Após Moshê concluir suas bênçãos, ele disse ao povo: "Estou para morrer. Causei muitos sofrimentos a vocês ao admoestá-los pelo mérito da Torá e mitsvot. Perdoem-me agora!"
Eles responderam: "Nosso Rebe e mestre, eles estão perdoados. Agora nos perdoe; muitas vezes o enfurecemos e lhe causamos problemas."
"Eu os perdôo" – respondeu Moshê.
D’us disse a Moshê: "Não espere mais. Suba ao Monte Nevo!"
Moshê obedeceu imediatamente. Havia doze passos levando ao topo do monte, mas Moshê galgou-os todos de um só salto (tão ansioso estava ele para cumprir a vontade de D’us). Sua força à idade de cento e vinte anos ainda era a mesma da juventude.
De pé no topo da montanha, Moshê contemplou Erets Yisrael. D’us, assim, concedeu seu desejo de ver a Terra. Ali Moshê daria suas bênçãos sobre ela, tornando a conquista mais fácil para Benê Yisrael.
O Todo Poderoso deixou Moshê ver lugares onde seu sucessor, Yehoshua, jamais pisaria. Em especial, D’us mostrou-lhe os pontos de futuro perigo ou infelicidade, fazendo Moshê chorar pela segurança e bem-estar de seu povo.
Moshê, além disso, viu a futura história de Benê Yisrael até a era de Mashiach: viu Yehoshua lutando contra os trinta e um reis de Erets Canaan; a era dos juízes; o reinado da Casa de David; e o Rei Shelomô preparando os vasos para o Bet Hamicdash. Ele anteviu até a guerra pré-messiânica de Gog e Magog, e a queda de Gog. Na hora de sua morte Moshê recebeu também um pedido que antes lhe fora negado: Quando Moshê pediu a D’us: "Por favor, revela-me Tuas maneiras de manipular os assuntos do mundo", o Todo Poderoso respondeu: "Nenhum homem pode Me ver e viver!"
Antes de sua morte, porém, foi concedido aquele entendimento a Moshê. Assim, ele finalmente atingiu o quinto e último ‘estágio de sabedoria’. Por ocasião da morte de Moshê, D’us queria demonstrar a grandeza de Moshê às hostes Celestiais. Portanto, Ele chamou o anjo Gavriel e lhe ordenou: "Vai e traz para Mim a alma de Moshê!"
"Mestre do universo, como posso causar a morte de um ser humano que é igual a 600.000 judeus?"
"Então vai você" – ordenou D’us a Michael.
"Não suporto vê-lo morrer" – respondeu Michael. "Eu costumava ser seu Rebe. (Michael é o Anjo da Misericórdia, que ensinou Moshê a defender os judeus.)
O Todo Poderoso então voltou-se a Samael (que é Satã): "Vai e traga para Mim a alma de Moshê!"
Samael pegou sua espada (o espírito de tum’á com o qual ele esperava derrotar a kedushá de Moshê) e voou até Moshê.
Encontrou Moshê escrevendo o Nome de Quatro Letras de D’us num Sefer Torá ainda incompleto. O rosto de Moshê irradiava como o sol, e ele se assemelhava a um dos anjos. Samael ficou com medo de Moshê. "Nenhum anjo pode tirar a alma de Moshê" – pensou ele. Começou a tremer e foi incapaz de pronunciar uma só palavra a Moshê. Moshê, porém, percebera a presença de Samael antes mesmo que o anjo se revelasse.
"Seu perverso, o que está fazendo aqui?" Moshê perguntou severamente.
Samael então reuniu coragem e respondeu: "Vim para levar sua alma!"
"Quem o enviou?"
"Aquele que criou tudo" – respondeu Samael.
"Ele certamente não queria que você levasse minha alma (mas ao contrário, Ele deseja que eu o derrote)" disse Moshê.
"Eu levo as almas de todos os seres humanos" – insistiu Samael. "esta é a lei natural do universo."
"Porém não estou sujeito às leis da natureza" – insistiu Moshê. "Sou filho de Amram. Sou sagrado desde o nascimento, pois nasci circuncidado e portanto não precisei de milá. Pude andar e falar desde o dia do meu nascimento (como Adam, antes de pecar).
"Quando eu tinha três meses de idade, profetizei que eu receberia a Torá. (Por este motivo Moshê recusou-se a beber o leite de uma mulher egípcia quando a filha do faraó o encontrou.) Quando criança, no palácio do faraó, eu tirei a coroa de sua cabeça (um prenúncio da futura queda do faraó).
Aos oito anos de idade, D’us usou-me para fazer muitos milagres no Egito, e tirei 600.000 judeus em plena luz do dia sob os olhos dos egípcios. Abri o Mar em doze partes. Transformei água amarga em água doce (no local Mara no deserto). Estive no céu, discuti com anjos que não queriam a Torá outorgada, recebi a Torá de fogo, e fiquei perto do Trono Celestial para conversar com o Todo Poderoso face a face. Trouxe a Torá e os segredos dos anjos para a humanidade. Lutei contra os poderosos gigantes Sichon e Og, que tinham sobrevivido ao Dilúvio. Fiz o sol e a lua ficarem imóveis durante a batalha, e eu mesmo matei Sichon e Og. Quem mais, na humanidade, pode fazer tudo isso? (Portanto, a lei natural que permite a você tirar a lama de um homem não se aplica a mim.)"
Samael voou de volta a D’us, reconhecendo a derrota.
D’us então investiu-o de maior força, e ordenou que voltasse a Moshê. (D’us desejava que Moshê atingisse uma vitória ainda maior sobre o Satã). Samael pairou sobre a cabeça de Moshê e tirou a espada da bainha. Moshê golpeou o anjo com toda sua força, com o bastão onde estava gravado o nome de D’us. Samael fugiu. Moshê dominou-o e cegou-o com os Raios da Glória que brotavam de sua face.Uma Voz Celestial proclamou: "A hora de sua morte chegou!"
"Por favor, não me entregue ao Anjo da Morte" – Moshê suplicou a D’us. Lembre-Se de como eu O servi na minha juventude, quando Você Se revelou para mim na moita, e quando fiquei em Har Sinai durante quarenta dias e noites e me esforcei para aprender a Torá!"
"Não tenha medo" – declarou a Voz Celestial. "Eu mesmo cuidarei de você."
Moshê levantou-se e preparou-se para morrer, santificando-se como um dos anjos.
D’us desceu com os anjos Michael, Gavriel e Zagzagael.
Michael preparou o leito para Moshê; Gavriel estendeu uma coberta de linho para sua cabeça; e Zagzagael outro pano para seus pés.
O Todo Poderoso falou: "Moshê, feche os olhos."
Moshê assim o fez.
"Coloque as mãos sobre o peito" – ordenou o Todo Poderoso.
Moshê obedeceu.
"Junte seus pés" – ordenou Ele.
Moshê obedeceu.
D’us chamou a alma de Moshê.
"Minha filha" – dirigiu-se Ele à alma – "planejei que você permanecesse no corpo de Moshê por 120 anos. Agora deve sair; não demore."
A alma respondeu: "Mestre do Universo, existe um corpo mais puro que o de Moshê? Portanto, eu o amo e não quero deixá-lo."
"Eu a guardarei sob Meu Trono Celestial de Glória com os anjos" – prometeu D’us.
"É melhor para mim permanecer no corpo de Moshê que misturar-me com os anjos" – protestou a alma. "Ele é tão puro quanto um anjo, embora viva na terra; por outro lado, Você certa vez permitiu que dois anjos, Uza e Azael, morassem entre os homens, e eles se corromperam. Moshê não vive com a mulher desde o dia em que Você falou com ele da sarça ardente (segundo uma opinião. Segundo outras, desde matan Torá). Por favor, deixe-me no corpo de Moshê!"
Após ouvir a alma atestar sobre a pureza do corpo de Moshê, D’us – por assim dizer – beijou Moshê. A alma sentiu o inigualável prazer da Divina Presença (que era maior que o prazer que ela derivava do corpo de Moshê) e retornou para D’us.
Moshê é pranteado no Céu e na terra, e é sepultado pelo Próprio Todo Poderoso.
Os céus choraram, dizendo: "O homem piedoso pereceu na terra" (Michá 7:2). A terra chorou, pranteando "… e o justo entre os homens não é mais" (ibid.).
Os anjos o elogiaram: "Ele executou a justiça de D’us e Suas leis com Yisrael" (Devarim 33:21).
Uma Voz Celestial proclamou: "Moshê, o grande escriba de Yisrael (que escreveu a Torá para eles) morreu."
A Voz ainda o elogiou:
"Moshê trabalhou e adquiriu quatro coroas:
- A coroa da Torá, que ele trouxe à terra;
- A coroa da kehuna (quando ele oficiou como Sumo Sacerdote durante a inauguração do Mishcan);
- A coroa da realeza;
- A coroa de um bom nome, que ele conquistou com suas boas ações."
Moshê morreu sobre o Monte Nevo, na porção de Reuven, mas os anjos o carregaram por quatro mil até a porção de Gad, onde ele estava destinado a ser sepultado.
Quando o aluno de Moshê, Yehoshua, soube da morte de Moshê, pranteou: "Meu pai, meu pai, meu mestre, meu mestre! Meu pai, porque você me criou; e meu mestre, que me ensinou Torá desde minha juventude."
Ele continuou a chorar até que D’us finalmente o reprovou: "Você é o único que perdeu Moshê? Eu, por assim dizer, também o perdi. Quem mais se erguerá para repreender os judeus por Mim, e para defendê-los como ele sempre fez? (Não é adequado exprimir sua dor privada; ao contrário, pranteie pela perda do grande líder do povo judeu.)
Um rei era provocado diariamente pela má conduta do filho. Estava sempre prestes a executar o rapaz pela sua falta de respeito, mas a mãe do príncipe sempre intervinha e aplacava o marido.
Quando a rainha morreu, o rei ficou excessivamente choroso. Ele explicou aos nobres: "Choro não somente por ela, mas pelo futuro do príncipe."
Assim D’us explicou aos anjos: "A perda de Moshê poderia ter conseqüências trágicas para K’lal Yisrael. Muitas vezes Eu fiquei irado com o povo judeu, mas Moshê sempre implorava por eles e assim acalmava Minha ira."
O Próprio D’us enterrou Moshê nas planícies de Moav, perto de Bait Peor.
Por que Moshê mereceu a grande honra de ser enterrado pelo Próprio Todo Poderoso?
Antes de Benê Yisrael deixar o Egito, Moshê procurou o caixão de Yossef durante três dias e três noites, para cumprir a antiga promessa feita a Yossef, de enterrar seus ossos em Erets Yisrael.
Quando todos os judeus se reuniram para o Êxodo, cada qual carregado com o ouro e prata egípcio, Moshê foi visto carregando apenas o caixão sobre os ombros. Ele foi o homem sábio que aproveitou a oportunidade para cumprir uma mitsvá.
D’us disse: "O que você fez pode parecer insignificante para você, mas aos Meus olhos foi uma grande bondade. Yossef foi obrigado a enterrar seu pai em Erets Yisrael porque ele era um filho. Mas você não é filho nem neto de Yossef, e não estava obrigado a cuidar de seu corpo. Mesmo assim, você o fez. Eu, que não tenho qualquer obrigação com um ser humano, o enterrarei."
Moshê faleceu em 7 de Adar, a data de seu nascimento, com cento e vinte anos. Mesmo depois de seu falecimento, seu corpo não se decompôs (devido à sua grande santidade).
A Nuvem de Glória não se afastou de cima do Mishcan durante trinta dias depois da morte de Moshê. Assim, Benê Yisrael permaneceu nas planícies de Moav para pranteá-lo.
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