"Peguem para vocês homens sábios, compreensivos e instruídos… e Eu os colocarei na sua cabeça". - Versículo 1:13

A palavra va’assimem, "e eu os colocarei", está escrita na Torá faltando a letra yud, e assim a palavra pode também ser lida como vaashomom, e "sua culpa". Isto é para nos ensinar que as faltas de uma geração caem sobre sua cabeça e sobre seus líderes. - Comentário do Rashi

Cura a Ti Mesmo

Durante uma de suas viagens, Rabi DovBer de Lubavitch parou num albergue próximo à cidade de Samargon. Era verão, o clima estava agradável, e o Rebe decidiu permanecer por uma semana. Quando a decisão de Rabi DovBer tornou-se conhecida, muitas pessoas da área de Samargon dirigiram-se ao albergue, desejando ser recebidos pelo Rebe e consultá-lo. O Rebe começou a receber cada um em turnos, na sua audiência privada conhecida como yechidut.

Poucos dias mais tarde, enquanto centenas de pessoas lotavam o pátio esperando para ser recebidas, o Rebe subitamente parou a yechidut e trancou sua porta.

Seus chassidim assumiram que os visitantes em excesso dos últimos dias haviam cansado o Rebe, e que ele havia feito uma breve pausa para recuperar suas forças. Porém após meia hora o secretário do Rebe, Reb Zalman, saiu da sala do Rebe muito abalado, os olhos vermelhos de tanto chorar. Murmurou umas poucas palavras aos ouvidos do líder dos chassidim que haviam acompanhado Rabi DovBer na sua viagem. Estes chassidim também ficaram muito alarmados, as faces vermelhas empalidecendo, e uma onda de horror perpassou pela multidão. Ninguém tinha uma idéia do que poderia ter acontecido.

Uma hora ou duas mais tarde, muitos dos chassidim mais velhos entraram na casa e escutaram à porta da sala do Rebe. Ouviram-no abrir a alma, soluçando e recitando capítulos dos Salmos vindos das profundezas do seu santo coração. Alguns deles desmaiaram de desgosto. Ninguém tinha uma noção sobre o que poderia ter ocasionado ao Rebe, em meio a um dia comum da semana, a interromper a yechidut e se envolver em preces tão angustiantes. Logo as tristes notícias tornaram-se conhecidas da multidão ansiosa, que formou grupos e começou chorosamente a recitar os Salmos.

Quando o Rebe terminou de recitar os Salmos, começou a preparar-se para as preces da tarde. Porém, estava tão enfraquecido por causa de seus esforços anteriores que precisou antes recostar-se na cama por uma hora para recobrar as forças. Rezou então, do modo costumeiro durante os Dez Dias de Arrependimento.

Após a reza, o Rebe saiu ao pátio, sentou-se na plataforma que havia sido preparada para ele, e proferiu um longo discurso sobre o versículo "Muro da filha de Sion, deixe cair uma lágrima como um regato." O Rebe falou sobre como as lágrimas purificam o coração de palavras e pensamentos nocivos, e se alongou sobre o mérito de dizer palavras de Torá e os Salmos. O discurso tocou profundamente a audiência, e reverberou por toda a comunidade chassídica de Chabad. Anos depois, os chassidim ainda se recordavam daquele dia.

No dia seguinte, o Rebe estava tão fraco que ficou recolhido ao leito, mas no outro dia voltou a receber as pessoas como normalmente fazia. Ninguém sabia ainda o que havia aborrecido tanto o Rebe, e causado sua prece e discurso ardentes.

Rabi Pinchas de Sheklov, que tinha acompanhado o Rebe nesta viagem, estava entre os chassidim mais destacados, ainda do tempo do pai do Rebe, Rabi Schneur Zalman de Liadi. Poucos dias mais tarde, Rabi Pinchas perguntou-lhe o que tinha acontecido.

Uma grande tristeza desceu sobre o semblante de Rabi DovBer. Disse então: "Quando um chassid entra em yechidut, revela-me os males mais íntimos de sua alma, cada um em seu próprio nível, e busca minha ajuda para curar suas moléstias espirituais. Para ajudá-lo, devo primeiro achar a mesma falha – estar na mais sutil das formas – dentro de mim mesmo, e lutar para corrigí-lo. Pois não é possível dirigir alguém a purificar e aperfeiçoar seu caráter, a menos que eu próprio tenha vivenciado o mesmo problema, e passado pelo mesmo processo de auto-refinamento.

"Naquele dia," continuou o Rebe, "alguém veio a mim com um problema. Horrorizei-me ao ver a que profundezas ele tinha caído, D’us me livre. Embora tentando muito, não pude achar dentro de mim nada remotamente parecido com o que ele me contara. Mas este homem tinha vindo a mim, então eu sabia que, de alguma forma, em algum lugar, havia algo em mim que eu poderia relacionar com esta situação.

"E então ocorreu-me que devia ser algo tão profundamente entranhado em mim que estava além de meu alcance consciente. O pensamento agitou até a essência de meu ser, fazendo com que me arrependesse e voltasse para D’us, das profundezas de meu coração."