O Beit Hamicdash tinha duas qualidades opostas – espaço e não-espaço – ao mesmo tempo. Nossos Sábios declaram que “o local da Arca não fazia parte das medidas do Santo dos Santos”.

O Santo dos Santos media vinte cúbitos quadrados, e a Arca em si, que ficava no centro do Santo dos Santos, media 2 ½ cúbitos por 1 ½ cúbito. No entanto, fosse qual fosse a maneira que alguém a medisse, a distância entre a parede da Arca e a parede do Santo dos Santos era de 10 cúbitos.

Essa maravilha ocorria no Beit Hamicdash porque o Templo estava no nível espiritual do Mundo Vindouro, quando o espaço será transcendido, pois a existência do mundo material será então vista como realmente é – um fluxo externo da Luz Divina dentro dele.
(Sefer HaMaamarim 5643, pág. 103)

O Serviço do Homem e a Revelação da Shechiná

Duas coisas principais ficaram conhecidas como resultado da Akeidah (Amarração) de Yitschak sobre o altar, como é explicado por Maimônides em seu Guia (III, cap. 24):

A primeira está ligada ao serviço do homem. Pela sua disposição em cumprir a vontade de D'us, Avraham nos ensina a que ponto podem chegar o amor e reverência a D'us.

A segunda envolve a revelação da Shechiná – A Presença Divina.

A Akeidah prova a verdade da profecia, pois Avraham foi ordenado numa visão profética a sacrificar seu filho. Se ele tivesse a menor sombra de dúvida sobre a verdade de sua experiência profética, não teria encontrado em sua alma a força para cumprir este ato enorme.

Ora, a Akeidah ocorreu no lugar sobre o qual o Beit Hamicdash mais tarde seria construído. Os dois aspectos acima mencionados são semelhantes às duas formas básicas de serviço encontradas no Beit Hamicdash – o serviço do povo judeu através das oferendas, e a revelação da Divina Presença no Templo.
(Likutei Sichot vol. 30, ag. 73)

Dentro de Todo e Cada Um

Quando o Eterno, bendito seja, nos ordenou “Façam para Mim um Micdash, e Eu habitarei dentre eles” (Shemot 25:8), o resultado foi a construção no coração de todo judeu presente, e também no coração de todo judeu que nasceria no futuro, de um Beit Hamicdash microcósmico.

Quando um judeu entrava no Templo, então o Beit Hamicdash macrocósmico era refletido e revelado no Beit Hamicdash microcósmico.
(Sefer Hasichot 5696 pág. 297)

A Diferença entre o Mishcan e o Beit Hamicdash

O Mishcan (Tabernáculo) foi construído com materiais provenientes dos reinos animal, vegetal e inanimado. A tenda externa foi feita de peles de animais, as estacas que formavam as paredes eram feitas de madeira, e os soquetes de prata nos quais as vigas de madeira eram colocadas, bem como o piso de terra, eram de matéria inanimada.

O Beit Hamicdash (o Templo), porém, era feito quase exclusivamente de matéria inanimada – pedra e terra.

A explicação é a seguinte: o Mishcan eram uma morada temporária para a Presença Divina neste mundo. Portanto, refletia a estrutura da ordem física – a cadeia do ser do mais alto ao mais baixo; do animal ao vegetal, então para objetos inanimados.

O Beit Hamicdash, em contraste, era uma morada permanente para a Presença Divina neste mundo. Portanto reflete a estrutura do ser no Mundo Vindouro, quando a espiritualidade do inanimado vai superar aquela do reino vegetal e do animal.
(Torah Or, Bereshit, pág. 43c)

Não É Um Lugar Comum

Sobre a localização do Beit Hamicdash, Yaakov Avinu comentou: “D'us (Havaye) certamente está neste lugar, e eu não sabia disso.” (Bereshit 28:16-17)

Onkelos traduz as palavras: “Quão impressionante é este local” em aramaico como: Este não é um lugar comum”.

O mundo terreno em geral pode ser considerado como “um lugar comum” porque foi criado através dos Dez Pronunciamentos. No entanto, o local onde ficava o Beit Hamicdash não pode ser considerado como uma faixa comum de terra, contígua a, e comparável, ao restante da criação. O mundo foi criado através dos Dez Pronunciamentos, e cada um deles começa com as palavras: “E Elokim disse…” O Nome Elokim significa uma restrição da Divindade, resultando na multiplicidade da criação. Este Nome portanto é igual em valor numérico à palavra hatevah – natureza.

A área sobre a qual o Beit Hamicdash ficava, porém, está associada com o Nome Inefável, o Tetragrama (conhecido como Havaye na terminologia chassídica), como disse Yaakov: “D'us (Havaye) certamente está neste local.”
(Kuntres Shabat Nachamu, 5750)

Um Mundo Diferente

Dentro do Beit Hamicdash, era possível sentir e reconhecer a Divindade de maneira visível, como declaram nossos Sábios : “Ia-se para ver [D'us] e para ser visto [por D'us].”

Como resultado, o Beit Hamicdash estava num plano completamente diferente de existência. Quem entrasse no Beit Hamicdash sentia a Divindade como algo que era auto-evidente, não como algo que se tinha de procurar. Além disso, a pessoa não sentia a própria existência.
(B’sha’ah Shehikdimu 5672, pág. 935)