“Se você está procurando por Judaísmo místico, tenho de enviar você para Chabad,” disse Robert Frazin, rabino do Templo Solel em Hollywood, Flórida, para Paul Sussman.
Ele então apertou o botão de intercomunicação pedindo que seu secretário trouxesse a última edição do jornal judaico local. Seu rosto estava vermelho e parecia haver suor sobre seu lábio superior antes de conseguir contato com a informação que ele localizara num anúncio para Rabino Raphael Tennenhaus, do Chabad de Hallandale.
Era 1988, e Paul tinha participado do bar mitsvá de seu filho. Ele tinha ido ao escritório do rabino para explicar a ele que não podia ser um freqüentador regular, pois os serviços nada tinham para oferecer a ele. Paul disse que ele iria, no entanto, valorizar um referendo em sua procura por meditação judaica genuína que iria transformar em ação e engendrar aperfeiçoando suas qualidades e caráter.
Embora eu pai tivesse crescido numa família estritamente religiosa, Paul fora criado em Washington Heights, Nova York, num lar praticamente sem religião e tradições. Ele foi enviado para escola hebraica em preparação para seu bar mitsvá, e seu pai continuou a dirigir o Seder de Pêssach na casa de sua avó até ela falecer, mas esses esforços foram superficiais. Ingênuo demais para entender as zombarias dos meninos irlandeses no bairro que o chamavam de “judeu sujo”, ele não compreendia que não era a sujeira que inspirava o insulto. Mas era exatamente este senso de distância e falha em compreender religião que marcava o Judaísmo como algum tipo de força estranha à qual ele não queria participar.
O melhor amigo de Paul, Harold Zimmerberg, no curso secundário em White Plains, Nova York, era um gênio que podia entender tudo em que colocasse a sua mente. Enquanto Paul estava na escola de negócios na Universidade de Boston, Zim foi a Harvard e então partiu para a Índia para encontrar seu guru. Quando retornou, ele se conectou com um monge tibetano.
Paul se considerava um ateu àquela altura; ele tinha explorado ioga e existencialismo na escola, mas não queria se perder em algo que Zim considerava importante, e durante a próxima década, ele estudou budismo e meditação. Filosoficamente, a ideia de transcender a si mesmo através da meditação e clarear a mente interessavam a Paul. Os livros que ele lia vorazmente sobre a ilusão do ego atingiu seu âmago, ele já meditava por sete anos. A certa altura, embora nunca vencesse a batalha de transcender a si mesmo, durante momentos silenciosos quando a conversa o aquietava ele tinha um senso de alguma coisa – talvez Divina – além da sua compreensão. Era o mais doce dos sentimentos, mas antes que ele pudesse começar a processar o que estava acontecendo, aquilo ia embora.
Uma aldeia no Tibete:
A Busca Por Uma Verdade Mais Elevada
Em 1985, Zim faleceu da doença de Huntington. A essa altura, Paul estava divorciado com dois filhos e morando na Flórida. Ele não tinha o benefício de uma esposa que o apoiasse ou uma comunidade para ajudá-lo a processar as profundas perdas em sua vida. Ele não se considerava um budista e não ia a reuniões ou cerimônias, mas algo que um monge tinha dito estava em sua mente:
“Se procurar a verdade espiritual, você não pode cavar um pouco aqui e ali; você tem de decidir intelectualmente onde a verdade mais elevada está e cavar ali muito profundamente.”
Procurar por aquela verdade mais elevada e entender do que é a existência é tudo para que ele pudesse atingir um nível de paz e serenidade. Paul resolveu passar três semanas e meia num Monastério Budista Tibetano no Nepal. Ele não estava buscando fenômenos – nem necessariamente religião ou D'us. As meditações e instruções o fizeram sentir que talvez ele tivesse encontrado um sistema que poderia trazer-lhe paz permitindo controlar sua mente e superar maus hábitos. Ele tinha ido exatamente por esse motivo; para transcender o ser e o ego.
Quando parecia que seu tempo estava chegando ao fim, o professor instrutor de Paul disse a ele que o monastério estava repleto de atividades para ele. Forneceu a Paul um contrato individualizado para ir a um hotel próximo e meditar durante dez horas por dia com os olhos bem abertos, não pensando em nada enquanto estivesse sentado numa almofada no chão sem encosto. Após uns poucos dias dessa rotina, o professor chamou-o e disse a ele para retornar para casa, mas continuar a meditar e para designar um dia ao mês no qual iria sentar e meditar durante dez horas seguidas.
Deixando o monastério, Paul encontrou um primo que voou para Katmandu para encontrá-lo para um safári selvagem nepalês, completado com tours para ver animais exóticos como rinoceronte com um chifre e tigres de Bengala. Eles ficaram no acampamento Tiger Tops dirigido pelos himalaios e às vezes ficando em tendas, montando elefantes e remando em canoas em rios repletos de crocodilos, explorando a paisagem intimamente sob diferentes perspectivas.
Uma noite, quando estavam apreciando a fogueira do acampamento após um longo dia repleto de aventuras, o primo de Paul disse: “Ei, ali está o famoso escritor, Kushner!” Olhando na direção que seu primo apontara, Paul viu que sentado perto dele estava Harold Kushner, autor do famoso livro “Quando Coisas Más Acontecem a Pessoas Boas”.
Harold Kushner estava de férias com sua esposa para relaxar a cabeça antes de começar seu próximo livro. Ao saber da permanência de Paul no monastério, Harold disse: “O que um simpático rapaz judeu como você faz passando um mês num monastério tibetano?”
Paul explicou que era para transcender e dissolver seus pensamentos através de meditação para que ele pudesse evoluir e tornar-se uma pessoa melhor com mais empatia e bondade.
Harold respondeu: “Por que você não estuda meditação judaica?”
Paul ficou surpreso. Não tinha a menor pista de que aquilo existia. “Por que você está surpreso?” perguntou Rabi Kushner. “Nós fizemos isso primeiro. A meditação judaica era uma parte integral da corrente do Judaísmo – a mais antiga religião do mundo. Os budistas não tem nada sobre nós.”
Rabi Kushner disse a Paul que quando ele voltasse aos Estados Unidos, deveria comprar os livros de Rabi Aryeh Kaplan sobre autêntica meditação judaica.
Paul fez exatamente aquilo. Estudou os livros de Rabi Kaplan. Embora os livros de Kaplan não funcionassem para Paul, pois ele tinha seu coração firme na paz neste mundo e não nos âmbitos cabalísticos mais altos, eles tiveram um forte impacto sobre ele. Tinham despertado seu orgulho judaico. Pela primeira vez em sua vida, ele percebeu que “um judeu é um judeu,” e ele não pode negar isso ou sair daquilo.
Judaísmo e Cabalá estavam longe do monastério. A opinião do Dalai lama de que pesquisadores espirituais deveriam primeiro querer preservar a religião de seus ancestrais começou a fazer sentido para ele. Sabia que teria de explorar o Judaísmo por completo.
Foi exatamente nesse momento de na sua vida que Rabi Frazin direcionou Paul para Chabad. Paul ligou e marcou um encontro. Ele ficou chocado quando entrou na pequena sala que era o Chabad de Hallandale e encontrou o barbudo Rabi Tennenhaus de chapéu e casaco pretos. A última vez em que tinha visto alguém com roupa semelhante fora em sua juventude em Washington Heights. Ele não tinha contato com religiosos desde então, mas sua desconfiança permanecia.
“Não sei se vocês me consideram judeu, e além disso, não me importo porque sou filho de uma mãe judia, fui circuncidado e fiz bar mitsvá, e o D'us de Israel sabe que sou judeu,” disse Paul.
Sem piscar um olho, Rabi Tennenhaus perguntou: “Você está aqui pelo que você quer ou pelo que precisa?”
Paul respondeu: “Estou aqui pelo que quero, mas tenho uma boa ideia daquilo que preciso neste 43º ano da minha vida.”
Rabi Tennenhaus e Paul fizeram um acordo. O rabino iria conectar Paul com especialistas em meditação judaica, começando com Rabi Immanuel Schochet, uma renomada autoridade sobre filosofia e misticismo judaico, e Paul manteria a mente aberta e começaria a estudar Chassidut.
Encontrando Uma Conexão Mais Profunda
Paul sentia que finalmente estava em casa num autêntico Judaísmo. Encontrando a verdade mais elevada e uma conexão mais profunda com a vida, ele começou o caminho para resgatar seu Judaísmo.
Ele instantaneamente se sentiu em casa estudando Tanya, apreciando a novidade de conquistar novo território e o interiorizando. “Quando você evolui e reaprende aquilo que aprendeu antes, atinge novas ideias. Você pode ficar virando e virando e descobrir novos tesouros,” disse Paul sobre seus anos de estudo. Por outro lado, seu relacionamento com a prece – dizer as mesmas palavras mais e mais vezes com concentração e fervor renovado a cada dia – era controverso.
Paul explicava que não estava ligado em preces quando Rabi Tennenhaus lhe pedia para frequentar os serviços da sinagoga diariamente. “Você não precisa rezar, apenas vir. Precisamos da sua alma presente para que possamos ter um minyan,” disse Rabi Tennenhaus.
Paul relatou que durante alguns poucos anos, ele sentava e lia The New York Times durante as preces matinais. O Rabino alegremente dizia à congregação que ele estava “vivendo com os tempos”, como o Rebe Anterior instruíra que alguém deveria experimentar em sua própria vida a porção da semana da Torá, especificamente conectado com aquele dia. Após algum tempo, ele percebeu que estava ali mesmo, então por que não fazer aquilo que os outros judeus estavam fazendo? Paul começou a rezar e a colocar tefilin.
“É nossa tradição, aquilo que devemos fazer, e se tornou um ponto chave na minha vida renovar meu vigor e força neste mesmo dia,” ele disse.
Em 1990, Paul ficou chocado quando o Rebe, Rabi Menachem Mendel Schneerson, de abençoada memória, lhe disse que não tinha necessidade de resposta para a carta de duas páginas que ele tinha escrito pedindo orientação ao Rebe para refinar seus traços de caráter. O Rebe disse que a resposta é clara e citou uma seção do livro Vayicrá da Torá começando: “Se você seguir Meus estatutos e observar Meus mandamentos e os cumprir...,” então todas as bênçãos virão (Vayicrá 26 3-13).
“Eu estava sendo informado que o ponto base não é ficar em filosofias esotéricas. Apenas faça. Apenas observe. Este é um mundo de ação. A ação é a essência e mitsvot são o único caminho para altruísmo e para transcender o ego.
“Coloquei meu pé e disse a Rabi Tennenhaus: “Não gosto dessa resposta.”
Ele me deu um tapinha nas costas e disse: “Este é seu mau impulso. Não se preocupe! Você vai superá-lo. E em tempo, eu fiz,” disse Paul. “A crença certa pode levar à ação certa, mas a ação certa é mais importante. É a acumulação daquelas ações corretas que podem transformar aquilo que acreditamos e sentimos.
“Não sei o que eu esperava quando vi o Rebe pela primeira vez, mas a realidade excedeu qualquer coisa que eu poderia ter imaginado. A excepcionalmente poderosa intensidade do Rebe e sua alma abrangente é indescritível, mas ficava claro que ele era o centro de Chabad, capaz de inspiração sobre-humana.
“Meu encontro com o Rebe não apenas aumentou o amor e o respeito que eu já tinha por Rabi Tennenhaus, mas solidificou nosso relacionamento. Eu entendi quem deu a ele suas ordens de marcha. O Rebe poderosamente e apaixonadamente me disse para ficar envolvido com Rabi Tennenhaus e eu fiz isso. Eu sabia que ao apoiar seus esforços que eu, também, poderia desempenhar um papel integral em promover a visão do Rebe de tornar o mundo inteiro um lugar melhor, um lar para D'us.
Tornei-me um membro do Fundo de Desenvolvimento Machané Israel estabelecido pelo Rebe dedicado ao crescimento e continuidade da vida judaica. Em 1992, presenteei o Rebe com os progressos para o novo Hallandale Chabad Center.
“Eu seria negligente em não mencionar meu ilimitado elogio a Rebetsin Goldie, o alicerce da família Tennenhaus. A calorosa hospitalidade que ela estendia aos meus filhos e a mim mesmo em mais de duas décadas de refeições semanais de Shabat infundiram com beleza e vitalidade o Judaísmo e impactaram tremendamente a minha vida.
“Hoje, minha filha é uma judia adulta envolvida com um lar baseado em tradições judaicas; ela apóia causas judaicas e é membro de uma sinagoga. Meus netos – as luzes da minha vida, Miryam e Moshe pelos nossos ancestrais bíblicos – frequentam uma escola judaica diária e recebem uma educação holística judaica.
“Tenho 75 anos de idade. Sou muito grato por ser ricamente abençoado. Sou grato por hoje e esperançoso pelo amanhã. Credito a Chabad, ao Rebe e seu emissário, Rabi Tennenhaus, pela ajuda em vir ao meu encontro dando-me direção e propósito, e toda a boa sorte que nunca imaginei que teria. Sem sombra de dúvida, eu sei que o autêntico Judaísmo é o segredo da sobrevivência, e a sabedoria da Torá é a cura da humanidade.”
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