Pergunta:

É sobre Rosh Hashaná. Nunca pude entender este feriado. Todas as outras festas judaicas têm algo feliz e bonito sobre elas. Rosh Hashaná apenas me assusta.

Por exemplo: acho muito negativo quando me dizem que D'us (que já me perdoou) escreve meus pecados num livro como um contador, e naquele dia seri julgado por eles. E se irei ou não viver mais um ano depende da maneira como me comportei no último ano. Durante o ano inteiro vivi cada dia, porque D'us me deu aquele dia. Ele queria que eu vivesse, portanto vivi. De repente vai ser decidido se morrerei ou não.

Tento fazer da vontade Dele a minha vontade. Portanto não tenho desejos especiais. Tudo que desejo é Sua proximidade. Eu gostaria de melhorar cada vez mais nesse aspecto, para ficar cada vez mais perto Dele. Mas quando as pessoas falam sobre Rosh Hashaná e estão com medo, também fico com medo. E tenho a sensação de que algo comigo não é como deveria ser. É como se o D'us que amo durante um ano inteiro (nem sempre com perfeição, é claro) se transforme num estranho por um dia, que me dirá o quanto fui mau. E que Ele com frequência está certo não torna as coisas mais fáceis.

Resposta:

Há a história de um fazendeiro judeu que, como muitos judeus da Polônia na época, contratou um professor para morar em sua casa e sustentar-se da sua fazenda para em troca ensinar seus filhos. A cada dia as crianças, da mais jovem até a mais velha, se sentaram ao redor da mesa de madeira em quatro bancos duros enquanto ele supervisionava os estudos de cada um.

Mas quando se aproximava a época de Rosh Hashaná, o professor não ficava com o fazendeiro e sua fmilia. Ele ansiava por estar numa cidade onde pudesse rezar com uma congregação e celebrar o mês festivo de Tishrei dentro de uma comunidade judaica. E assim, durante mais de um mês, o pai substituía o professor.

A princípio, manter a ordem na classe era difícil. Professor era professor, mas Papai era mais suave. Você podia sair da sala para ir lá fora – e não necessariamente voltar – ou porque não se sentia bem naquele dia, ou porque Mamãe tinha lhe dado uma tarefa qualquer. Se a lição fosse muito difícil, você podia reclamar, talvez até derramar lágrimas se fosse apropriado à sua idade, ou simplesmente tentar envolver Papai numa conversa sobre a situação das galinhas da fazenda.

Dentro de uma semana, a sala de aula estava totalmente bagunçada. Foi quando Papai estabeleceu a lei. Numa manhã, ele entrou com o rosto sério e anunciou: “De agora em diante, nada mais de ‘Papai, isso, Papai aquilo!’ A partir de agora, nesta sala de aula, não sou Papai, sou Professor!”

E como Professor, Papai era rigoroso. Havia castigos e penalidads pelas menores infrações. Ninguém podia sair da sala sem uma desculpa válida. A atmosfera da sala de aula se tornou tensa, como um playground se torna uma masmorra.

Finalmente, apenas três dias após este exercício, uma criança pequena irrompeu em lágrimas. Papai pode ter desempenhado um bom papel com professor severo, mas ainda era pai no coração. Não conseguiu olhar para um dos filhos menores chorando. Olhando para a mesa a fim de esconder seu desgosto, ele bruscamente chamou a criança.

“Por que está chorando?” ele perguntou.

Entre soluços, o filho respondeu: “Quero pedir ao meu papai…”

“Sim?”

“Quero dizer, meu professor…”

“Sim?”

“… posso perguntar ao meu papai…”

“Certo.”

“… para meu papai perguntar ao professor…”

“O que é?!”

“… que meu professor não deveria mais ser tão rigoroso conosco!!”

E assim imploramos em Rosh Hashaná, Avinu Malkenu – nosso Pai, nosso Rei. Sabemos quem Tu és, por trás daquela máscara severa, fingindo um julgamento objetivo sobre Teu trono. Tu és o Chefe de Tdo Que Existe, mas és também nosso Pai, e um Pai compassivo. Vem aqui conosco, segura nossas mãos, vê tudo sob nosso ponto de vista aqui embaixo. Sente nossos problemas e as dores do nosso coração como somente um pai pode fazer. E então envolve-te com Teu mundo e nos abençoa com um ano bom e doce.

Talvez você tenha lido a Dose Diária há alguns dias:

Rosh Hashaná, o Baal Shem Tov ensinava, é um jogo de esconde-esconde. D'us esconde, nós procuramos.

Mas onde D'us pode esconder? Onde quer que você vá, ali Ele está. Como diz o Zohar: “Não há lugar sem Ele.”

Então talvez o que o Baal Shem Tov queria dizer é mis que um “Achou!” – quando o pai se esconde por trás dos dedos. Assim também, D'us se esconde no disfarce de um rei indiferente, magnífico, julgando Seus súditos estritamente pelo livro até que o mais sublime dos anjos tremer de medo.

E procuramos. Procuramos o pai por trás da voz severa. Somos o filho pequeno que sobe nos braços do rei, arranca a máscara e exclama: “Papai!” É exatamente isto que Ele estava esperando.

Quando crianças aprendemos uma lição vital do esconde-esconde, algo que mais tarde vai parecer tão óbvio que não podemos imaginar que tivemos de aprender: aprendemos que mesmo quando algo não pode ser visto, ainda pode estar ali. Esta é a msma lição que Ele está nos ensinando em Rosh Hashaná: mesmo quando o pai se foi e um rei indiferente tomou seu lugar, apesar disso ainda é pai; nosso vínculo com Ele ainda está ali.

Eles Se esconde para que procuremos por Ele. Ele se esconde para que o chamemos de Pai, para que mesmo em Seu papel como Criador e Mestre do Universo ainda vejamos aquele vínculo que temos com Ele. E é assim que aquele relacionamento se renova.

Desejando a você um ano bom e doce.