Ontem foi relatado que Rupert Murdoch tinha se oferecido para doar um milhão de libras à associação de caridade em prol da adolescente assassinada Milly Dowler. E na noite do próximo sábado começamos as preces especiais que rezamos antes de Rosh Hashaná, o Ano Novo Judaico. Uma palavra conecta estes dois eventos. A palavra “desculpe”. Esta é a palavra que Rupert Murdoch usou quando conheceu a família de Milly Dowler. E chamamos nossas preces de selichot, que significa pedir desculpas a D'us, enquanto nos preparamos para pedir desculpas àqueles a quem ofendemos.
Porém há duas maneiras de pedir desculpas. O ano passado um professor americano, David Konstan, publicou um livro fascinante chamado Before Forgiveness, Antes do Perdão. No livro ele argumenta que embora a reconciliação seja tão velha quanto a humanidade, o arrependimento e o perdão não são.
O perdão exige uma mudança verdadeira por parte de duas pessoas
No mundo clássico da Grécia e Roma antigas, se você quisesse aplacar alguém que tivesse prejudicado, tinha de argumentar que não era realmente sua culpa. “Desculpe, senhor, não fui eu. E se fui eu, na verdade não quis fazer, apenas não pude evitar”. Isto, mais alguns rituais de auto-depreciação, podiam aplacar a ira da outra pessoa. Era dizer desculpe como um gesto de arrependimento.
O Judaísmo e o Cristianismo, diz Konstan, trouxeram algo novo ao mundo: a ideia de arrependimento e perdão. O perdão não é sobre negar responsabilidade, mas sobre aceitá-la. Sim, eu fiz aquilo. Sim, foi minha culpa. E agora vejo que estava errado. Isso é dizer desculpe não como um gesto de arrependimento, mas de remorso. O remorso dói mais que o arrependimento. E busca não apenas o aplacamento, mas o perdão.
O perdão exige mudança verdadeira por parte das duas pessoas. Aquele que errou precisa de coragem para reconhecer seu erro. E a vítima precisa da coragem para se livrar da animosidade e da vingança. É o supremo teste da liberdade humana, e é um dos maiores presentes que o Judaísmo e o Cristianismo trouxeram para a imaginação moral da humanidade.
Pense no que poderia acontecer em alguns dos mais difíceis conflitos do mundo se ambos os lados pudessem reconhecer o sofrimento que causaram um ao outro; se pudessem aceitar a responsabilidade em vez de dizer a culpa foi sua; se pudessem realmente encarar e perdoar um ao outro. Improvável, sim. Mas impossível? Não.
Dizer sinto muito àqueles que prejudicamos e perdoar aqueles que magoamos é o mais difícil desafio moral no mundo. Mas são as únicas coisas que têm o poder de curar as feridas do passado e construir um futuro melhor juntos.
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