Algemeiner.com – 6 de setembro 2015

No 43º aniversário do massacre em Munique, perpetrado por terroristas palestinos contra atletas israelenses durante os Jogos Olímpicos na Alemanha em 1972, um conhecido erudito diz que a reação do mundo no decorrer dos anos levou ao antissemitismo.

Numa entrevista ao Algemeiner no domingo, Manfred Gertenfeld, autor do livro recém publicado A Guerra de um Milhão de Cortes: A Batalha contra a Deslegitimização de Israel e os Judeus, e o Crescimento de Novo Antissemitismo, falou sobre a falta de cerimônia ao redor do assassinato em massa de “discriminação de comemoração”.

“Não se pode imaginar que se os participantes das Olimpíadas de um pais europeu ou árabe tivessem sido mortos durante os jogos, não teria havido comemorações oficiais nos jogos subsequentes,” disse Gerstenfeld, que nasceu na Áustria, foi criado na Holanda e mudou-se para Israel em 1968.

“O fato de que os atletas israelenses assassinados não tenham sido oficialmente homenageados parece indicar padrões duplos. É um dos muitos fenômenos contemporâneos onde os duplos padrões que caracterizam o antissemitismo se manifestam.

Gerstenfeld, ex-diretor do comitê do Dentro de Assuntos Públicos em Jerusalém, explicou o que ele considera ser uma diferença entre os terroristas islâmicos que cometeram o assassinato em Munique e aqueles de hoje.

Os assassinos dos atletas israelenses eram palestinos que tinham vindo de fora da Europa. Similarmente, o bombardeio da sinagoga Copernic em Paris em 1980, no qual quatro pessoas foram mortas e mais de 40 feridas, mais provavelmente foi realizado por um muçulmano que veio de fora da Europa. O mesmo se aplica ao ataque ao restaurante Goldenberg em Paris em 1982, no qual seis pessoas foram mortas e mais de 20 feridas.

No Século 21, porém, os islâmicos assassinos de judeus têm todos sido muçulmanos que vivem na Europa. Este foi o caso com o assassino de Sebastien Sellam em Paris em 2003; os torturadores na morte de Ilan Halimi na França em 2006; Mohammed Merah, que matou quatro judeus em Toulouse em 2012; o principal suspeito na morte de quatro pessoas do lado de fora do Museu Judaico em Bruxelas em 2014; aqueles por trás do assassinato de quatro judeus no supermercado casher em Paris este ano; e o assassinato do guarda judeus na sinagoga de Copenhagen algumas semanas depois.

Antes das Olimpíadas de 1972, a última vez que os alemães tinham recebido a festa internacional de esportes fora em 1936, quando os nazistas estavam no poder. Numa tentativa de apagar as horríveis conotações do Terceiro Reich, o governo da Alemanha Ocidental decidiu dar aquele que seria um titulo infeliz para o acontecimento – “Os Jogos Felizes”.

Os “Jogos Felizes” ocorreram de 26 de agosto a 10 de setembro. Às 4h30 da madrugada em 5 de setembro, enquanto os competidores dormiam, oito membros fortemente armados da facção Setembro Negro escalaram a cerca ao redor da Aldeia Olímpica, e roubaram as chaves dos apartamentos que abrigavam o time israelense.

Num ataque surpresa, os terroristas irromperam nos alojamentos israelenses e tomaram como reféns todos os atletas e seus treinadores, matando de imediato dois deles que tinham reagido. Dezoito horas depois, transferiram os outros reféns por helicóptero para um aeroporto militar, onde iriam embarcar num avião para um pais árabe.

Foi então que os alemães empreenderam uma missão de resgate mal sucedida, durante a qual quatro dos reféns foram baleados e então explodidos por uma granada que um dos terroristas atirou dentro do helicóptero. Os cinco reféns restantes foram então baleados com rifles. No enfrentamento com as autoridades alemãs, a maioria dos terroristas foi morta. Os três que sobreviveram foram presos, mas terminaram sendo libertados algumas semanas depois numa troca envolvendo um jato da Lufthansa sequestrado. (Em 29 de outubro, dois homens sequestraram um avião que ia de Beirute para Ancara, e exigiram que os prisioneiros palestinos apreendidos na Alemanha fossem libertados em troca pelos reféns no voo.)

Embora a princípio os alemães recusassem a troca, terminaram concordando, e os três terroristas que tinham participado do massacre em Munique foram libertados.

Como resultado do massacre, os “Jogos Felizes” foram suspensos durante 24 horas. Assim que tudo terminou, e os israelenses já estavam mortos, o Presidente do Comitê Olímpico Internacional, Avery Brundage, fez um breve serviço memorial no estádio. Em seu discurso, ele prestou um pequeno tributo aos atletas israelenses que tinham acabado de ser mortos, e fez um comentário mais geral sobre a natureza das Olimpíadas.

“Toda pessoa civilizada se abala com a bárbara intrusão criminosa de terroristas nos pacíficos recintos olímpicos,” disse ele. “Pranteamos nossos amigos israelenses, vitimas deste ataque brutal. A bandeira olímpica e as bandeiras do mundo todo estão a meio mastro. Infelizmente, neste mundo imperfeito, quanto mais notáveis e mais importantes se tornam os Jogos Olímpicos, mais estão abertos a pressão comercial, política e agora criminosa. Os Jogos da 20ª Olimpíada estiveram sujeitos a dois ataques selvagens. Perdemos a batalha rodesiana contra suborno político desnudo. Temos apenas a força de um grande ideal. Tenho certeza de que o público concorda que não podemos permitir que um bando de terroristas destrua este núcleo de cooperação e boa vontade internacional que temos no movimento olímpico. Os Jogos devem continuar e devemos continuar nossos esforços para mantê-los claros, puros e honestos e tentar expandir o esporte ao campo atlético de outras áreas. Declaramos o dia de hoje como um dia de luto e continuaremos todos os eventos um dia depois da data marcada.”

O governo israelense endossou a decisão de Brundage de prosseguir com as competições conforme estavam agendadas.

Quatro anos depois, as Olimpíadas de Verão ocorreram em Montreal. A única lembrança do massacre foi uma fita preta sobre a bandeira israelense carregada pela equipe de Israel enquanto eles marchavam para o estádio.

Desde aquele tempo, têm havido repetidos pedidos ao Comitê Olímpico Internacional, principalmente por parte das famílias das vitimas, para prestarem um serviço memorial durante os jogos.

Antes do 40º aniversário do massacre, em 2012, os governos do Canadá, Alemanha e Israel pediram em favor das vitimas do terror um minuto de silêncio nas Olimpíadas de Londres naquele ano. Mas o presidente do COI, Jacques Rogge da Bélgica, foi totalmente contra. Assim, também, foi Alex Gilady, o membro israelense do Comitê, que argumentou que a comemoração poderia abalar outros atletas.