Onde está a Grande Sociedade quando precisamos dela? Onde encontraremos aquelas reservas de voluntários, ajuda mútua, boa vizinhança, filantropia e altruísmo sobre os quais teremos de nos apoiar nos anos difíceis que temos à frente?
Uma resposta fascinante acaba de surgir, do outro lado do Atlântico, vinda do sociólogo de Harvard Robert Putnan. Ele ficou famoso há uma década por uma frase que criou para descrever nossa perda de todas aquelas coisas. Ele a chamou de “jogar boliche sozinho”. Mais pessoas, disse ele, estavam indo derrubar os dez pinos do boliche, mas poucas estavam se juntando a times e equipes. Este era o símbolo de nossa cultura, cada vez mais individualista, atomística, preocupada consigo mesma. As coisas que antes fazíamos juntos, agora fazemos sozinhos. Nossos vínculos de amizade – que os sociólogos chaman de “capital social” – estão ficando mais fracos.
Esta foi uma má notícia. Agora, uma década depois, em seu novo livro “American Grace”, Putnan traz as boas novas. Ainda existe um poderoso estoque de capital social. É chamado de religião: as igrejas, sinagogas e outros locais de culto religioso ainda aproximam as pessoas e as fazem compartilhar mútua responsabilidade. A evidência mostra que indivíduos religiosos – que são definidos pela frequência regular a um local de culto religioso – são melhores vizinhos.
Uma extensa pesquisa feita nos Estados Unidos entre 2004 e 2006 mostrou que frequentadores de locais de culto religioso são mais prováveis de doar dinheiro para caridade, seja caridade religiosa ou secular. Também são mais prováveis de fazer trabalho voluntário para uma instituição de caridade, dar dinheiro a um sem-teto, devolver o troco a mais para o funcionário da loja, doar sangue, ajudar um vizinho com trabalho doméstico, passar tempo com alguém que está deprimido, dar passagem a outro motorista que deseja cortar a sua frente, oferecer um assento a um estranho, ou ajudar alguém a encontrar um emprego.
Para alguns atos de ajuda, como cuidar da planta ou do animal de estimação enquanto o dono está ausente, ajudar a carregar os pertences, ou dar informações a um estranho, não houve diferença entre pessoas que vão ou não a locais religiosos. Porém não havia boa ação entre as quinze na pesquisa mais comumente praticadas pelos americanos seculares que pelos seus conterrâneos religiosos. Os americanos religiosos simplesmente são mais propensos a dar seu tempo e dinheiro para outros, não apenas dentro, como também além das próprias comunidades.
No entanto, o altruísmo deles vai além disto. Frequentadores regulares também são cidadãos significativamente mais ativos. Estão mais propensos a pertencer a organizações comunitárias, especialmente aquelas preocupadas com jovens, saúde, artes e lazer, grupos cívicos e de vizinhança, associações fraternas e profissionais. Dentro dessas organizações eles têm mais chance de serem funcionários ou membros de comitês. Desempenham um papel mais ativo na vida cívica e política local, desde eleições até encontros e demonstrações. Esto representados em maior número entre os ativistas para reforma social e política. Envolvem-se, transformam e lideram. E a margem de diferença entre eles e os mais seculares é grande.
Testada em atitudes, a religiosidade medida pela frequência a igrejas ou sinagogas acaba sendo a melhor previsora de altruísmo e empatia: melhor que a educação, idade, renda, gênero ou raça. Com base na satisfação de vida que reportam, as pessoas religiosas também são mais felizes que as não-religiosas.
Talvez a descoberta mais interessante seja que cada um desses atributos esteja relacionado não às crenças religiosas das pessoas, mas à frequência com que vão ao local de culto. A religião cria comunidade, a comunidade cria altruísmo, e o altruísmo nos afasta do egoísmo e nos leva ao bem comum. Putnan chega a ponto de especular que um ateu que ia freqüentemente à igreja (talvez por causa do cônjuge) teria mais probabilidade de ser voluntário numa cozinha de sopa que uma pessoa religiosa que reza sozinha. Existe algo sobre a substância dos relacionamentos dentro de uma comunidade religiosa que faz dela a melhor guia em cidadania e boa vizinhança.
Essa é uma pesquisa pioneira feita por um dos maiores sociólogos do mundo, e confirma aquilo que vejo toda semana em minhas viagens pelo Reino Unido. Ao redor das nossas sinagogas encontro redes de apoio muitas vezes impressionantes em sua força e beleza moral. Há pessoas que visitam os doentes, confortam os enlutados, ajudam indivíduos através de crises pessoais, apoiam aqueles em necessidade financeira, ajudando pessoas que perderam o emprego, cuidando dos idosos, e provando diariamente que nossos problemas sai divididos e nossas alegrias multiplicadas quando são compartilhados com outros.
As religiões constróem comunidades fortes. Vamos precisar de seu capital social se quisermos criar uma grande sociedade.
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