Boruch Nachshon, pioneiro da arte chassídica contemporânea e uma força liderante por trás do restabelecimento da antiga comunidade judaica de Hebron após a Guerra dos Seis Dias, que extraiu das fontes dos ensinamentos místicos judaicos para criar pinturas profundamente evocativas que “enfatizavam a presença da Vontade Divina na criação,” faleceu em 13 de setembro de 2021 (7 de Tishrei) em Israel aos 82 anos de idade.
Nachshon foi apoiado, encorajado e influenciado em sua vida e trabalho desde muito jovem pelo Rebe, Rabi Menachem Mendel Schneerson, de abençoada memória. Durante uma visita em 1979 ao Rebe em Nova York, Nachshon perguntou ao Rebe se poderia trazer uma pintura ou duas ao seu escritório. “Por que somente uma ou duas?” Nachshon lembrava da resposta do Rebe sugerindo que em vez disso ele fizesse uma exibição de sua obra na sede de Chabad Lubavitch no 770 da Eastern Parkway no Brooklyn. “Prepare o espaço,” o Rebe disse a ele, “e eu irei à abertura”.
Como estudante de yeshivá em Israel, ele foi aconselhado pelo Rebe que “onde quer que eu vá, devo levar minhas pinturas.” Como um jovem artista aspirante, “o Rebe deu-me uma bolsa de estudos e disse-me para encontrar uma escola de arte onde eu pudesse estudar, mas com condições estritas de elevar a arte numa maneira casher.”
O jovem pintor acatou o conselho, e nas décadas seguintes ele se tornaria um artista internacionalmente aclamado, cuja obra espiritualmente elevada tem atraído muitos elogios no mundo da arte, e cujo trabalho é exposto em galerias e museus ao redor do mundo.
De acordo com uma avaliação crítica publicada pela Kings Gallery em Jerusalém, a arte de Nachshon "cobre uma ampla gama de material temático por meio de abordagens estilísticas igualmente diversas, todas exclusivamente suas. Ele pinta a fim de definir e enfatizar a presença da Vontade Divina ativa na criação, e para inspirar a si mesmo e aos outros, Nachshon pinta aquilo que vê através dos olhos de um pintor inspirado, comunicando aquelas visões ao mundo. Cada uma das suas pinturas pode ser estudada como um texto sagrado, fornecendo inúmeras e vívidas percepções sobre o funcionamento da criação e as promessas feitas para o futuro.”
“Muitas das pinturas de Nachshon descrevem visões do futuro, do mundo após sua Redenção final, de um mundo onde tudo é paz e alegria e onde a revelação da divina beneficência é clara para todos,” continua a avaliação. “Até aquele momento, as pinturas de Nachshon oferecem um vislumbre do que poderia ser, do que deveria ser, e do que será, quando a obra da humanidade tiver atingido sua compleição bem sucedida.”
Jovem Estudante da Yeshivá e Artista Novato

Baruch Nachshon nasceu em 1939, filho de refugiados religiosos da Europa em Haifa, Palestina Mandatória. Ele começou a pintar na infância e se tornou um estudante autodidata de arte durante seus primeiros anos. Quando adolescente, ele estudou na Yeshivá Kerem b’Yavneh, a primeira yeshivá no moderno Estado de Israel que combinava estudo tradicional do Talmud com a preparação para o serviço militar.
Um dia, ele e alguns amigos participaram de um farbrenguen chassídico em Kfar Chabad, onde ele se tornou imediata e indelevelmente atraído pela abordagem Chabad ao Judaísmo.
“Eu não era o candidato ideal para o estudo talmúdico sistemático da yeshivá,” ele disse ao The Jerusalém Post em 2018. “Isso me frustrava. Eu tinha um espírito rebelde. Mas tudo mudou depois que fui convidado para uma celebração de Yud-Tes-Kislev em Kfar Chabad, comemorando a libertação de Rabi Schneur Zalman de Liadi, fundador do Chassidismo Chabad, da prisão na Rússia.
“O nigun, as doces melodias, eram diferentes de tudo que eu já tinha ouvido antes,”lembrou ele. “Isso me levou a escrever para o Lubavitcher Rebe, que morava no Brooklyn, na esperança de que ele pudesse responder às minhas perguntas sobre arte. Eu queria dar vida a diferentes versículos da Torá e dos profetas, a temas de galut (exílio) e gueula (redenção), mas também estava me sentindo frustrado, faltando técnica e habilidade para cumprir meus objetivos. Em sua carta, ele respondeu às minhas perguntas.”
Logo depois, Nachshon se matriculou na Yeshivá Chabad em Lod.
Após a formatura, Nachshonn alistou-se nas Forças de Defesa de Israel , e durante o serviço militar, reuniu rebanhos para as FDI. Ele dizia que foi uma experiência que embutiu nele um amor e apreciação pela natureza, que ganhou destaque em sua obra.
Ao completar seu serviço militar, o jovem artista ficou dividido entre a tentação de viajar para Paris, então o centro cultural do mundo da arte, e seu profundo amor pela Terra de Israel.
Optando por ficar em Israel, Nachshon estudou com Shlomo Nerani, o único aluno do artista Paul Cezanne, com quem ele tinha uma profunda amizade. Nachshon, a quem Nerani via como seu herdeiro espiritual, foi o único de seus alunos com permissão para ver seu professor trabalhando.

Pioneiros em Hebron
Após a Guerra dos Seis Dias em 1967, Nachshon e sua esposa, Sarah, juntaram-se a um grupo de ativistas idealistas determinados a restabelecer a antiga comunidade judaica dentro da recém liberada Hebron. O Rebe os encorajou e concedeu-lhes muitas bênçãos por seus esforços. Esses ativistas compreendiam a suprema importância de estabelecer uma presença judaica na mais antiga das quatro cidades sagradas de Israel, onde uma comunidade judaica existiu durante milhares de anos até o massacre de 67 judeus pelos árabes locais em 1929.
Eles também entenderam que manter uma comunidade judaica em Hebron seria a única maneira de garantir o acesso contínuo de judeus à Gruta de Machpelá, o local de sepultamento de nossas Matriarcas e Patriarcas e o segundo local mais sagrado do Judaísmo, que até 1967 tinha sido barrado aos judeus pelas autoridades muçulmanas por mais de 700 anos.
Três dos filhos dos Nachshons nasceram em Hebron, e o casal repetidamente se arriscava a ser preso ao desafiar as ordens do governo e circuncidar seus filhos recém-nascidos na Gruta de Machpelá, onde Baruch havia estabelecido uma galeria de arte. Quando o mohel, o circuncidador ritual, realizou a primeira circuncisão na Gruta de Machpelá, em mais de 700 anos, ele chorou ao proferir a bênção sobre “a aliança de nosso pai Avraham,” no tumulo do próprio Patriarca.

Em 1979, o jovem artista quintessencialmente lutador viajou para Nova York para exibir sua obra e teve uma audiência com o Rebe, da qual ele mais tarde lembrou sobre em uma entrevista com JEM. O Rebe sugeriu que ele exibisse seu trabalho na sede mundial do Movimento Chabad Lubavitch, o que surpreendeu o artista, que ficou ainda mais comovido quando o Rebe disse que ele iria comparecer a exibição.
Como devotado chassid, aluno e professor do misticismo judaico, Nachshon estava bem ciente da natureza elevada de um tsadik e de um Rebe. Mas o artista lembrou que mais do que qualquer outra coisa naquele dia, “o que o Rebe me forneceu foi um senso de sua graciosidade,” e ficou impressionado com a clareza dos comentários e observações do Rebe sobre os detalhes de seu trabalho.
No final da exposição, o Rebe perguntou: “As pessoas compraram alguma coisa?” O artista pensava, com todas as preocupações do Rebe, quão notável era que o Rebe se importasse com seu sustento. Quando Nachshon respondeu que os preços das suas pinturas eram altos demais para a maioria das pessoas, o Rebe sorriu e sugeriu que ele deveria vender sua arte em todo o mundo e em todas as formas, incluindo gravuras e litografias.

“O que se vê com os olhos é mais satisfatório do que o que se come”, disse o Rebe ao artista. “Quando alguém vê algo positivo em seu lar isso influencia a casa inteira,” Nachshon relembrou anos depois que “Ouvi falar sobre muitas casas onde minha arte ajudou a criar uma atmosfera positiva. Por isso, eu sou afortunado.”
Além de sua esposa, Baruch Nachshon deixa 10 filhos, mais de 70 netos, bem como bisnetos. Ele já havia perdido um filho pequeno, Avraham Yedidya, que foi sepultado no antigo cemitério judaico de Hebron.

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