Um raio de luz e esperança surgiu após 53 dias difíceis e árduos. A família exausta recebeu a bebezinha em sua auspiciosa linhagem e seu mundo desafiante.
O precioso bebê chegou ao mundo num momento crítico. O novo movimento Chabad estava debaixo do fogo. O sagrado fundador – o genial e tsadik Rabi Schneur Zalman de Liadi – tinha sido aprisionado, acusado de traição. Ele tinha enviado fundos para apoiar a nascente comunidade judaica de Hebron. Como a terra de Israel estava sob domínio turco, ele fora acusado de apoiar o império otomano, inimigo do tsar.
Ela chegou ao mundo num momento críticoFinalmente, após 53 dias na infame prisão Peter Paul, ele foi libertado. E naquele mesmo dia, 19 de Kislev de 1798, uma menina especial nasceu para o filho do Alter Rebe e sua nora, Rabi Dov Ber e Rebetsin Shaina. Ela foi chamada de Menucha Rochel.
Seu nome do meio, Rochel, era por uma tia que tinha morrido ainda jovem, enquanto seu primeiro nome, Menucha, captava as esperanças da comunidade. Menucha significa “descanso”, “tranquilidade”.
“A partir de agora, teremos uma pequena menucha,” seu pai disse sobre seu nome, expressando o fervente desejo de que o nascimento dessa menina e a libertação de seu avô estivessem trazendo uma nova fase.
Na verdade, à medida que a menina crescia, ela preenchia as qualidades incorporadas em seu nome, e trouxe bênção especial e menucha espiritual para muitos.
Em 1815, seu pai, o Miteler Rebe, procurava fortalecer a comunidade judaica em Hebron. Uma das quatro cidades judaicas sagradas, Hebron era a base de muita história tradicional. Alem de ser o local de repouso de Adam e Chava, e todos os patriarcas e matriarcas, exceto Rachel, também tinha sido a cidade capital do Rei David. Durante os muitos séculos de exílio, havia sido negligenciada. O Rebe enviou grupos de chassidim para estabelecer a presença Chabad na cidade, encorajando os chassidim moradores em Tzfat e Tiberias a também se mudarem para lá. Ele comprou a pequena sinagoga e lotes de terra perto da histórica sinagoga Avraham Avinus.
Ainda jovem, Rebetsin Menucha Rochel teve uma perigosa doença. Seu pai lhe assegurou que ela iria viver e merecer emigrar para a Terra Santa. Em 1845, aos 47 anos de idade, Menucha Rochel e seu marido, Rabi Yaakov Kuli Slonim, decidiram que chegara a hora. Prepararam-se para deixar os ambientes seguros e famosos da corte de Lubavitch e se mudaram para Hebron. Seu pai tinha falecido, e seu primo, o Tzemach Tzedek, Rabi Menachem Mendel, era o Rebe.
Estava chegando a hora para a caravana partir. Talvez porque sua saúde ainda estivesse tênue, Menucha Rochel disse ao Tzemach Tzedek que ela estava com medo de viajar no inverno, durante as chuvas frias. “Não demore. Você vai viajar entre as gotas de chuva!”
E assim foi.
A primeira parte da viagem era de Lubavitch a Shklov, onde eles mudaram de vagão. Quando o motorista do vagão para aquele grupo chegou a Lubavitch, ele estava repleto de entusiasmo pela sua notável viagem. Nem uma gota de chuva tinha caído sobre seu vagão, ele contava a todos. Em contraste, sua viagem de volta, sem seus ilustres passageiros, foi diferente. As rodas e os cavalos de seu vagão foram profundamente mergulhados num constante adversário – chuva constante e muito barro. Durante o resto de sua vida, o motorista teve grande orgulho em relatar essa história.

Fazer a longa e árdua jornada não era uma coisa simples. Essas viagens normalmente demoravam meses, viajando por charrete e por navio através de terras hostis. E não havia muitas amenidades esperando por eles, pois Hebron era considerada improdutiva, com uma reputação de “ser um asilo para os pobres e os espirituais”, com moradias camponesas, semi-urbanas. Na época, havia cerca de 45 a 60 famílias sefaraditas, e uma comunidade askenazita com cerca de 50 famílias principalmente Chabad.
Quando eles finalmente chegaram, foi a compleição de um círculo. O ilustre pai de Menucha Rochel, o Alter Rebe, tinha sido preso por enviar fundos para Hebron, e agora sua neta, nascida no dia da sua libertação, tinha chegado para fortalecer aquela mesma comunidade.
Os Slonims fizeram muito para revitalizar a comunidade judaica, assim como fizeram seus descendentes. Menucha Rochel logo se tornou conhecida como uma mulher sagrada – famosa pela sua sabedoria, piedade e erudição. Os rabinos, judeus e árabes comuns a tinham em alta estima, e procuravam suas bênçãos e conselhos. Noivas e mulheres estéreis pediam bênçãos a ela.
Várias histórias ilustram seus poderes espirituais únicos, tais como a que segue:
A esposa do líder da gangue estava passando por um problema difícilA comunidade judaica de Hebron foi atacada por uma gangue feroz conhecida como “A Mão Negra”. As maldosas quadrilhas entravam regularmente nas casas judaicas, roubando e saqueando além de fazerem maldições e ameaças cruéis.
Mas um dia, as coisas mudaram.
Um mensageiro chegou à porta de Rebetsin Menucha Rochel com um pedido urgente. A esposa do líder da gangue estava passando por um problema difícil; ela e o bebê estavam em perigo. O bandido feroz estava num momento diferente; não tendo escolha, ele engoliu sua arrogância e implorou por uma bênção.
A resposta dela foi clara. Se o homem cortasse completamente seu reino de terror, então ela daria sua bênção e tudo ficaria bem.
O rufião entendeu imediatamente que deveria parar com a violência. Correu para casa, onde encontrou sua esposa e o bebê saudáveis. Ele cumpriu sua palavra, e os judeus tiveram um longo alívio, vivendo numa menucha pacífica.
Outra história conhecida. Um poderoso árabe tinha controle absoluto sobre as fontes de água de Hebron. Os moradores da cidade tinham de atender suas terríveis exigências para poderem usufruir da valiosa comodidade. Ele usava a extorsão e fazia os judeus sofrerem, especialmente em épocas de grande demanda como Erev Shabat e Erev Yom Tov, as vésperas do Shabat e das festas judaicas. Todos pareciam indefesos devido ao seu domínio.
O homem tinha uma filha, que era a pupila dos seus olhos. Ela ficou muito doente e estava acamada, gemendo de dor. Os médicos não deram esperanças. O rico magnata ficava ao lado da cama dela, indefeso, sendo que sua fortuna e poder não serviam para nada.
Seu amigo teve uma sugestão. “Vá para a avó justa para uma bênção pela recuperação de sua filha. Você não pode perder essa chance.”
Horas de desespero clamam por medidas desesperadas. O proprietário da fonte foi até a casa da Rebetsin Menucha Rochel. Ele encontrou o neto dela, Reb Zev Dov Slonim, e o bombardeou com pedidos frenéticos. Reb Zev Dov foi até a sala de sua avó e disse a ela aquilo que o homem queria. Ela instruiu seu neto a dizer ao homem, em nome dela: se ele prometesse parar de perseguir os judeus de Hebron, a recuperação de sua filha estava garantida.
O magnata concordou imediatamente. Colocou a mão sobre o seu coração e prometeu fazer tudo que a mulher justa dissera a ele, então saiu depressa da casa. Sua filha logo se recuperou.
A partir de então, ele seria visto nas manhãs de sexta-feira, batendo nas portas das casas judaicas, oferecendo barris de água fresca da fonte.
Rebetsin Menucha Rochel foi uma base amada e reverenciada da comunidade de Hebron durante 43 anos. Com a venerável idade de 90 anos, ela sentia que seus dias estavam terminando. Enviou uma carta ao Rebe da época – Sholom Dovber Schneersohn, o Rebe Rashab – informando a ele sobre seu iminente falecimento. Sua notável longevidade significava que ela viveu durante a liderança dos primeiros cinco Rebes de Lubavitch. A Rebetsin faleceu em 24 de Shevat de 1888. Foi enterrada no antigo cemitério judaico em Hebron.

Os descendentes de Menucha Rochel foram líderes importantes na comunidade, que tinha uma crescente população chassídica na época de seu falecimento. Muitos membros da família foram apanhados nas horríveis rebeliões de 1929, quando 67 judeus foram brutalmente massacrados pelos vizinhos árabes com quem tinham vivido pacificamente durante gerações. Shlomo Slonim (1928-2014), um dos poucos sobreviventes, tinha apenas um ano de idade na época.
O túmulo de Menucha Rochel foi destruído durante as infames rebeliõesO túmulo de Menucha Rochel foi destruído durante as infames rebeliões. Foi redescoberto pelo Professor Ben-Zion Tavger. Nos anos de 1970 e início dos anos de 1980, Professor Tavger foi importante em escavar áreas históricas de Hebron que tinham caído em ruínas durante os anos em que Hebron estava sem judeus – a partir de 1929 por causa do perigo após as rebeliões na ocupação da Jordânia, de 1948 até 1967. Locais importantes como a sinagoga Avraham Avinu, usados como curral de ovelhas pelos árabes, foram escavados.
Em 1982, com o encorajamento do Rebe, uma cerimônia memorial foi iniciada no túmulo da Rebetsin, que continua até os dias de hoje. Este local sagrado de descanso é considerado um local auspicioso para rezar e receber visitantes frequentes. No decorrer dos anos, os líderes da reconstruída comunidade judaica e do Beit Chabad de Hebron se reuniram para estabelecer uma yeshivá no túmulo dela, conhecido como Colel Menucha Rochel.
Um grande prédio no centro da comunidade judaica de Hebron tem seu nome, Bet Schneerson/Casa de Schneerson. O Rabino e a Rebetsin Slonim moraram neste prédio, que também serviu como base para a comunidade Chabad de Hebron, e por extensão, para toda a comunidade Chabad de Israel naqueles dias.
Mulheres em particular são reunidas para aprender no Colel da Rebetsin, e para cantar e rezar ao pé do seu túmulo. Quando elas deixam o local para enfrentarem seus vários desafios da vida, as mulheres sempre dizem que se sentem protegidas e fortalecidas em maneiras que transcendem a lógica, maneira que elas nem sempre podem expressar. É como se o espírito protetor da Rebetsin assegure que elas, também – suas filhas espirituais – são abençoadas por “caminhar entre as gotas de chuva”.
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