Pergunta:

Caro Rabino,
Minha mãe, de 98 anos, é uma sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz, que foi separada da própria mãe pelo Dr. Mengele. Homanageamos minha avó assassinada dando o nome dela à nossa filha. Por sua vez, minha filha agora adolescente gostaria de honrar minha mãe fazendo uma tatuagem com seu número de Auschwitz.
Eu e minha esposa nos opusemos a isto. Poderia ajudar, por favor?

Resposta:

A mensagem de “Nunca Esquecer” é claramente muito importante. Deixe-me começar contando uma história que aconteceu pouco depois do Holocausto, que demonstra uma maneira muito positiva de transmitir aquela mensagem.

Poucos anos após o Holocausto, um influente líder judeu fez um pedido ao Rebe, Rabi Menachem Mendel Schneerson, de abençoada memória: “Precisamos da sua ajuda e cooperação para perpetuar a memória dos milhões tragicamente mortos no Holocausto. Decidimos que seria mais apropriado cada família separar uma cadeira vazia na refeição festiva do Seder de Pêssach. A cadeira irá comemorar os milhões que infelizmente não podem comparecer. Rabino, o senhor encorajaria seus seguidores a fazer parte desta campanha?

O Rebe respondeu (palavras dele): “sua ideia é interessante, mas com o devido respeito, em vez de deixar a cadeira vazia, vamos ocupá-la com um convidado extra. Convide um judeu que não iria participar de um Seder. Este seria um legado realmente vivo, e uma vitória para a nação judaica.”

Esta ação, sugeriu o Rebe, seria o melhor tributo àqueles que pereceram, e a melhor maneira de expressar a verdade de que ‘am yisroel chai’, a nação judaica está viva.

Em outras palavras, os símbolos são bonitos, porém é muito mais eficaz fazer algo que provoque uma transformação. É assim que o Judaísmo tem sobrevivido até hoje. Após cada tragédia, conseguimos canalizar nosso sofrimento para algo positivo e produtivo.

Essa história também demonstra que as crianças precisam receber a mensagem de que o Judaísmo está vivo e bem, e que é uma vida de júbilo (não apenas de oy). Museus e memoriais são incrivelmente importantes, mas as crianças também devem aprender a se entusiasmar sobre o futuro do Judaísmo; elas devem ter uma sensação de propósito e orgulho como judeus. Precisamos mostrar aos nossos filhos que eles precisam viver os tipos de vida que deixariam as seis milhões de almas orgulhosas, e que serão eles que passarão a tocha para a próxima geração.

A Tatuagem

Talvez seja bom encorajar sua filha a pensar no seguinte: de que maneira uma tatuagem traria uma mudança positiva ao mundo? Certamente daria à pessoa que a tem um senso de solidariedade com aqueles que estiveram nos campos. Porém, isso na verdade não faz nada de positivo, nem faz nada para elevar a alma dos seis milhões que pereceram no Holocausto. Na verdade, se você tivesse perguntado a alguém que foi forçado a fazer aquela tatuagem nos campos se ele gostaria que um judeu 70 anos depois também fizesse uma… qual você acha que seria a resposta?

Mais provavelmente seria a mesma que Elie Wiesel deu quando algumas pessoas afixaram estrelas amarelas em suas roupas. Ele disse que era uma profanação da “memória do Holocausto”.

Por isso é tão importante enfatizar, até dentro da educação sobre o Holocausto, como os sobreviventes conseguiram reconstruir suas vidas, criar famílias e transmitir o Judaísmo à geração seguinte. Construindo instituições judaicas em nome daqueles que faleceram, dar o nome deles aos filhos e criar grandes famílias judaicas são as maneiras mais apropriadas de homenagear as almas sagradas que pereceram.

Algumas ideias

As crianças estão procurando maneiras tangíveis de canalizar seu sofrimento quando veem sobreviventes do Holocausto, aprendendo a matéria na sala de aula e assistindo programas que relatam os atos horríveis. Isto é especialmente verdadeiro para os netos de sobreviventes do Holocausto. Aqui estão algumas ideias sobre como os jovens podem canalizar aquele sofrimento para maneiras positivas.

  1. Organize viagens para amigos e colegas a um museu do Holocausto, seguidas por uma palestra feita por um sobrevivente que transformou a vida de tragédia em bênção.
  2. Organize uma biblioteca com livros sobre o Holocausto e Judaísmo.
  3. Entreviste sobreviventes do Holocausto da sua localidade e seus filhos, sobre como eles expressam seu Judaísmo após o Holocausto.
  4. Crie um projeto de arte expressando reações e sentimentos sobre o que significa o Holocausto para a terceira geração de sobreviventes do Holocausto.
  5. Crie uma campanha em sua comunidade para conscientizar as pessoas sobre como não devemos deixar que ninguém passe por aquilo que nossos avós passaram nas mãos dos nazistas:
  1. Os nazistas envergonharam publicamente os judeus que pareciam judeus. Denegriram rabinos, fazendo-os limpar as ruas. Devemos nos abster de constranger qualquer pessoa. E não devemos ter vergonha de aparecer judaicamente em público.
  2. Os nazistas gaseificaram e incineraram nossos corpos. Devemos ser respeitosos com nossos corpos e, após a morte, enterrá-los no chão.
  3. Os nazistas não queriam a continuação da tradição judaica e assassinavam qualquer pessoa que tentasse fazer um ato religioso.
  4. Precisamos ter orgulho das nossas tradições, e mantê-las vivas e fortes.
  5. Os nazistas assassinaram a sangue frio crianças pequenas, fazendo coisas horríveis com seus corpos. Precisamos perpetuar a vida, dando amor às crianças pequenas e criando um ambiente caloroso e carinhoso para elas.
  6. Os nazistas gravaram números e outros símbolos nos corpos de nossos ancestrais. Devemos respeitar nosso corpo e reconhecer sua santidade, abstendo-nos de danificá-lo com tatuagens.