Numa noite de sexta-feira a conversa à mesa voltou-se para as velas do Shabat, cujo acendimento é em si mesmo uma linda maneira de recepcionar o sagrado dia de descanso. Acender uma vela é um ato rico em simbolismo.

Há ações que fazemos totalmente para nós mesmos, e outras que podem ser completamente altruístas. Criar luz, no entanto, desafia estas limitações. Eu posso acender uma vela para mim mesmo, mas eu não posso conter a luz, não posso impedí-la de sua caracterísitica de iluminar o aposento para outros. Se eu criar luz para o benefício de outro, eu também posso enxergar melhor.

Que maneira melhor de começar o Shabat, o passo final na criação do universo e seu supremo objetivo, do que acendendo as velas, um ato que simbolicamente conecta os habitantes do mundo. Nenhum de nós pode ser uma ilha; aquilo que eu faço afeta você, e aquilo que você faz tem efeitos sobre mim. Se pudéssemos entender isso, poderíamos compreender bem porque o acendimento de velas é mencionado pelos nossos sábios como essencial para a paz na família. A dissenssão pode ocorrer somente quando as pessoas acreditam que são separadas e distintas e pode cada qual seguir seu caminho em particular, intocado pelo outro.

Um convidado nosso para o Shabat perguntou por que havia seis velas acesas em nossa mesa, ao invés das costumeiras duas.

Uma das luzes que mamãe acendia toda sexta-feira à noite era para mim. Eu disse a ele que era tradicional para muitas famílias começar acendendo duas velas após o casamento, e acrescentar uma para cada filho. Uma das luzes que minha mãe acendia toda sexta-feira à noite era para mim. Lembro- me do quanto isso significava quando criança, quando eu costumava olhar as chamas tremulando e achava que a casa, ou melhor, o mundo, era um lugar mais iluminado por causa da minha existência.

O total impacto dessa mensagem não me ocorreu senão muitos anos mais tarde, quando ficou evidente como psiquiatra que incontáveis pessoas têm problemas emocionais e variados sintomas psicológicos por causa de sentimentos de inadequação profundamente enraizados.

Há numerosas razões pelas quais as pessoas têm sentimentos injustificados de inferioridade, e este não é o lugar para me estender sobre isso. Basta dizer que nada que possa ser feito para agir contra essas influências contribuiu para melhorar o senso de adequação e integridade de uma pessoa, e permitir um ajuste mais satisfatório à vida.

As comunicações não-verbais são freqüentemente mais impressionates que as verbais. A mensagem semanal a um filho, transmitida no início do Shabat, de que o fato de ele estar ali traz um brilho extra ao lar, pode ser um ingrediente poderoso para o desenvolvimento da personalidade da pessoa.