o efeito desta mulher sagrada em todos ao seu redor: espalhar a luz da Torá. Da mesma forma, nossos Sábios explicam que ela se sentou sob uma palmeira para mostrar ao mundo que o povo judeu estava todo unido e voltando seus olhos novamente para D'us, como as folhas da palmeira que ficam juntas no alto, em direção ao céu.
Devora teve uma tremenda influência sobre o povo, pois mesmo os homens mais fortes e nobres daquela época haviam perdido a esperança de romper a corrente da opressão e da idolatria dos cananeus.
Quando Devora sentiu que havia ajudado o povo a retornar a D' us, ela mandou chamar Barak, filho de Abinoam. Alguns dizem que ele era seu marido, e que “Barak”, que significa iluminação, era outro nome para “Lapidot”.
De qualquer forma, Barak e era o homem mais influente em Israel na época, e Devora pediu-lhe que reunisse um exército de dez mil soldados das tribos de Naftali e Zebulum, no sopé do monte Tabor, nas planícies de Esdrealon. Com este exército ele deveria atacar os opressores cananeus.
Barak recusou-se a empreender esta tarefa sozinho, sabendo muito bem que somente com a ajuda de D'us e inspiração da profetisa Devora eles poderiam ser bem sucedidos nas dificuldades desesperadoras contra as carruagens de ferro e a cavalaria de Sísera. Devora concordou em acompanhá-lo, mas avisou-o que embora ele conseguisse a vitória, a glória não seria dele, mas sim de uma mulher.
Sísera soube da abordagem de Barak e liderou seu enorme exército contra os judeus. Naturalmente, as bem treinadas e blindadas tropas cananéias não tiveram dificuldades no início. Eles rapidamente ganharam vantagem. Mas de repente D'us lançou confusão em suas fileiras. As chuvas transformaram o campo de batalha em lama e as carruagens ficaram presas. Aterrorizados pela súbita mudança dos acontecimentos, os poderosos guerreiros de Sísera fugiram em todas as direções. As exultantes tropas judaicas os perseguiram até a cidade natal de Sísera, Caroshet, e nem um único soldado dos cananeus escapou.
Quando Sísera percebeu sua derrota, ele desceu rapidamente de sua carruagem e fugiu a pé. Procurando um lugar para se esconder, encontrou por acaso a tenda de Héber, o cananita, que era descendente de Yitro, sogro de Moshe. Héber tinha boas relações com Jabin, rei de Hazor, governante dos cananeus, e Sísera ficou muito feliz em aceitar o convite de Jael, esposa de Héber, para ficar com ele em casa até que o exército judeu passasse.
Jael deu-lhe comida e bebida e, exausto da batalha, Sísera logo caiu num sono pesado. Vendo isso, a valente Jael decidiu fazer Sísera pagar por todas as crueldades que cometeu contra o povo judeu. Aproximando-se cautelosamente do guerreiro adormecido, ela enfiou um prego comprido em uma estaca da tenda em sua têmpora, pondo assim fim ao odiado opressor. Nesse ínterim, Barak chegou à casa de Héber, à procura de Sísera. Jael saiu ao seu encontro e cumprimentou-o com estas palavras: “Vem, e te mostrar o homem que procuras”.
Ela então conduziu Barak para dentro da tenda, e lá estava o cruel general, morto. Assim, as previsões de Devora se tornaram realidade: a maior glória dessa vitória pertencia a uma mulher, não a Barak, e a própria Devora glorificou a bravura de Jael na imortal "Canção de Devora".
O famoso Cântico de Devora é em muitos aspectos semelhante ao Cântico de Moshe, que ele e Israel cantaram após o milagre no Mar Vermelho. A extraordinária beleza e encanto de seu poema fazem dele, ao lado da "Shirá" (Canção) de Moshe, a maior de todas as canções poéticas de gratidão a D'us, em nossa literatura sagrada.
Devora começa elogiando os homens de Israel que se consagraram à guerra de libertação:
Então o terror se espalha em Israel;
Então o povo se oferece de bom grado,
Abençoe D'us.
Ouçam, ó reis; dai ouvidos, ó príncipes,
Eu cantarei a D'us;
Cantarei louvores ao D’us de Israel.
Então a profetisa continua a cantar sobre o poder de D'us nos tempos antigos; ela descreve a situação de Israel sob a opressão dos bandos de cananeus, quando todas as viagens nas estradas foram abandonadas e o povo não tinha armas para se defender.
Os governantes cessaram em Israel, cessaram
Até que eu Devora, me levantei,
Ee torne-mei mãe em Israel...
Meu coração está com os governantes de Israel
Que se ofereceram voluntariamente entre o povo
Abençoado seja D'us...
Então sai seu grito de guerra, e as tribos se reúnem atrás de sua bandeira:
Acorde, acorde, Devora, acorde, acorde, cante uma canção!
Levanta-te, Barak, e leva teu cativo ao cativeiro,
Tu, filho de Abinoam!...
Ela repreende as tribos de Israel que demoraram a se unir a ela, preferindo ouvir as flautas dos pastores. Em contraste, ela apresenta o brilhante exemplo de Zebulum e Naftali que ofereceram as suas vidas nos campos de batalha. Depois ela descreve a terrível batalha e os maravilhosos milagres que ajudaram Israel a conquistar a vitória:
Eles lutaram do céu,
As estrelas em seus cursos
Lutaram contra Sísera.
O riacho de Quisom os levou embora, aquele antigo riacho, o riacho de Quisom.
Ó minha alma, pise-os com força!...
No final, Devora elogia a corajosa Jael por ter matado com as próprias mãos o pior dos inimigos de Israel. E ela conclui seu canto de louvor a D'us com estas palavras:
Abençoado acima das mulheres será Jael,
A esposa de Héber, o cananeu,
Acima das mulheres na tenda ela será abençoada...
Aos pés dela ele afundou, caiu, ficou deitado; aos pés dela ele afundou, ele caiu;
Onde ele afundou, lá ele caiu morto...
Então pereçam todos os Teus inimigos, ó D’us;
Mas aqueles que O amam
Sejam como o sol nascendo com toda a sua força.
O objetivo de Devora foi alcançado. Os opressores foram derrotados e os judeus estavam novamente livres para viverem a sua própria vida em paz e segurança. Tanto Devora quanto Barak cuidaram para que os judeus permanecessem leais a D'us, a quem haviam abandonado durante o reinado cananeu. Durante quarenta anos felizes, os judeus viveram em paz sob a sábia tutela de Devora e Barak.
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