Côrach (Korach) foi o líder de uma rebelião contra Moshe e seu irmão Aharon, durante a viagem dos judeus do Egito até a Terra de Israel. Como punição, ele encontrou seu fim ao ser milagrosamente engolido pela terra. Sua história é contada no Livro Bamidbar, na porção que leva o seu nome.
Côrach, o Homem de Estatura
Côrach 1 era bisneto de Levi, o terceiro dos doze filhos de Yaacov, e primo-irmão de Moshe e Aharon, respectivamente, o líder do povo judeu e o Cohen Hagadol, (Sumo Sacerdote). Côrach nasceu no Egito, 2 época em que os judeus eram escravizados pelo Faraó. Ele experimentou o milagroso Êxodo do Egito e a jornada através do Mar Vermelho em terra firme, e recebeu a Torá no Monte Sinai junto com o resto de seus irmãos.
Côrach era extremamente rico 3 e um indivíduo inteligente e astuto. 4 A sua condição de membro da tribo levita permitiu-lhe participar no serviço no Mishkan, o santuário portátil que os judeus levavam consigo durante a sua jornada à Terra Prometida.
Apesar – e por causa – de suas muitas qualidades, ele se sentiu capaz de tomar uma posição contra Moshe e Aharon, o que acabou levando à sua queda.
A Rebelião de Côrach
Côrach estava com ciúmes do fato de Aharon ter sido escolhido como Sumo Sacerdote, com exclusão de qualquer outro. Além disso, seu primo Elitzafan havia sido escolhido como chefe da família levita de Kehot, à qual Côrach pertencia, 5 e Côrach sentiu que esta posição era sua por direito.
Estas queixas pessoais levaram Côrach a encenar uma rebelião total. Acompanhado por Dathan e Abiram, desordeiros desde os seus primeiros dias no Egito, ele reuniu mais 250 líderes comunitários para a sua causa. Juntos, eles confrontaram Moshe e Aharon e alegaram que ele havia nomeado seu irmão como Sumo Sacerdote por sua própria vontade, e não instruído por D'us. Eles exigiram ainda que todos pudessem servir como Sumos Sacerdotes.
Moshe respondeu que isso era impossível, pois apenas uma pessoa poderia assumir este cargo sagrado. Para demonstrar que Aharon foi de fato ordenado pelo Céu, ele instruiu todos a pegarem incensários no dia seguinte e oferecerem ketoret (incenso) diante de D’us, e D'us aceitaria o sacrifício daquele que Ele considerasse digno.
O grupo de Côrach cresceu em tamanho, pois durante toda a noite ele atraiu milhares de pessoas para a sua revolta. No dia seguinte, os 250 homens aproximaram-se do santuário com os seus recipientes cheios de incenso.
Morte Milagrosa
Neste ponto, Moshe advertiu os judeus para ficarem longe das tendas de Côrach, Datan e Abiram. Dirigindo-se à multidão, ele predisse o castigo que lhes cairia: a terra abriria uma fenda e os engoliria vivos.
Quando Moshe terminou de falar, a terra realmente se abriu e engoliu Côrach e seus dois companheiros junto com suas famílias e posses, para nunca mais serem vistos. Ao mesmo tempo, um fogo celestial surgiu e consumiu os 250 portadores de incenso.
As consequências
Como um lembrete à nação do resultado calamitoso da rebelião, o filho de Aharon, Elazar, foi instruído a derreter os incensários e transformá-los em pratos para cobrir o altar do Tabernáculo.
Para demonstrar ainda mais que Aharon foi escolhido por ordem Divina, cada tribo foi instruída a dar um cajado a Moshe, no qual estava inscrito o nome do líder da tribo. No bastão da tribo de Levi estava inscrito o nome de Aharon. Moshe. colocou os cajados no santuário diante da Arca da Aliança e, na manhã seguinte, descobriu-se que o cajado de Aharon havia florescido milagrosamente e produzido amêndoas.
Além disso, D’us solidificou a posição de Aharon concedendo a ele e a seus filhos vinte e quatro dons sacerdotais.
Os descendentes de Côrach
A princípio, os três filhos de Côrach, Asir, Elcana e Aviasaf, juntaram-se à revolta do pai. Porém, logo depois, eles se arrependeram de suas ações e não participaram da revolta. Como resultado, eles foram poupados do destino do pai e sobreviveram. 6 Na verdade, os descendentes de Côrach estavam entre os levitas que cantavam no Templo Sagrado, 7 e vários salmos que constam no Tehilim8 foram compostos ou cantados 9 por eles. Entre os descendentes de Côrach estava o famoso profeta Shmuel, ungido dos primeiros reis de Israel, Shaul e David. 10
De fios azuis e batentes de porta
O Midrash aborda parte do drama da revolta de Côrach. Côrach tentou minar a liderança de Moshe apontando leis que ele considerava ilógicas.
Ele começou focando na mitsvá de tsitsit, o mandamento de prender fios nos quatro cantos de nossas vestimentas, um dos quais deveria ser de preferência lã tingida de azul. 11 Côrach preparou 250 mantos sem tsitsit, mas que eram feitos de lã tingida de forma semelhante, e os distribuiu aos seus apoiadores.
“Essas capas exigem tsitsit?” ele perguntou. “Sim, eles requerem”, respondeu Moshe. Começaram a zombar: “Para uma roupa de outra cor basta um fio de lã tingido, mas quando se tinge uma roupa inteira não basta a sua cor?!”
Côrach continuou a desafiar Moshe: “Será que uma casa repleta de rolos de Torá requer uma mezuzá [o pergaminho afixado no batente da porta, no qual a oração Shemá está escrita]?”
“Sim, é verdade”, respondeu Moshe.
“Se um rolo inteiro da Torá não é suficiente”, provocou Côrach, “como pode um único parágrafo ser suficiente?! Você não recebeu esses mandamentos de D'us; você os criou sozinho!” 12
Nas Mãos de Uma Mulher
Outra passagem do Midrash contrasta Côrach e outro ex-companheiro chamado On ben Peleth. Concentrando-se no versículo de Provérbios, 13 “Uma mulher sábia constrói a sua casa, enquanto a tola a destrói”, o Talmud afirma: “Uma mulher sábia constrói a sua casa - isto se refere à esposa de On ben Peleth; O tolo a destrói — isto se refere à esposa de Côrach.”
O que aconteceu? Côrach sozinho não teria instigado esta discussão, se não fosse pela insistência e encorajamento de sua esposa. A esposa de On, por outro lado, salvou o marido de ter o mesmo destino que seus colegas.
Após convencê-lo a abandonar suas fileiras, ele perguntou: “O que devo fazer? Eu juntei-me à conspiração e jurei que se eles me convocassem, eu irei!” “Não se preocupe”, ela respondeu. "Eu cuidarei disso."
Depois de dar vinho forte ao marido e colocá-lo para dormir na tenda, ela sentou-se na entrada e soltou seus cabelos, que normalmente cobria por motivos de pudor. Sempre que alguém vinha chamá-lo, vendo uma mulher vestida de maneira modesta na entrada da tenda, ele voltava. Dessa forma, a vida de seu marido foi salva. 14
A Reclamação de Côrach: Um Olhar Mais Profundo
A conexão de um judeu com D'us consiste em duas dimensões: a conexão espiritual alcançada através do estudo da Torá e da contemplação do Divino, e a conexão realizada através do cumprimento das mitsvot (mandamentos) de D'us, a maioria das quais envolve atividades e objetos materiais.
Côrach entendeu que as realizações espirituais de Moshe e Aharon superavam em muito as suas. Mas foi em relação às mitsvot que ele contestou a sua supremacia. Ele argumentou que o foco principal da Torá está no lado prático da vida judaica e no cumprimento físico dos mandamentos de D'us. A este respeito, afirmou ele, todos os judeus são iguais; a colocação de tefilin realizada por Moshe era exatamente igual à colocação realizada pelo judeu mais simples. Por que eles deveriam reinar supremos aqui também?
Contudo, D'us deseja não apenas o cumprimento físico das mitsvot, mas também que sejam realizadas com kavaná, a intenção espiritual adequada. Assim, embora o cumprimento real das mitsvot por Moshe e Aharon não tenha diferido daquele de qualquer outra pessoa, a intenção com a qual eles as cumpriram variou grandemente, e D'us considera a intenção tanto quanto a ação. 15
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