Rabi Yitzchak Alfasi, um dos mais notáveis antigos codificadores da Lei Judaica, cujo nome é familiar a todos os estudantes do Talmud, nasceu em Kalat Ibn Hamad, uma aldeia perto de Fez, no Norte da África, no ano judaico de 4773, ou 1013 na Era Comum. Seu nome “Alfasi” (ou Alfes) em árabe significa um nativo de Fez. Ele também é conhecido como RIF (as iniciais de Rabi Isaac Fasi).

O RIF estudou o Talmud sob as famosas autoridades rabínicas Rabenu Nissim e Rabenu Hanael em Kairwan, uma cidade não distante de Fez, que, em virtude desses grandes gênios, era então um dos principais centros de estudo talmúdico. Em seguida ele retornou a Fez, onde se tornou o líder da comunidade judaica. Quando seus dois grandes mestres faleceram (por volta do ano 1050), Rabi Yitzchak Alfasi se tornou a maior autoridade do Talmud reconhecida de sua época, que era a segunda geração após o período que os Gueonim chegaram ao fim, com o fechamento das grandes yeshivot na Babilônia.

Em 1088, com a avançada idade de 75 anos, Rabi Alfasi foi forçado a deixar sua terra nativa, porque dois homens perversos, um pai e um filho, o denunciaram como traidor do governo. Não se sabe qual era a pena, mas como era a época em que os mouros muçulmanos do Norte da África estavam lutando contra os reinos cristãos da Espanha e invadindo a Península Ibérica, pode-se presumir que o RIF foi acusado pelos dois canalhas de alguma ofensa política, o que colocou sua vida em risco.

O RIF fugiu para a Espanha, onde foi recebido com grandes homenagens em Córdoba e Granada. Um ano depois ele foi para Lucena, onde sucedeu Rabi Yitzchak Ibn Ghayyat como líder da comunidade. Ali o RIF estabeleceu uma yeshivá que logo se tornou famosa, e atraiu grandes eruditos. Um dos seus alunos mais jovens era Rabi Joseph Ibn Migash, que chegara a Lucena aos doze anos, e quatorze anos mais tarde sucedeu o RIF como chefe da academia. O próprio Rabi Alfasi o designou como seu sucessor, embora seu próprio filho Yaacov também fosse um grande erudito. Entre seus alunos acredita-se que também estivessem os famosos poetas e eruditos Rabi Yehuda Halevi e Rabi Moshe Ibn Ezra, que escreveram poemas em homenagem ao seu professor.

Rabi Yitzchak Alfasi era um homem de caráter nobre, e ele tinha um interesse paternal pelos seus muitos alunos. Porém a partir do dia de sua chegada à Espanha ele encontrou uma forte oposição de dois judeus proeminentes, e ambos, como ele mesmo, se chamavam Yitzchak: Rabi Yitzchak ibn Ghayyat (mencionado anteriormente) e Rabi Yitzchak Albalia. Este último tinha um importante cargo na corte do rei de Sevilha, mas perdeu sua posição quando o rei foi derrotado pelo seu rival.

Albalia foi morar em Granada mas não parou de criticar o RIF até o dia de sua (de Albalia) morte, por volta de 1098. Porém em seu leito de morte, ele chamou seu filho Baruch, então um jovem de dezessete anos, e o instruiu a ir até Rabi Alfasi, após a morte do pai e dizer a ele que seu pai o tinha perdoado e implorava o perdão de Rabi Alfasi com todo seu coração, e que seu último desejo era que seu filho, Baruch, fosse aceito como aluno do RIF.

Quando o jovem Baruch chegou ao RIF e entregou a mensagem de seu pai, o RIF se comoveu às lágrimas. Levou o jovem até sua casa e o tratou como um filho, e ensinou com afeição paterna.

A obra notável e monumental de Rabi Yitzchak Alfasi é sua Halachot, mais conhecida como as Alfes, ou RIF. É um “resumo” do Talmud, seguindo a ordem do Mesichtot Talmúdico (tratados), mas deixando de fora grande parte da discussão e material Agádico para dar as precisas e definidas Halachoth (ordens e leis práticas). Para certificar as decisões finais, ele confiou na autoridade de seus notáveis professores Rabi Nissin e, especialmente, Rabi Hananel, e no seu próprio vasto conhecimento do Talmud, tanto o Talmud Bavli como Yerushalmi, e a literatura talmúdica dos Gaonim e toda outra literatura rabínica que tinha sido escrita antes dele.

A obra foi imediatamente aceita por todos os judeus como uma obra da mais elevada autoridade, e se tornou a base dos futuros códigos da Lei Judaica. É dito sobre essa obra notável que “poderia ter sido escrita somente com inspiração Divina.”

Maimônides, que foi um pupilo do pupilo do RIF, Rabi Yossef ibn Migash, chamava o RIF de “meu mestre”, e dizia que a obra era quase perfeita. Ele aconselhava seus alunos a estudá-la cuidadosamente.

Quando Rabi Yossef Caro, muitas centenas de anos antes, compilou o Shulchan Aruch, que se tornou o padrão do Código da Lei Judaica, ele usou o Alfes junto com os códigos de Maimônides e Rabi Asher Ben Yechiel (Rosh) como os três pilares de sua obra. O Alfes foi estudado, e continua sendo estudado até hoje por estudantes do Talmud, e é parte do currículo em muitas yeshivot de estudo avançado do Talmud. Muitos comentários foram escritos sobre o Alfes por alguns dos mais notáveis talmudistas das últimas gerações.

A primeira edição impressa do Alfes apareceu em Constantinopla em 1509. Desde então tem sido reimpressa muitas vezes com vários comentários. A melhor edição do Alfes foi impressa em Wilno (por Romm, 1881) e aparece com todas as edições regulares do Talmud.

Rabi Yitzchak Alfasi faleceu com a idade de 90 anos em Lucena (Espanha), no 10º dia do mês judaico de Iyar (ou Sivan) no ano 4863 (1103).