Versículo 6:4-5 "Ouve, ó Israel, o Eterno é nosso D’us, o Eterno é Um. E amarás ao Senhor teu D’us…"

O Maguid de Mezeritsh expõe sobre o versículo "E amarás ao Senhor teu D’us": como pode haver um mandamento para amar? O amor é um sentimento do coração: aquele que tem este sentimento, ama. O que pode a pessoa fazer se, D’us não o permita, este amor não estiver embebido em seu coração? Como pode a Torá instruir "e amarás", como se isto fosse uma questão de escolha?

Mas o mandamento na verdade está no versículo prévio, "Ouve, ó Israel." A palavra hebraica Shemá (ouvir) significa também entender. Por isso a Torá está ordenando a pessoa estudar, compreender e refletir sobre a unidade de D’us. Pela natureza da mente e coração humanos e as relações entre eles, isto levará inevitavelmente a um amor ao Todo Poderoso, pois, na essência, a mente governa o coração.

Se alguém contemplar profundamente e ainda não ficar empolgada com amor a D’us, é apenas porque ainda não se purificou suficientemente das coisas que abafam sua capacidade de sentir e relacionar-se com o Divino. Exceto por isso, tal contemplação pela mente sempre resultará em um sentimento de amor…
- Rabi Yossef Yitschac de Lubavitch

No livro Tanya, obra máxima do chassidismo de Chabad, Rabi Schneur Zalman de Liadi declara: "Pela sua própria natureza, a mente governa o coração." Este axioma, conhecido como o alef da Chassidut, é a pedra fundamental da abordagem chassídica de Chabad à vida.

O renomado chassid Rabi Moshê Meisels de Vilna, o mais jovem entre os discípulos de Rabi Schneur Zalman, disse certa vez ao Rabi Eisel de Homel: "O alef da Chassidut salvou-me da morte certa."

Rabi Moshê Meisels, um homem extremamente instruído, era fluente em alemão, russo, polonês e francês. Durante a Campanha de Napoleão na Rússia, serviu como tradutor para o Alto Comando. Rabi Schneur Zalman o encarregara de associar-se com os oficiais militares franceses, para conseguir uma posição no serviço deles, e a transmitir tudo que soubesse aos comandantes do Exército Russo. Em pouco tempo, Rabi Moshê teve sucesso, caindo nas graças dos comandantes chefes do exército de Napoleão, e estava ciente dos seus planos mais secretos. Foi ele, Rabi Moshê, que salvou o arsenal russo em Vilna da sina que se abateu sobre o arsenal em Schvintzian. Ele alertou o comandante russo encarregado, e aqueles que tentaram explodir o arsenal foram apanhados no ato.

"O Alto Comando do Exército Francês estava reunido", relata Reb Moshê, "e debatia calorosamente as manobras e o arranjo dos flancos para a batalha que se aproximava. Com os mapas espalhados no chão, os generais examinavam as estradas e ferrovias, incapazes de chegar a uma decisão. O tempo corria. Amanhã, ou o mais tardar no dia seguinte, a batalha nas redondezas de Vilna teria que começar.

"Ainda estavam debatendo quando a porta abriu-se num repelão. O guarda postado à porta alarmou-se e sacou seu revólver. Tão grande foi o alarido, que todos imaginaram que o inimigo havia irrompido, numa tentativa de capturar o General Shtaub…

"Porém, foi o próprio Napoleão que apareceu à porta. A face do Imperador estava escurecida pela fúria. Irrompeu no aposento e urrou: ‘A batalha foi planejada? As ordens para guarnecer os flancos foram enviadas?

"‘E quem é este estranho?!’ continuou ele, apontando para mim.

Num segundo estava a meu lado. ‘Você é um espião da Rússia,’ trovejou ele, colocando a mão sobre meu peito para sentir o coração galopante de um homem que havia sido descoberto.

Naquele momento o alef da Chassidut protegeu-me. Minha mente comandou meu coração para que não desse sequer uma batida fora do compasso. Numa voz sem emoção, repliquei: Os comandantes de Sua Alteza o Imperador tomaram-me como intérprete, pois conheço os idiomas cruciais para o desempenho de seus deveres…"