A Porção Vezot Haberachá, que conclui a Torá, descreve os eventos que cercaram a morte de Moshê (Moisés) e o fato de que foi pranteado pelos "Filhos de Israel" por trinta dias. Ao descrever o falecimento de Aharon (Aarão), a Torá declara: "Toda a Casa de Israel pranteou Aharon por trinta dias."

Nossos sábios comentam: "Moshê foi pranteado pelos homens, ao passo que Aharon o foi tanto pelos homens como pelas mulheres. Isto ocorreu porque Aharon buscou a paz, e tornou possível a paz entre o homem e seu próximo, e também entre marido e mulher."

A Porção da Torá que fala do falecimento de Moshê é a parte lógica para relatar as qualidades de Moshê. De fato, o verso assim o faz ao declarar: "Seus olhos não eram toldados… Jamais houve um profeta como Moshê…" Por que, então, refere-se a um fato que acentua a qualidade especial de Aharon – implica a falha de Moshê – em conexão com o falecimento de Moshê?

Por que, na verdade, Moshê não agiu como Aharon a respeito da conciliação "entre o homem e seu próximo e entre marido e mulher?" Certamente não foi por causa da falta de amor de Moshê pelo seu próximo judeu, pois Moshê é considerado como "um amante do povo judeu".

Na verdade, Moshê não apenas amou o povo judeu, como também completou-lhes com todas as necessidades materiais e espirituais. Moshê ensinou-lhes tudo, e não apenas as leis básicas, como também outras facetas da Torá. Além disso, foi por seu mérito que D'us forneceu maná ao povo durante sua estadia de quarenta anos no deserto e realizou tantas outras maravilhas e milagres.

A razão pela qual Moshê não agiu como Aharon é que seu próprio ser, assim como sua missão na vida, necessitavam de uma forma diferente de conduta no amor ao próximo judeu e ao trazer-lhes paz.

Nossos sábios relatam que Aharon certas vezes "esticou" a verdade para conseguir a paz entre pessoas que estavam em desacordo. A Torá tolera este comportamento quando é a única maneira possível de conciliar; como dizem nossos sábios: "A pessoa pode modificar uma declaração pelo bem da paz."

A própria essência de Moshê, entretanto, era a personificação da verdade. Foi portanto impossível a ele fazer as pazes entre as pessoas se para isso precisasse dizer uma inverdade. Embora tal conduta seja permitida na Torá, ia contra a essência de Moshê – aquela da completa e total honestidade; tal conduta tinha mais a ver com Aharon, que personificava o atributo da bondade. Moshê, "o homem da verdade", trouxe a paz através da verdade.

Como ambas estas formas de conduta estão de acordo com a Torá, deve-se entender que cada uma possui uma qualidade inexistente na outra. O mérito na conduta de Moshê foi que ele não se desviou um milímetro da verdade. O mérito da conduta de Aharon foi sua habilidade de afetar até mesmo um indivíduo tão simples que podia ser atingido apenas pela verdade esticada.

Durante sua existência, Moshê estava totalmente ocupado no serviço a seu modo – serviço divino através do atributo da verdade. Entretanto, no dia de seu falecimento, tendo já completado sua missão neste mundo, estava apto a perceber a especial qualidade do serviço de Aharon – trazer paz a todos os judeus.

Moshê, em seu amor desprendido pelo povo judeu, desejava que agissem em relação ao próximo da melhor maneira possível. Por isso, fez menção à qualidade especial do serviço de Aharon quando escreveu profeticamente na Torá que ele próprio, Moshê, foi pranteado pelos "Filhos de Israel" e não por todos de Israel, pois sua qualidade de pacificador não era tão abrangente como a de Aharon.