Lá estava eu ontem, lendo a última série de indiscrições sobre pessoas famosas. Desta vez elas vinham de um advogado, já falecido, que ficou famoso certa vez por aconselhar os grandes e importantes sobre como ficar longe da imprensa. Bem, ele foi tolo o suficiente para contar a um amigo o que pensava sobre algumas das pessoas envolvidas, e aquele amigo vendeu a história aos jornais.
Ainda existe algo que seja privado?
Provavelmente não, a julgar pelo assombroso número de confissões e revelações de escândalos nos anos recentes. Woody Allen brincou certa vez: "Eles me expulsaram por trapacear no meu exame de metafísica. Fui apanhado olhando para dentro da alma de alguém." Hoje, olhar dentro da vida pessoal de alguém tornou-se nossa diversão favorita.
Lembro-me de certa vez sentar-me num jantar junto a um famoso acadêmico, a quem eu pedira para ser juiz num esquema de premiação. A cerimônia estava para acontecer na semana seguinte. Aconteça o que acontecer, eu disse a ele – não conte a ninguém quem é o vencedor. Ninguém deve saber antes da hora. Para minha surpresa, ele proclamou numa voz bastante alta o nome do vencedor. Então eu disse: "Mas isso deveria ser um segredo."
E ele: "Eu uso o sistema Oxford de guardar segredos."
"O que é isso? perguntei.
Ele replicou: "Contar somente a uma pessoa de cada vez."
Felizmente, naquela ocasião, não houve dano algum. Mas nem sempre é isso o que ocorre. A fofoca prejudica até a reputação dos mortos. E coloca em risco os relacionamentos entre os vivos. A discrição é para a fala aquilo que as roupas são para o corpo. Nudez demais termina por nos tornar odiosos uns aos outros.
Evidentemente, há verdades que precisamos saber; informação que é errado esconder; segredos que deveriam ser expostos. Mas não tudo, como naquele caso. Não à toa, como ensinou a Torá: "Não andarás com mexericos entre o teu povo" (Vayicrá 19:16). Aquelas virtudes há muito perdidas da reticência e respeito às confidências nasceram de um desejo de proteger as pessoas e as reputações. Eles jogam um véu sobre os aspectos menos agradáveis da personalidade humana. Um mundo no qual as pessoas geralmente pensam bem umas das outras é melhor que um mundo no qual suspeitamos que cada justo é na verdade um pecador. Uma sociedade crítica é aquela que perdeu a capacidade de admirar.
Nem tudo que ouvimos devemos contar, e nem tudo que sabemos devemos vender. Se não for assim, descobriremos que construímos um mundo sem amizade, lealdade e confiança; e que não podem existir boas novas a longo prazo.
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