O simbolismo e como proceder à ablução

As velas estão tremulando, Shalom Aleichem e Eisht Chayil já foram cantados, e o kidush foi feito por todos aqueles ao redor da linda mesa do Shabat.

Está na hora de começar a refeição. Mas primeiro, somos convidados pelo anfitrião a ir até a cozinha lavar as mãos em preparação para comer a chalá. Não, este não é um chamado para a higiene, mas uma etapa importante que nos levará a hamotsi, a bênção sobre o pão. Antes de explicar este ato tão simples, precisamos entender um pouco de simbolismo judaico.

Água - simbólico da Torá; sabedoria. A água é a essência da vida física, pois sem ela morremos; ao passo que sabedoria é a essência da vida espiritual, o alicerce do auto-crescimento e realização.

Mãos – simbólico de nossa interação no mundo físico.

Pão (chalá) – simbólico de sustento físico; o cajado da vida.

Derramamos a água sobre cada mão – este é o entendimento de que todas as minhas ações no mundo físico – escrever, tocar, trabalhar – devem ser feitas de maneira sábia, significativa. E é um lembrete de que esta noite nossa mesa é sagrada, como um altar. Assim como os Cohanim no Templo, há tanto tempo, preparavam-se por meio da ablução, também nos lavamos antes de nossa refeição. É um prazer único realizar um simples ato que representa algo tão significativo.

Como proceder:

1 - Antes de se lavar, certifique-se que as chalot, faca de chalá, cobertura da chalá e o sal estão sobre a mesa.
2 - Na cozinha, toalhas de mão devem ser providenciadas para os convidados.
3 - Use uma caneca especial para ablução (grande, com duas alças) ou um copo comum sem alças – desde que a parte de cima não tenha entalhes e com capacidade mínima de 120 ml.
4 - Remova os anéis de seus dedos. Segure o copo com a mão direita enquanto o enche com água da torneira.
5 - Passe o copo para a mão esquerda e derrame água sobre a mão direita, molhando a mão nos dois lados, desde o pulso. A mão inteira precisa ser molhada.
6 - Agora passe o copo para a mão direita e repita com a mão esquerda. (Encha o copo novamente se for necessário.)
7 - Depois que as mãos forem lavadas, devem ser colocadas para cima, para que a água pingue sobre o pulso e os dedos. A bênção então é recitada:

Bênção sobre a Ablução das Mãos

8 - As mãos são enxugadas e a pessoa volta para a mesa, cuidando para não falar até que a bênção de hamotsi seja recitada e uma fatia da chalá seja recebida e ingerida.

Perguntas e Respostas

Por que jogamos água primeiro na mão direita?

Segundo a tradição judaica, a direita simboliza a bondade, um traço que sempre queremos enfatizar. Você notará muitas outras áreas em que isso ocorre, incluindo o costume dos noivos de começarem sua caminhada pelo corredor com o pé direito. E é por isso que pegamos o copo primeiro com a mão direita, somente então passando-o para a esquerda.

Por que levantamos as mãos depois de lavá-las, deixando a água pingar no pulso?

A bênção para a ablução diz "netilat yadayim", que literalmente significa "elevar as mãos". Num nível técnico, isso imita a lavagem feita no Templo Sagrado. Num nível conceitual, estamos elevando espiritualmente as nossas mãos.

Reflexões

Lavar as mãos antes da bênção hamotsi faz com que a pessoa perceba que há santidade na comida e que isso é especial.

A nutrição é um presente, não um direito. E o presente vem de D'us; um D'us que está ali, mantendo tudo em movimento.

Para mim isso faz sentido, toda a preparação e ritual da ablução e hamotsi, porque o pão não é uma maçã. É o resultado de um processo longo que somente pode vir do homem civilizado. É uma declaração de que o homem tem de estar envolvido em sua própria existência, e o pão é o auge dela; pois como D'us é o parceiro nisso tudo, é como tornar a criação ainda melhor.
*** Sempre me lembrei de algo que era dito sobre uma chalá grande trançada em todos os casamentos a que compareci quando criança. Porém não conectei a bênção pronunciada em voz alta às fatias de pão eram passadas a todos.

Quando viajei a Israel, passei um Shabat com uma família na Cidade Velha de Jerusalém. Eles explicaram sobre a lavagem, sobre não falar e tudo o mais. Não hesitei em seguir as instruções e participar. Parecia algo cultural, divertido, e era feito com muito bom gosto.
*** Lembro-me como se fosse ontem de uma das minhas primeiras experiências de Shabat. Eu estava na casa de um rabino na noite de sexta-feira e após o kidush foi anunciado que era "hora da ablução".

Ouvi então sons metálicos. Eram as mulheres tirando os anéis e colocando-os sobre os pratos. Lembro-me de ter ficado constrangida por não ter colocado anéis para esta cerimônia, pois então poderia tirá-los, também.

Isso foi três ou quatro Shabatot antes que eu entendesse que você tira os anéis para se lavar somente se por acaso estiver usando algum. Vivendo e aprendendo.
*** Gosto do Shabat. Gosto da comida. Gosto da companhia. Gosto daquilo tudo. Porém parece que não consigo parar de falar entre lavar as mãos e comer a chalá!