Traduzido para o inglês por Rabi Yehoshua Metzinger do Sefer HaMaamarim do Lubavitcher Rebbe, 5734-5735, p. 189 Para o português por Moishe (a.k.a. Maurício) Klajnberg

O mês hebraico de Av é frequentemente considerado um mês de tragédia, já que foi no dia 9 de Av que o Templo Sagrado foi destruído, assim como outros desastres. Entretanto, em Av, nós temos a oportunidade de focalizarmos não somente na destruição do Templo Sagrado, mas na época em que ele será reconstruído. Está escrito sobre a Redenção que “Tzyión será redimida no julgamento por aqueles que retornarem com retidão, e os cativos serão libertados do cativeiro” (Yeshayahu 1:27). Dentre as várias dádivas dadas ao Povo Judeu estão as duas heranças mencionadas neste versículo; primeiro, o poder de buscar a retidão e fazer julgamentos, e, segundo, a capacidade de praticar atos de bondade e misericórdia. Estas parecem ser qualidades opostas, mas, de acordo com a Chassidut, elas estão intimamente ligadas.

Através do arrependimento, os julgamentos severos podem ser oportunidades de nos elevarmos a níveis espirituais ainda maiores.

Os aspectos de bondade com amor (chessed) e da misericórdia podem descer até nós através da busca da retidão e dos julgamentos. Por exemplo, somente quando alguém faz um julgamento honesto de seu próprio caráter e comportamento, ele é capaz de mostrar a verdadeira bondade, caso contrário, lhe faltará a consciência necessária para a verdadeira chessed. A dedicação à Torá também é chamada mishpat, ou “julgamento”, e estudar a Torá também traz chessed ao mundo. Nós também podemos ver claramente como a misericórdia é trazida ao mundo através da retidão quando se entende que os 13 Atributos de Misericórdia, revelados em Yom Kipur, são o auge dos Dez Dias de Arrependimento e do julgamento iniciado em Rosh Hashaná.

Estes 13 Atributos de Misericórdia chegam no final do julgamento, o meio pelo qual a misericórdia nos alcança. Acima deste nível de misericórdia está a Chessed Suprema revelada em Sucot, a época em que culminam tanto os Dez Dias de Arrependimento quanto o julgamento completado em Yom Kipur. A Chessed Suprema será trazida ao mundo por “aqueles que retornarem com retidão” e, quando “os cativos forem libertados do cativeiro”, a descida extrema do exílio será transformada na maior subida através da bondade com amor e da misericórdia de D’us.

Da mesma forma, no Livro de Eicha (Lamentações) lido em Tishá BeAv, nós podemos ver como o julgamento é transformado em redenção. Por exemplo, um versículo em Eicha – “D’us, em sua ira, envergonhou merecidamente a Tzyión” – soa como estivesse se referindo a uma dura punição. A palavra hebraica para “envergonhar”, yaiv, traz à mente uma espessa nuvem de energia negativa. Nuvens também estão associadas com a palavra av, já que espessas nuvens de chuva são chamadas avim. Nuvens espessas também representam kelipá, ocultação da Divindade.

Entretanto, nuvens também têm associações positivas, assim como as maldições em Vayikra e Devarim têm o potencial de se tornarem bênçãos. Moshê não podia entrar no Santuário porque uma nuvem se assentava em cima dele. No dia em que a Torá foi dada, havia tanta fumaça e tantas nuvens que o Povo Judeu não podia se aproximar da montanha.

Em um versículo, o voo dos anjos é comparado a nuvens espessas no céu. Mi elê (“Quem são eles”) é dito em conexão com os anjos. Mi, ou “quem”, expressa o aspecto de ocultação; elê, ou “eles”, expressa revelação. A conexão entre os dois conceitos opostos vem de um nível mais elevado do que eles dois, mas a ideia básica é a de que as nuvens funcionam como uma ocultação que será finalmente retirada na época da revelação.

As nuvens funcionam como uma ocultação que será finalmente retirada na época da revelação.

Também existe uma conexão entre as palavras yaiv e eicha, o título hebraico para o Livro das Lamentações, que expressa o potencial para a redenção através do arrependimento progressivo. Eicha é soletrado com as letras hebraicas alef e yud, e kaf e hei. O yud de Eicha corresponde ao número 10 (já que 10 é seu valor numérico), como nos Dez Mandamentos. Neste nível, os Dez Mandamentos estão gravados de dentro para fora, já que o aspecto externo dos Dez Mandamentos é revelado no mundo físico, e o aspecto interno é revelado nos mundos superiores. O yud também está associado com as dez sefirot e à forma com que elas estão enraizadas na Luz Infinita de D’us. O alef (com um valor numérico de 1) da palavra Eicha está acima das dez sefirot e é parte da essência de D’us. Kaf expressa a qualidade de majestade.

Como estão conectados todos estes elementos representados pelas letras?

A combinação do alef-yud e do kaf-hei estão conectados através de yaiv, a nuvem espessa, e av. Mesmo que yaiv e av estejam associados com a descida e a kelipa, a ocultação tem um importante papel. Tzyión teve de descer para poder se revestir na kelipa como um primeiro passo em direção ao arrependimento. É somente através deste processo que os elementos inferiores podem ser refinados. Av, por exemplo, representa um pecado feito intencionalmente. Quando o av é elevado através do arrependimento, os pecados são transformados em méritos. Arrependimento também equilibra a guevurá (“severidade”) no versículo, “D’us, em sua ira, envergonhou merecidamente (yaiv) a Tzyión”, porque o arrependimento adoça o aspecto da justiça severa e suaviza a ira.

Através de Eicha (“Lamentações”) nós podemos ver os duros julgamentos como oportunidades para nos elevarmos a níveis espirituais mais altos através do arrependimento. Um versículo diz: “D’us humilhou do Céu para a Terra a majestade de Israel”. De acordo com Rashi, isto foi feito repentinamente e de uma forma extrema, diminuindo do nível mais alto para o mais baixo. A Chassidut explica que a vantagem desta descida rápida e extrema foi que ela trouxe o serviço do arrependimento ao mundo mais inferior, o mundo da ação (Assiyá), onde ele pode estar disponível para todos, mesmo para aqueles a quem parece faltar esperança. O fervor do retorno pode refletir a severidade da queda, com uma rapidez surpreendente em vez de meramente passo a passo.