“Muitos anos se passaram, mas, lamentavelmente, os judeus ainda continuam sendo alvo de perseguições e agressões no mundo. Por isso, é mais importante do que nunca manter viva a memória do Holocausto, em momentos em que ressurge no mundo o antissemitismo, a intolerância e o ódio”.
“Se, por desgraça, na Europa e em outros lugares os judeus são vítimas de perseguições apenas por serem judeus, outras comunidades judias no mundo também enfrentam o medo. Vemos o antissemitismo crescer não apenas contra judeus individualmente, mas também contra comunidades e contra o Estado judeu”.
“E não são apenas os extremistas que propagam o ódio aos judeus, mas também e, principalmente, os formadores de opinião ocidentais.”
Essas foram algumas das declarações feitas pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em cerimônia pelo Dia Internacional em Memória às Vítimas do Holocausto.
A Mala Esquecida
Por Thais Lazzeri
Publicado na revista Época
Em entrevista à revista Época, Rachela Gotthilf conta como fez para sobreviver ao nazismo: “Troquei de nome e de lar para proteger minha identidade. Convivi com uma família católica correndo o risco de ser denunciada. Até um soldado alemão me pediu em casamento”.
"Já era noite quando os soldados alemães chegaram ao Gueto de Varsóvia, uma espécie de fortaleza, ou prisão, onde ficavam as famílias de judeus poloneses durante a Segunda Guerra Mundial. Do lado de fora dos muros, estavam os poloneses cristãos. Ao oficial que ficava na entrada do Gueto, os soldados nazistas deram o nome de uma família. Alguém fizera uma denúncia. E os soldados não precisavam de uma razão para matar judeus. O oficial abriu o livro de registros, encontrou o endereço e repassou aos soldados. Os soldados levaram aquela família inteira para uma ponte. Mataram todos. O sobrenome daquela família era muito parecido com o nosso. Não sabíamos se os soldados procuravam por aquela família ou se o oficial da entrada do Gueto entendeu o nome errado e os mandou para outro endereço. Os mortos poderíamos ser nós.
A notícia chegou na manhã seguinte. Se minha memória embaralha a sequência dos acontecimentos, não há sombras sobre os momentos marcantes que vivi no Holocausto. Naquele dia de 1942, meu avô, um polonês muito culto, recebeu uma carta de anistia dos alemães. A mensagem dizia que seríamos perdoados – com direito até a vale-alimentação, caso saíssemos do Gueto. Meu avô depositou um longo olhar naquele pedaço de papel antes de falar com minha avó. Fingi estar brincando, mas prestei atenção em cada palavra. Meu avô aceitou a proposta dos nazistas. Retornaria à cidade onde nasci, Sokolov. Minha avó, chorando, disse que era uma armadilha preparada pelos alemães. Tinha certeza de que seriam mortos no regresso. Vovô respondeu que já estavam velhos, e não era justo dificultar a fuga dos filhos. Era melhor que partissem.
Minha mãe, a filha mais velha e viúva (meu pai faleceu em decorrência de uma pneumonia), decidiu acompanhá-los. Impôs aos irmãos uma única condição: que me mantivessem viva. Abracei minha mãe e implorei para que ela ficasse. Minha última lembrança é ver minha mãe empurrando, sutilmente, a maleta dela para baixo da mesa de centro. Ninguém percebeu, só eu. Minha mãe sabia que ia morrer. Quando minha tia avistou a maleta, disse: “Sua mãe só sabe chorar, olha o que ela esqueceu.”
Morador de Brasília, Sobrevivente do Holocausto
Por Renato Alves
Publicado no Correio Braziliense
O jornal Correio Braziliense publicou a história de Nachum Reiman, judeu nascido em Lublin, na Polônia.
Reiman morava em uma comunidade judaica da cidade quando os alemães invadiram o país, em setembro de 1939. Prestes a completar 18 anos, era o filho mais velho de uma mulher que confeccionava sacos de embalar compras. O pai os vendia no atacado a comerciantes. O casal tinha outro filho, um ano mais novo. O Holocausto dizimou a família de Nachum. Ele sobreviveu a essa e a outras tragédias. Buscou refúgio no Brasil, onde conheceu a mulher, com quem teve três filhos.
Há um ano e meio, mora em Brasília. Nachum (pronuncia-se Narrum), os parentes e milhões de judeus residentes na Polônia entraram em pânico quando se espalharam pelo país os horrores praticados pelos nazistas. Com medo, Nachum decidiu fugir para a Rússia, ao saber que tropas alemãs estava a pouco mais de 30km de Lublin.
“Os meus pais e os meus irmãos acreditavam que só teriam de trabalhar em um campo de concentração, para sobreviver”, conta. Mas a Rússia também não era um destino seguro. O Exército Vermelho capturou Nachum e milhares de judeus. Para eles, havia duas opções: ir para o campo de batalha, em defesa da Rússia, ou se tornar prisioneiro. Nachum se recusou a vestir a farda do Exército Vermelho. Longe das garras dos alemães, foi parar na isolada e gelada Sibéria, em um campo de trabalho forçado. A rotina era tão pesada quanto nos campos de concentração nazistas. Também eram comuns as agressões dos guardas.
Na Sibéria, os presos tinham de acordar às 6h, para, sem vestes e equipamentos adequados, ir à floresta cortar árvores e partir em pedaços a madeira que viraria lenha. A comida era escassa e de baixa qualidade. No inverno, as temperaturas chegavam a -20º C.
Vindo de navio, o polonês desembarcou no Rio de Janeiro durante o carnaval de 1954. “Quando desembarquei na Praça Mauá, vi aquela bagunça nas ruas, gente fantasiada, cantando e batucando. Pensei: ‘Meu Deus! Que país maluco é esse?!.’”
Recebido pela comunidade judaica, logo passou a frequentar sinagogas e eventos de associações israelitas. Em uma delas, conheceu a mulher com quem se casaria, Eugênia, uma judia brasileira.
Yad Vashem, que detém as obras que retratam os acontecimentos nos campos de concentração alemães na altura em que o nazismo queria exterminar a população judia na Europa. A inauguração aconteceu ontem, na véspera dos 71 anos da entrada de Anatoli Schapiro (um oficial judeu da Primeira Frente Ucraniana do Exército Vermelho) em Auschwitz, para libertar os prisioneiros de um dos campos mais severos. “A primeira coisa que vi foi um grupo de pessoas que estavam paradas sobre a neve e que pareciam esqueletos, vestidos com farrapos e sem sapatos”, descreveu Schapiro. Antes de morrer, o oficial contou também que o estado dos prisioneiros era tão débil que “nem sequer conseguiam mexer a cabeça” e que insistiam em tocar nos soldados que os iriam libertar porque não acreditavam ser verdade.
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