A abertura do mar – na qual “a água foi transformada em terra” (Hofach yom l’yabosho) foi um momento único na histórica demonstração da verdade nua:
Que o mar e a terra são duas dimensões de uma única realidade.

Água e Terra

O sétimo dia de Pêssach é marcado pelo evento importante – popular até na cultura moderna – que ocorreu nesse dia há 3328 anos: a Abertura do Mar Vermelho.

Vamos então falar um pouco sobre água e terra, e seu papel na nossa vida.

Nossos sábios dizem que milagres não acontecem em vão. Isso traz a grande pergunta sobre a abertura do mar: Por que a necessidade de um milagre tão bizarro? Na verdade, não há mar que separe entre o Egito e Israel, portanto não havia necessidade de partir o mar para aos judeus seguirem seu caminho à Terra Prometida. D'us teve de realmente colocá-los num desvio para levá-los ao mar, para que a abertura pudesse ocorrer.

O Midrash vai um passo além. Não somente o Mar Vermelho, mas todos os mares e corpos de água no mundo se partiram naquele mesmo momento! Qual é os significado dessa abertura?

Na verdade, o Talmud declara que ao criar o mar D'us impôs uma condição de que iria se abrir quando mandado no futuro, quando os judeus deixassem o Egito. Por que a necessidade dessa condição?

Os místicos respondem todas essas perguntas numa tacada. Terra e mar, as duas entidades globais com as quais a terra é formada, representam duas realidades – duas formas de consciência: Os “mundos ocultos” do mar são nossas experiências inconscientes. A água reflete total unidade, onde todas as suas criaturas estão submersas e sempre se sentem conectadas com sua fonte. A terra simboliza fragmentação, com suas criaturas se sentindo separadas de sua fonte e umas das outras.

Na verdade esses dois estados são um todo sem fim. Assim, no princípio do tempo toda a terra foi submersa em água, como cada um de nós (o universo em microcosmo) começamos nossa vida submersos nos fluidos embriônicos do útero de nossa mãe.

Então veio uma “divisão entre água e água,” separando as “águas acima” das “águas abaixo” (Bereshit1:6), e as águas abaixo foram “reunidas em um lugar,” permitindo o surgimento da terra seca, criando assim a distinção entre “terra” e “mar” (1:9). Uma separação ocorreu – uma separação que dividiu entre ‘consciência da “terra” e “consciência do mar”. As fronteiras entre terra e mar foram colocadas no lugar.

A Torá nos diz que D'us decretou sobre o mar que não deveria jamais ultrapassar sobre a terra. “Você vai até aqui e não mais longe; aqui é onde suas orgulhosas ondas param” (Job 38:11). Ele criou uma “linha na areia”, por assim dizer, que serve como um limite entre água e terra, para nunca ser cruzado. “Você não Me teme? Diz D'us: você não irá tremer à Minha presença, que colocou a areia para limitar o mar por um decreto perpétuo, e não poderá passá-lo; e embora as ondas se atirem, elas não podem prevalecer; embora soem estrondosas, não podem passar sobre ele?” (Yirmiyáhu 5:22).

Desde então a terra e a água têm tido um relacionamento tênue, às vezes até em guerra uma contra a outra. Por um lado a terra precisa de água para seu sustento. Porém, água demais pode causar destruição. Somos atraídos às praias e fontes, porém tememos a impressionante força do mar. O universo começou submerso em água para encravar em sua “psique” sua unidade fundamental. Mas o propósito da criação é separar o “superior” do “inferior” e a “terra” do “mar”, e aquela iniciativa humana deveria reunir nosso aparentemente desconectado mundo de “terra” com sua fonte e propósito.

Quando nosso trabalho em fazer isso for completo, não haverá mais “mal e destruição” porque o “universo estará repleto com o conhecimento Divino como as águas cobrem o mar.” O mal e a destruição que o ser humano perpetra um contra o outro somente é possível quando não sentimos nossa unidade integral. Mas quando percebemos que somos todos como “peixes no mar”, submersos e indistinguíveis de nossa fonte (conhecimento Divino), nossa conectividade irá impedir qualquer destruição.

Microcosmo macrocosmo. Cada um de nós seres humanos – espelhando o universo maior – começa a vida imerso na água do útero. Nove meses passamos ali antes de entrar na “terra seca” após o nascimento. Durante este tempo nossa psique desenvolve uma profunda unidade interna, que nos prepara para enfrentar a solidão existencial da vida na “terra”. Então, no nascimento, aquela consciência de “água” retorna à origem de nossa vida inconsciente, e nossa vida consciente segue a psique de “mamíferos da terra”, cada um de nós encerrado no aqui e no agora, vivendo nossa vida fragmentada.

Portanto a grande questão é: Somos pessoas da “água” ou pessoas da “terra”? A resposta é que na essência somos pessoas da “água”, integralmente unidas com nossa fonte, mas em nosso nível consciente temos uma personalidade “terra”, com o propósito sendo que descubramos a “água” interior.

Mas aqui está o dilema. Como água e terra foram separadas, uma tensão básica e profunda as separa. O universo da consciência fragmentada se torna tão consumido com sua sobrevivência imediata e auto-gratificação que não se relaciona com a unidade integral da “consciência da água”.

Sim, essa divisão foi iniciada pelo Criador que separou “terra” da “água”, mas o objetivo da separação foi que deveríamos emergir do “útero” como entidades independentes, e transformar o mundo consciente da “terra” num “mundo repleto com o conhecimento Divino como as águas cobrem o mar.”

Na verdade, a raiz espiritual da separação entre terra e mar é o próprio tzimtzum. Para que possamos existir como indivíduos não podemos estar (pelo menos conscientemente) submersos na abrangente “luz-energia” do Infinito. O decreto divino portanto ordena que deve haver um vínculo entre “água” e “terra”.

Mas essa divisão é na verdade somente sob nossa perspectiva. Se você pensar sobre isso, toda a parte terrestre na Terra é na verdade uma ilha saindo da água. 75% do globo é coberto com água, deixando 25% descoberto. O mesmo é verdade sobre o microcosmo: dois terços do corpo são formados por água. Nossa mente consciente é apenas uma “ponta do iceberg” (sem ironia) saindo para fora do nosso inconsciente.

Porém uma separação profunda entre terra e água define nossa realidade. Não podemos ver por trás da cortina dividindo nosso consciente e inconsciente. Mas essa separação não é severa. No início da criação,  quando D'us separou entre terra e mar,

Ele o fez na condição de que o mar iria sempre lembrar que iria se separar um dia e permitir ao homem caminhar pelas suas profundezas como caminhamos sobre a terra.

A janela se abriu a essa altura, como uma preparação para o Sinai quando o desacordo foi unido entre espírito e matéria. Até o Sinai um decreto ordenava uma “linha na areia”, que declarava, “aquilo que está acima não deve vir para baixo, e aquilo que está em baixo não deve ascender acima.”

Esta é também a razão para as pessoas entoarem louvor após a abertura do mar: canção é a linguagem do mar. A fala convencional (“linguagem da terra”) consiste de fragmentos como staccato de palavras desconectadas, separadas por espaços e respirações, combinando-se para expressar uma ideia. A melodia flui como água numa corrente interminável.

A abertura do mar – uma parte integrante da natureza do mar desde sua criação – pavimentou o caminho para que hoje tenhamos o poder para cantar, o poder de unir o que está acima e o que está abaixo, em um fluxo harmonioso. E quem liderou o caminho como o mensageiro divino ao partir o mar? Ninguém mais que Moshê – ele – assim chamado pois “foi tirado da água.” Os místicos explicam que Moshê foi um “homem sem palavras” porque sua alma se originou dos “mundos ocultos” da água, o mundo íntimo do inconsciente, que é mais profundo e intenso que quaisquer palavras que a terra pode expressar. Mas por esse exato motivo Moshê introduziu uma revelação sem precedentes à Terra. Exatamente porque ele é um “homem da água” vivendo na Terra, ele é capaz de atrair dos mundos interiores, e unir e expressar a linguagem do Divino e comunicá-la ao povo da terra.

Água e terra – dois mundos que vivem lado a lado. Tão diferentes, porém tão interligados.

Dois mundos aos nossos olhos. Mas realmente um e o mesmo. Eles já foram um – no início de tudo. E eles se tornarão novamente um – ao final dos dias, quando o mundo “ficará repleto com o conhecimento Divino “como as águas cobrem o mar.”

Todo ano no sétimo dia de Pêssach somos lembrados de sua interdependência – um lembrete que é para nos tornar cônscios da necessidade de alinhar as duas consciências de água e terra e aliviar sua tensão de uma vez por todas. Cabe a nós uni-las numa maneira que mantenha a personalidade de cada uma.

A água nos lembra que somos todos um, originando e sendo sustentados por uma fonte unificadora. Vamos aprender com Moshê, o homem da “água” como atrair água Divina para nossas vidas na terra seca.

Que possamos fazer nossa parte em preencher nossas vidas e este mundo com conhecimento e comportamento Divino, “como as águas cobrem o mar.”

E que possamos cantar para sempre.

Água e Terra

O sétimo dia de Pêssach é marcado pelo evento importante – popular até na cultura moderna – que ocorreu nesse dia há 3328 anos: a Abertura do Mar Vermelho.

Vamos então falar um pouco sobre água e terra, e seu papel na nossa vida.

Nossos sábios dizem que milagres não acontecem em vão. Isso traz a grande pergunta sobre a abertura do mar: Por que a necessidade de um milagre tão bizarro? Na verdade, não há mar que separe entre o Egito e Israel, portanto não havia necessidade de partir o mar para aos judeus seguirem seu caminho à Terra Prometida. D'us teve de realmente colocá-los num desvio para levá-los ao mar, para que a abertura pudesse ocorrer.

O Midrash vai um passo além. Não somente o Mar Vermelho, mas todos os mares e corpos de água no mundo se partiram naquele mesmo momento! Qual é os significado dessa abertura?

Na verdade, o Talmud declara que ao criar o mar D'us impôs uma condição de que iria se abrir quando mandado no futuro, quando os judeus deixassem o Egito. Por que a necessidade dessa condição?

Os místicos respondem todas essas perguntas numa tacada. Terra e mar, as duas entidades globais com as quais a terra é formada, representam duas realidades – duas formas de consciência: Os “mundos ocultos” do mar são nossas experiências inconscientes. A água reflete total unidade, onde todas as suas criaturas estão submersas e sempre se sentem conectadas com sua fonte. A terra simboliza fragmentação, com suas criaturas se sentindo separadas de sua fonte e umas das outras.

Na verdade esses dois estados são um todo sem fim. Assim, no princípio do tempo toda a terra foi submersa em água, como cada um de nós (o universo em microcosmo) começamos nossa vida submersos nos fluidos embriônicos do útero de nossa mãe.

Então veio uma “divisão entre água e água,” separando as “águas acima” das “águas abaixo” (Bereshit1:6), e as águas abaixo foram “reunidas em um lugar,” permitindo o surgimento da terra seca, criando assim a distinção entre “terra” e “mar” (1:9). Uma separação ocorreu – uma separação que dividiu entre ‘consciência da “terra” e “consciência do mar”. As fronteiras entre terra e mar foram colocadas no lugar.

A Torá nos diz que D'us decretou sobre o mar que não deveria jamais ultrapassar sobre a terra. “Você vai até aqui e não mais longe; aqui é onde suas orgulhosas ondas param” (Job 38:11). Ele criou uma “linha na areia”, por assim dizer, que serve como um limite entre água e terra, para nunca ser cruzado. “Você não Me teme? Diz D'us: você não irá tremer à Minha presença, que colocou a areia para limitar o mar por um decreto perpétuo, e não poderá passá-lo; e embora as ondas se atirem, elas não podem prevalecer; embora soem estrondosas, não podem passar sobre ele?” (Yirmiyáhu 5:22).

Desde então a terra e a água têm tido um relacionamento tênue, às vezes até em guerra uma contra a outra. Por um lado a terra precisa de água para seu sustento. Porém, água demais pode causar destruição. Somos atraídos às praias e fontes, porém tememos a impressionante força do mar. O universo começou submerso em água para encravar em sua “psique” sua unidade fundamental. Mas o propósito da criação é separar o “superior” do “inferior” e a “terra” do “mar”, e aquela iniciativa humana deveria reunir nosso aparentemente desconectado mundo de “terra” com sua fonte e propósito.

Quando nosso trabalho em fazer isso for completo, não haverá mais “mal e destruição” porque o “universo estará repleto com o conhecimento Divino como as águas cobrem o mar.” O mal e a destruição que o ser humano perpetra um contra o outro somente é possível quando não sentimos nossa unidade integral. Mas quando percebemos que somos todos como “peixes no mar”, submersos e indistinguíveis de nossa fonte (conhecimento Divino), nossa conectividade irá impedir qualquer destruição.

Microcosmo macrocosmo. Cada um de nós seres humanos – espelhando o universo maior – começa a vida imerso na água do útero. Nove meses passamos ali antes de entrar na “terra seca” após o nascimento. Durante este tempo nossa psique desenvolve uma profunda unidade interna, que nos prepara para enfrentar a solidão existencial da vida na “terra”. Então, no nascimento, aquela consciência de “água” retorna à origem de nossa vida inconsciente, e nossa vida consciente segue a psique de “mamíferos da terra”, cada um de nós encerrado no aqui e no agora, vivendo nossa vida fragmentada.

Portanto a grande questão é: Somos pessoas da “água” ou pessoas da “terra”? A resposta é que na essência somos pessoas da “água”, integralmente unidas com nossa fonte, mas em nosso nível consciente temos uma personalidade “terra”, com o propósito sendo que descubramos a “água” interior.

Mas aqui está o dilema. Como água e terra foram separadas, uma tensão básica e profunda as separa. O universo da consciência fragmentada se torna tão consumido com sua sobrevivência imediata e auto-gratificação que não se relaciona com a unidade integral da “consciência da água”.

Sim, essa divisão foi iniciada pelo Criador que separou “terra” da “água”, mas o objetivo da separação foi que deveríamos emergir do “útero” como entidades independentes, e transformar o mundo consciente da “terra” num “mundo repleto com o conhecimento Divino como as águas cobrem o mar.”

Na verdade, a raiz espiritual da separação entre terra e mar é o próprio tzimtzum. Para que possamos existir como indivíduos não podemos estar (pelo menos conscientemente) submersos na abrangente “luz-energia” do Infinito. O decreto divino portanto ordena que deve haver um vínculo entre “água” e “terra”.

Mas essa divisão é na verdade somente sob nossa perspectiva. Se você pensar sobre isso, toda a parte terrestre na Terra é na verdade uma ilha saindo da água. 75% do globo é coberto com água, deixando 25% descoberto. O mesmo é verdade sobre o microcosmo: dois terços do corpo são formados por água. Nossa mente consciente é apenas uma “ponta do iceberg” (sem ironia) saindo para fora do nosso inconsciente.

Porém uma separação profunda entre terra e água define nossa realidade. Não podemos ver por trás da cortina dividindo nosso consciente e inconsciente. Mas essa separação não é severa. No início da criação,  quando D'us separou entre terra e mar,

Ele o fez na condição de que o mar iria sempre lembrar que iria se separar um dia e permitir ao homem caminhar pelas suas profundezas como caminhamos sobre a terra.

A janela se abriu a essa altura, como uma preparação para o Sinai quando o desacordo foi unido entre espírito e matéria. Até o Sinai um decreto ordenava uma “linha na areia”, que declarava, “aquilo que está acima não deve vir para baixo, e aquilo que está em baixo não deve ascender acima.”

Esta é também a razão para as pessoas entoarem louvor após a abertura do mar: canção é a linguagem do mar. A fala convencional (“linguagem da terra”) consiste de fragmentos como staccato de palavras desconectadas, separadas por espaços e respirações, combinando-se para expressar uma ideia. A melodia flui como água numa corrente interminável.

A abertura do mar – uma parte integrante da natureza do mar desde sua criação – pavimentou o caminho para que hoje tenhamos o poder para cantar, o poder de unir o que está acima e o que está abaixo, em um fluxo harmonioso. E quem liderou o caminho como o mensageiro divino ao partir o mar? Ninguém mais que Moshê – ele – assim chamado pois “foi tirado da água.” Os místicos explicam que Moshê foi um “homem sem palavras” porque sua alma se originou dos “mundos ocultos” da água, o mundo íntimo do inconsciente, que é mais profundo e intenso que quaisquer palavras que a terra pode expressar. Mas por esse exato motivo Moshê introduziu uma revelação sem precedentes à Terra. Exatamente porque ele é um “homem da água” vivendo na Terra, ele é capaz de atrair dos mundos interiores, e unir e expressar a linguagem do Divino e comunicá-la ao povo da terra.

Água e terra – dois mundos que vivem lado a lado. Tão diferentes, porém tão interligados.

Dois mundos aos nossos olhos. Mas realmente um e o mesmo. Eles já foram um – no início de tudo. E eles se tornarão novamente um – ao final dos dias, quando o mundo “ficará repleto com o conhecimento Divino “como as águas cobrem o mar.”

Todo ano no sétimo dia de Pêssach somos lembrados de sua interdependência – um lembrete que é para nos tornar cônscios da necessidade de alinhar as duas consciências de água e terra e aliviar sua tensão de uma vez por todas. Cabe a nós uni-las numa maneira que mantenha a personalidade de cada uma.

A água nos lembra que somos todos um, originando e sendo sustentados por uma fonte unificadora. Vamos aprender com Moshê, o homem da “água” como atrair água Divina para nossas vidas na terra seca.

Que possamos fazer nossa parte em preencher nossas vidas e este mundo com conhecimento e comportamento Divino, “como as águas cobrem o mar.”

E que possamos cantar para sempre.