Antes da pandemia, meu marido e eu aproveitávamos todas as oportunidades para viajar para lugares únicos. Embora cada viagem tenha deixado muitas impressões memoráveis, algumas experiências foram tão únicas que se tornaram parte de quem somos.
Assim foi nossa viagem a Manaus, cidade às margens do rio Negro, no noroeste do Brasil, que estávamos usando como ponto de partida para nossa aventura na vida selvagem na Amazônia.
Antes de começar nossa jornada, entramos em contato com o rabino Arieh e a Rebetsin Devorah Lea Raichman, emissários de Chabad em Manaus por mais de 10 anos, para perguntar sobre a disponibilidade de comida casher. Aprendemos que Chabad sempre garante que os judeus tenham suas necessidades espirituais atendidas, especialmente quando estão longe de casa. Felizmente, estávamos corretos nessa suposição, e nosso pedido tornou-se um meio de conhecermos o trabalho dedicado dos Raichmans.
Nosso destino foi o luxuoso Hotel Ariau, o primeiro do gênero na Amazônia. Enquanto caminhávamos para o nosso quarto, fomos abordados por macacos para ver se tínhamos alguma fruta ou outros doces conosco. Durante a noite, por mais que estivéssemos dormindo, acordávamos quando a natureza surgia e os muitos animais nos alertavam sobre sua presença. Nem precisamos dizer o quanto entusiasmados esteavamos com esta aventura única na vida!
“Quando os Tamarkins entraram em contato, estávamos nos estágios iniciais da organização do nosso centro Chabad, e minha incrível esposa conseguiu preparar todas as refeições. Seria a primeira refeição casher do hotel preparada na Amazônia e, infelizmente, a última, pois pouco depois de sua estadia, dívidas do hotel fez com que fechasse e assim permanece até hoje.” Lembra o rabino Arieh Raichman.
Graças aos shluchim, recebemos refeições casher especiais, entregues a nós de barco. Depois de um dia nadando com golfinhos cor-de-rosa, explorando a vegetação da vida selvagem, brincando com crocodilos bebês e pescando piranhas, voltamos ao nosso hotel para participar do delicioso jantar casher, duplamente embrulhado.
Crescendo na antiga União Soviética, meu marido e eu não tínhamos conhecimento de nossa herança judaica. Quando nos casamos, decidimos construir uma família de acordo com os valores da Torá, mas levou anos até que nos sentíssemos confortáveis com as leis desconhecidas. Lentamente, adotamos a cashrut e muitas outras mitsvot, e com cada uma delas nos comprometemos a não vacilar em sua observância. Embora cada pequeno passo ao longo de nossa jornada possa parecer insignificante, juntos eles criaram uma escada sobre a qual subimos em direção ao nosso objetivo.
Nossos sábios interpretam uma passagem do Midrash Rabá, Cântico dos Cânticos (5:2): “Abra uma porta tão pequena quanto o buraco de uma agulha, e Eu abrirei seus portões o suficiente para deixar carros e carruagens puxadas por cavalos passarem. ”
Ao tomar a iniciativa e permitir que D'us entre em nossas vidas através de um “pequeno buraco” de lento crescimento, mas consistente, eventualmente merecemos experimentar uma luz exponencialmente maior.
Depois de alguns dias no hotel, voltamos para Manaus e jantamos no Chabad House com a família Raichman. Na época, tínhamos planos de ajudar a construir um micvê em nossa cidade natal, Filadélfia. Os Raichmans compartilharam seus planos de fazer o mesmo em Manaus. Foi incrível compartilhar a refeição discutindo ambições semelhantes para nossas respectivas comunidades. Embora eles estivessem geograficamente tão distantes como você pode observar no mapa, os problemas permanecem os mesmos, seja sobre comida casher ou imersão ritual.
Na época, o rabino Raichman também ajudou a organizar uma visita ao micvê para mim no Rio de Janeiro, enquanto meu marido e eu continuamos nossa viagem de volta da Amazônia. Esta foi mais uma oportunidade para levar meus valores e tradições comigo, onde quer que nossas viagens nos levem.
Certa vez li uma citação do major-general Louis H. Wilson: “A verdadeira genialidade não está em fazer coisas extraordinárias, mas em fazer coisas comuns extraordinariamente bem”.
Essas palavras servem como um lembrete de que um compromisso autêntico com uma vida comum alinhada com o propósito da alma cria um canal para a Divindade. Ao permanecer fiel à sua missão e propósito, cada momento – não importa onde você se encontre na face da terra – se torna uma oportunidade de se conectar à verdade inabalável da Torá, experiências significativas e a sabedoria eterna de nossa herança.
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